Iria Pedrazzi: Convicção no fazer

Em 30 anos de carreira, Iria Pedrazzi foi revisora, repórter, colunista e hoje atua na área de comunicação corporativa

14/09/2012 00:00 / Atualizado em 01/06/2015 01:31
Nem arquitetura, nem teatro. Ainda que seja boa com os números, não foi a profissão desejada na adolescência, nem aquela à qual dedicou os estudos por três anos, que hoje movem o dia a dia de Iria Pedrazzi. Foi por acaso que, aos 18 anos, em busca da independência financeira, ela começou a trabalhar como revisora em Zero Hora. Atraída pelo dinamismo da área, característica com a qual se identifica, começou ali a carreira no Jornalismo, que perdura há 30 anos. Nesse período, teve a trajetória marcada por diferentes projetos e desafios, que, aliás, para ela, são sempre bem-vindos. Bem-humorada e otimista, não hesita em encarar um novo caminho, desde que compatível com o que crê e com os laços afetivos que mantém. De revisora a colunista, pode-se dizer que Iria fez de tudo em uma redação. Entre as diversas passagens por Zero Hora, Diário Catarinense, e o norte-americano Brazil Today. Destaca o trabalho no jornal Folha de Hoje, projeto do qual participou desde o início. Formada em Jornalismo pela Ufrgs, turma de 1982, atualmente, exerce a gerência de canais regionais, na comunicação corporativa da Telefônica Vivo. Geminiana, como gosta de destacar, tem na versatilidade e na adaptabilidade características bastante fortes. Apegada aos amigos, foi o seu motivo que a fez retornar à cidade natal, Porto Alegre, após as temporadas no estado vizinho e no Exterior. "Gosto da proximidade, do toque, do abraço", ressalta. A idade, ela não revela, mas garante que não é por vaidade. Costuma dizer, para confundir o interlocutor: "Minha filha está com 15 anos, tive ela com outros 15, estou aqui (na Telefônica) há 13 e entrei com 17. O resto é da outra vida, estou assimilando por osmose", brinca. Pela família Casada há 23 anos com o também jornalista Pedro Haase Filho, dono da Quati Produções Editoriais, tem o companheiro como um "superparceiro" e um "superprofissional". Afinal, foi na redação do Diário Catarinense que o relacionamento teve início. Para ela, exercer a mesma profissão e, por vezes, trabalhar juntos não chega a ser um entrave. "Temos uma relação de troca, isso é fundamental e é o que alimenta a nossa relação." A valorização da ética, da liberdade, do amor e do prazer em tudo o que faz é uma das características em comum do casal. Mãe de Manoela, de 15 anos, Iria valoriza muito o relacionamento e os momentos vividos ao lado da filha. Foi por ela que deixou a redação de ZH, em 1998, uma definição "sem nenhum trauma". Queria acompanhar de perto o crescimento da menina. "Diziam-me que eu iria me arrepender, pelo momento em que eu estava. Tinha uma coluna relevante (o Informe Especial), mas, para a Manoela, aquela decisão era importante". Em casa, retomou outra paixão, a produção de livros e revistas sobre ecologia e sustentabilidade, tema que, naquela época, tinha pouca evidência. O assunto é uma bandeira até hoje: acredita nas publicações como uma forma de alertar para a importância do meio ambiente e da preservação da natureza. Por outros mares Filha da advogada Noemy e do funcionário público Dimitri Luiz Pedrazzi e irmã mais velha de Fernanda - hoje advogada e também servidora pública -, Iria quase seguiu o mesmo caminho que o pai. Após um ano e meio como revisora em Zero Hora, passou em um concurso da Caixa Econômica Federal, "aqueles que todo mundo quer passar". Bastante comunicativa, foi contratada para a área de atendimento ao público. "Tinha um cabelão cacheado. Então, eu ia trabalhar de manhã, lavava todo aquele cabelo, prendia, e, durante o dia, o cabelo ia crescendo", recorda, aos risos. Aquele que poderia ser o emprego dos sonhos para muitas pessoas, pelos benefícios oferecidos, não foi o de Iria. A experiência durou apenas um mês. "Falavam que ninguém ia embora com um mês de Caixa. E eu dizia: "Mas eu quero. Esse não é o meu mundo". Queria escrever, queria fazer outras coisas", lembra, ressaltando que o emprego não combinava em nada com seu estilo de vida na época. Foi uma rara experiência fora da comunicação. Mais tarde, em 1991, casados e trabalhando na Zero Hora, Iria e Pedro decidiram mudar um pouco o rumo da vida. Fecharam o apartamento com tudo dentro e foram para a Califórnia, nos Estados Unidos. Lá, a jornalista cuidou de crianças, "uma ótima oportunidade para se aprender inglês", e trabalhou em uma loja, até que a vontade de escrever voltou a aparecer. Foi quando o casal passou a contribuir com reportagens para o jornal Brazil Today. Os laços afetivos mantidos na terra natal foram responsáveis pela volta de Iria e Pedro ao Brasil. Três anos depois, eles retornaram ao estado norte-americano a convite do mesmo veículo, para cobrir a Copa do Mundo - e aí presenciaram a conquista do tetracampeonato mundial pela seleção brasileira. Surgem os projetos Foi como "frila" que Iria voltou à Comunicação, após a efêmera passagem pela vida de funcionária pública. Um projeto para um novo jornal a levou a Santa Catarina, em 1986. Após seis meses de piloto, foi às ruas a primeira edição do Diário Catarinense. Integrando a editoria de Esportes, cobriu de Copa do Mundo a campeonato de xadrez. Conta que, em um tabuleiro, a equipe reproduzia todas as jogadas do dia, que iam para a edição seguinte do jornal. "Trabalhar tem momentos pesados, difíceis, mas tu tens que levar da forma mais leve possível, tens que trabalhar te divertindo", defende. Tinha uma coluna de música na editoria de Variedades, quando um acidente de carro a tirou do mercado por dois anos. As complicações e o tratamento a trouxeram de volta ao Rio Grande do Sul, mas ainda com o prazo da licença em vigência, pediu para voltar ao trabalho, o que ocorreu pelo caderno de TV. Foi na redação do Diário Catarinense que Iria e Pedro se aproximaram e, com a decisão de casar, voltaram à capital gaúcha em 1989. Ingressou na sucursal de Porto Alegre da Folha de Hoje, jornal de Caxias. No periódico, poucas pessoas atuavam para uma única editoria, portanto, cobrir de política até polícia era comum. E não demorou muito para um novo projeto surgir. Tratava-se do jornal Leste-Oeste, que circulou encartado em Zero Hora, na região do Bom Fim, no início da década de 1990. Numa segunda passagem por Santa Catarina, editou o caderno Diário de Verão, no Diário Catarinense, e depois voltou à editoria de Variedades. Em 1994, na Zero Hora, foi responsável pela contracapa e, mais tarde, assumiu a página três, a coluna Informe Especial. Do ballet ao rock Aos oito anos, a porto-alegrense, criada no centro da cidade, e a família mudaram-se para Chapecó, Santa Catarina. "Naquele tempo, ninguém saía de uma capital para morar em Chapecó. Foi uma experiência para sempre, até em casa mal-assombrada moramos." Da infância, guarda a lembrança dos tradicionais veraneios, passados em família, na praia de Cidreira. Já a adolescência, entre Instituto de Educação Flores da Cunha e Colégio de Aplicação, define como "um livro a parte de experiências, crescimento, aprendizados e amigos para sempre". Unida, a turma do ensino médio tem contato até hoje e, periodicamente, se reúne para "umas boas risadas". "Mesmo os que moram em outros estados, se esforçam para comparecer", conta. Quando criança, chegou a competir cem metros rasos, salto em altura e, por oito anos, estudou ballet clássico, pelo qual se diz apaixonada e enxerga como um exercício de disciplina e postura. "Tu tens que entrar na música", explica. Ainda hoje, entre as atividades na Telefônica, reserva o horário do almoço para almoçar com a filha e, em certos dias da semana, para a prática de Pilates. Nos momentos de folga, viajar é sempre uma ótima opção. Além de gostar de conhecer novos lugares, acredita nessas experiências como combustíveis para a alma e para o conhecimento. Na literatura, Iria tem preferência por biografias. "Sempre que cai uma na minha mão, eu devoro", conta. Como para alguém que faz muitas coisas ao mesmo tempo ter um livro de cabeceira não seria suficiente, ela tem cinco. Estão lá obras que contam as histórias da banda Led Zeppelin, da escritora Clarice Lispector e de Albert Einstein, além de "Vida de escritor", de Gay Talese, e a Bíblia. Um passatempo é o jogo Sudoku ? quebra-cabeça baseado na colocação lógica de números -, "daqueles bem difíceis". Assim, alia o gosto pelos números ao pensamento estratégico. Outra atividade de lazer é ir ao cinema. Da sétima arte, é fã de autores como Werner Herzog, Michelangelo Antonioni e Francis Coppola. O estilo musical abrange rock em geral, gênero no qual destaca Janis Joplin, Jimi Hendrix, Jim Morrison, além de Raul Seixas, a quem se refere como um gênio. "Temos o mundo em transformação o tempo todo. Metamorfose ambulante é o que todo mundo devia ser", acredita.