*** Em 1905, o poeta volta a Portugal e ingressa na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Mas logo abandona os estudos para frequentar círculos literários, livrarias e cafés de Lisboa. Trabalha como guarda-livros e correspondente estrangeiro no Chiado, mas encontra tempo para publicar ensaios, críticas de livros e escrever poesia. Em 1915, quando editor da revista ?Orpheu?, se integra ao movimento modernista. Conhece então Ofélia Queiroz, com quem mantem relação intensa, instável e tumultuada. E claramente depressiva, como deixa transparecer no poema do heterônimo Álvaro de Campos: ?Todas as cartas de amor são Ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem Ridículas. Também escrevi em meu tempo cartas de amor, Como as outras, Ridículas. (?)". Em 1924, interessado em ocultismo e o misticismo, lança a revista "Athena". Seu primeiro livro, "Mensagem", com poemas sobre grandes vultos da história de Portugal, demarca o início de um período de intensa criação poética, quando concebe uma galeria de alter-egos, heterônimos, pseudônimos, personagens fictícios e poetas mediúnicos que, segundo os biógrafos, chegou ao total de 127 nomes. O desenvolvimento destes heterônimos ficou como marca registrada e a face mais original e instigante do poeta. São personalidades, que possuem estilos próprios, com biografias e datas de nascimento e morte. Alguns são bastante conhecidos, como Álvaro de Campos, que assina Tabacaria, dos mais conhecidos e citados poemas da língua portuguesa. Ele é engenheiro, com educação inglesa e sua poesia navega entre simbolismo e futurismo. O heterônimo Ricardo Reis é um médico que se define como latinista e monárquico. Em protesto à proclamação da República em Portugal, viaja para o Brasil, mas não se conhece detalhes de seu fim. A Alberto Caeiro é reservado o papel de um camponês místico, que vive de modestos rendimentos. Porém é considerado um mestre entre os outros heterônimos. Morre cedo, de tuberculose. Outra figura singular é Bernardo Soares, mais um dublê do que um heterônimo, autor do Livro do Desassossego, considerado uma peça chave na ficção portuguesa moderna. Ele se apresenta como um modesto ajudante de guarda-livros, que, ao encontrar Fernando Pessoa em uma casa de pasto do Chiado, lhe entrega poemas para serem apreciados.
*** Porque o poeta multiplicou e multifacetou seu verdadeiro ego em muitos heterônimos? Os biógrafos que tentaram desvendar este universo de identidades e máscaras, percorreram caminhos tortuosos, atalhos, bifurcações e vielas sem saída. Exatamente ?como as ruas de Lisboa?, na descrição do biógrafo José Paulo Cavalcanti. Ou, ainda, como prefere o crítico Frederico Barbosa ? ?o grande poeta português foi um enigma em pessoa". A definição teria lisonjeado o próprio Fernando Pessoa, que, em certos momentos, confessou ser mestre em dissimulação, como nestes versos de 1925: ?O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente?.
***