*** Quando morre Fernando Pessoa, Portugal ainda não tinha consciência de que estava perdendo um de seus maiores poetas. Sua poesia era quase desconhecida da maioria dos portugueses. Com exceção de Mensagem, os únicos livros publicados durante sua vida foram coletâneas de poemas ingleses: Antinous, 35 Sonnets e English Poems, editados em 1918 e 1921. Quando escreveu que não sabia o que lhe traria o amanhã, ele foi absolutamente sincero. Grande parte de sua obra, mais de 25 mil páginas manuscritas, foi encontrada mais tarde em uma velha arca, na casa de Campo de Ourique, onde morou nos últimos 15 anos de vida. No entanto, depois de morto e enterrado, não faltaram os elogios e as homenagens ao poeta e seus heterônimos. O mexicano Octavio Paz escreve que "Fernando Pessoa não tem biografia. A sua obra é a sua biografia", acrescentando: "Nada na vida do poeta é surpreendente ? nada, exceto os seus poemas." O norte-americano Harold Bloom declara que ele foi o Walt Whitman hispano-português e o coloca entre três maiores cânones da poesia ocidental, ao lado de Jorge Luis Borges e Pablo Neruda. Sem saber da frase de Octavio Paz, o poeta português desde muito já havia definido o sentido de sua trajetória, ao usar a frase clássica de Pompeu, no poema "Navegar é preciso". Ali, ele se define: "Viver não é necessário; o que é necessário é criar". Era o poeta navegador, distante do poeta estrangeiro do Largo do Carmo: "Outrora eu era daqui, e hoje regresso estrangeiro, Forasteiro do que vejo e ouço, velho de mim. Já vi tudo, ainda o que nunca vi, nem o que nunca verei. Eu reinei no que nunca fui."
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