O poeta que flanava

“O homem é um animal de dois pés, sem plumas, que fuma e caminha”. “La Physiologie de la Flâneur”. No dia 25 de junho …

12/05/2016 17:10 / Atualizado em 23/05/2016 14:11
?O homem é um animal de dois pés, sem plumas, que fuma e caminha?. ?La Physiologie de la Flâneur?. No dia 25 de junho de 1857, um escândalo causa grande comoção e agita os meios literários parisienses. Charles Baudelaire acaba de publicar um poema intitulado "Les Fleurs du Mal". O jornal Le Figaro o acusa de ?afrontar a moralidade e decência?. Mesmo condenado a pagar pesada multa, o poeta não se deixa intimidar e continua a desfrutar de um de seus grandes prazeres - flanar pelas ruas de Paris.

*** Os ataques moralistas a Baudelaire provocam a reação de alguns notáveis da literatura de França. Gustave Flaubert e Victor Hugo lhe prestam imediata solidariedade. Victor Hugo escreve: ?Suas flores do mal brilham e cintilam como as estrelas? Aplaudo seu espírito vigoroso com toda a minha força?. Um público restrito, mas entusiasmado, reconhece que surge uma nova forma de expressão poética. Muito antes de ser considerado como o primeiro poeta moderno da França, Charles Baudelaire cria uma herança de polêmica e escândalo. Ele confronta o idealismo romântico que impera na linguagem literária, ao chocar a sociedade com temas como depressão, corrupção política, inocência perdida e os males do alcoolismo. Como resultado, o poeta e sua editora são processados por ofenderem a moral pública e seis dos poemas de "Les Fleurs du Mal" são suprimidos das novas edições. Um final de vida amargo e melancólico o aguarda. Ao sofrer um ataque cardíaco, Charles Baudelaire fica semi-paralítico. Mas ele continua a escrever, lamentando apenas perder o prazer das caminhadas pela L?Île Saint-Louis, quando se divertia ao ver os vizinhos escandalizados com suas roupas: ?Uma camisa nova a cada dia, um vistoso colete colorido e longas calças bufantes, cobrindo lustrosos sapatos pretos?. Logo após sua morte, em 1867, os credores assediam a família, para cobrar as muitas dívidas deixadas pelo poeta. Por curiosa ironia, serão justamente os lucros de venda do amaldiçoado poema "Les Fleurs du Mal" que salvam a situação, livrando os herdeiros da prisão e da vergonha. Sobre a lápide de seu túmulo, no Cemitério de Montparnasse, admiradores costumam deixar trechos de suas poesias. Uma das mais populares pertence à "Petits poèmes en prose": ?É preciso estar sempre embriagado. Tudo está aí: é a única questão. Para não se sentir o horrível fardo do Tempo que quebranta os vossos ombros e vos curva em direção à terra, deveis vos embriagar sem trégua. Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, como quiserdes. Mas embriagai-vos?.

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