14 livros

Arnold Samuelson tinha 22 anos e sonhava em ser escritor. Na primavera de 1934, ele viajou de carona desde Minnesota até a Florida para …

30/06/2016 18:33 / Atualizado em 07/07/2016 11:53
Arnold Samuelson tinha 22 anos e sonhava em ser escritor. Na primavera de 1934, ele viajou de carona desde Minnesota até a Florida para tentar conhecer Ernest Hemingway. Ele acabara de ler ?Uma Viagem Além?, publicado na Cosmopolitan e ficou de tal maneira impressionado com o conto, que enfrentou 3 mil quilômetros de estrada para encontrar o autor e perguntar-lhe o que é preciso para se tornar um escritor. Mais tarde, ele recordaria aquele gesto juvenil: ?Era uma aventura e uma grande tolice, mas desempregado, com 22 anos em plena Depressão, não tinha muito a perder?. Então, quando todos procuravam fugir para o Norte, Samuelson seguiu na direção contrária. Na Florida, ele embarcou como clandestino em um trem de carga até Key West. No caminho, lembra que não conseguia ver os trilhos, apenas a água sob as longas pontes, à medida em que o trem saía do continente e entrava nos Keys. ?Foi o melhor sonho que tive. Um dia, vou escrever sobre aquela viagem sobre as águas?. Samuelson chegou a Key West e cedo descobriu que os tempos difíceis eram piores do que em Minnesota ? as fábricas de charutos haviam fechado e os pescadores mal conseguiam pescar seu almoço. Na primeira noite, ele dormiu no cais, usando a mochila como travesseiro. Foi acordado por um policial que o convidou a terminar a noite na cadeia da cidade. Solto pela manhã, saiu à procura do mais famoso morador dos Keys. Não foi bem recebido: ?O que você quer??, quis saber Papa Hemingway. Depois de um minuto de embaraço, Samuelson contou que lera ?Uma Viagem Além ? e atravessara o país para saber a fórmula de se tornar um escritor. Hemingway pareceu simpatizar com o importuno visitante e disse que voltasse no dia seguinte, para ?to chew the fat? (?bater um papo?). Depois de mais uma noite na cadeia infestada de mosquitos, Samuelson voltou e encontrou Ernest Hemingway sentado na varanda, de bermudas khaki e chinelos de pelúcia. Tinha um copo de whisky em uma mão e o The New York Times na outra. Os dois começaram a conversar, mas o autor de ?Por quem os Sinos Dobram? estava reticente, mantendo o visitante à uma distância segura. Falou sobre sua vida nos Keys e das pescarias de marlins azuis. Depois de renovar o copo, tocou no braço de Samuelson e soltou um primeiro conselho: ?Nunca escreva tudo de uma vez, não esgote a fonte. Guarde alguma coisa para o dia seguinte?. E continuou dizendo, que cada escritor precisa procurar um estilo próprio de escrever. Se o conseguir, será um afortunado. Mas, se tentar escrever como um outro escritor, os sonhos terminarão cedo. E recomendou ainda: ?Não pense como escritor enquanto não estiver escrevendo ou sua imaginação se esgotará antes do tempo. E o mais importante de tudo, é preciso viver todas as experiências possíveis e ler, ler muito, ler até cair em coma?.

*** Depois de um par de horas, Hemingway pareceu cansado e disse que precisava voltar ao trabalho. Pediu que o visitante voltasse no outro dia. Quando Samuelson retornou à casa, havia uma caixa de papelão com seu nome em cima da mesa. Eram 14 livros que Hemingway considerava fundamentais para ajudar a formar seu estilo. E, na porta, antes de despachar Samuelson, já abraçado à caixa de livros, disparou um último conselho, uma frase que mais tarde usaria em ?The Sun Also Rise?: ?Não existe nada de especial no ato de escrever. Tudo o que você precisa fazer é sentar diante de uma folha em branco e sangrar?. Durante anos, Arnold Samuelson seguiria fielmente o conselho, lendo e relendo os livros da caixa. Mas, além do encantamento proporcionado pela leitura, ele nunca se tornaria um escritor de verdade. Em sua autobiografia, ele publicou a lista dos livros que ganhou em Key West: "The Open Boat" de Stephen Crane; ?Madame Bovary? de Gustave Flaubert; ?Dublinenses? de James Joyce; ?O Vermelho e o Negro? de Stendhal; ?A Servidão Humana? de Somerset Maugham; ?Anna Karenina? de Leo Tolstoy; ?Guerra e Paz? de Leo Tolstoy; ?Os Buddenbrooks? de Thomas Mann; ?Granizo e despedida ? de George Moore; ?Os Irmãos Karamazov? de Fyodor Dostoyevsky; ?A Enorme Sala? de E.E. Cummings; ?O Morro dos Ventos Uivantes? de Emily Brönte; ?Distante e no passado? de W.H. Hudson; ?O Americano? de Henry James.

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