Jornalistas brasileiros são mantidos reféns pelo Hezbollah

Gaúcho Tariq Saleh, que há dois anos atua de Beirute, está entre os profissionais detidos pela organização

18/08/2008 19:20

"Não foi minha primeira vez, tampouco será a última. Mas foi uma amostra mais real do que as experiências anteriores, de como o Hezbollah, uma mistura de partido político, milícia e assistência social, possui uma mão sobre o Líbano que se sobressai à do governo", resumiu o jornalista gaúcho Tariq Saleh, que há dois anos atua em Beirute e esteve entre os reféns presos na última sexta-feira, 15, pelo Hezbollah. Ele e a equipe da TV Globo, formada pelo repórter Marcos Losekann e o cinegrafista Paulo Pimentel, foram detidos por mais de cinco horas. Em entrevista à Coletiva.net, Tariq explicou que a imprensa não repercutiu o fato durante o final de semana porque a prisão só foi divulgada por eles nesta segunda-feira, 18, através de post que publicou em seu blog

Tariq conta que o grupo estava no subúrbio ao sul de Beirute para uma reportagem sobre um restaurante, na área que é um dos redutos do Hezbollah no país. Mesmo com vistos legais e credenciais do Ministério de Informação libanês, a equipe solicitou permissão do escritório de imprensa do Hezbollah. "Obviamente que uma área tão militarizada e estratégica ao grupo xiita não será um convite a jornalistas, especialmente estrangeiros. O grupo tem direito de garantir sua segurança em prédios e áreas suas, mas não em propriedades privadas. Por isso imaginávamos que não seria problema a autorização", explica.

O jornalista afirma que as permissões costumam sair na mesma hora, mas esta foi negada à equipe. "Com a nossa conclusão de que a filmagem e entrevista se dariam dentro do restaurante, uma propriedade privada, decidimos seguir adiante. As tomadas externas seriam rápidas. Afinal, tínhamos permissão do governo, o governo libanês", explicou Tariq. Mas em menos de 20 minutos os profissionais foram presos, tendo passaportes, agendas, relógios, celulares, câmera fotográfica e outros equipamentos confiscados. Em seguida, foram levados para um prédio, sem que pudessem ver o trajeto. 

Após diversos questionamentos, a organização pediu a Tariq a senha de seu e-mail e devolveu sua câmera fotográfica sem o chip, que continha apenas fotos pessoais. "Desde que fomos detidos, o grupo violou vários direitos humanos e regras de imprensa", reclama o jornalista. "O Consulado mandou relatório hoje para o Itamaraty, que já cobrou explicações do governo libanês", acrescentou.

Tariq Saleh é jornalista brasileiro e correspondente para a BBC em Beirute, cobrindo Oriente Médio e África. É colaborador da Folha de S.Paulo e revistas brasileiras e estrangeiras e também produtor freelancer de TV na região.