Coluna de Mario de Almeida

Robert Allen Zimmerman ? Bob Dylan – 75 anos, compositor e cantor norte-americano, acaba de ganhar o Prêmio Nobel de Literatura, o que provocou …

31/10/2016 12:08 / Atualizado em 10/12/2016 11:12
Robert Allen Zimmerman - Bob Dylan ? 75 anos, compositor e cantor norte-americano, acaba de ganhar o Prêmio Nobel de Literatura, o que provocou uma celeuma nos meios de comunicação no mundo ocidental. Choveram   críticas por considerarem que sua obra musical não se enquadra no gênero literário. A Academia sueca, responsável pela distinção, discorda e enaltece a sua obra como do gênero poético. Não vou discutir, resta desfrutar a óbvia genialidade do artista. Lembrei-me da música popular brasileira e da quantidade de letras que invadem a poesia: Chão de Estrelas Orestes Barbosa e Sílvio Caldas Minha vida era um palco iluminado Eu vivia vestido de dourado Palhaço das perdidas ilusões Cheio dos guizos falsos da alegria Andei cantando a minha fantasia Entre as palmas febris dos corações Meu barracão no morro do Salgueiro Tinha o cantar alegre de um viveiro Foste a sonoridade que acabou E hoje, quando do sol, a claridade Forra o meu barracão, sinto saudade Da mulher pomba-rola que voou Nossas roupas comuns dependuradas Na corda, qual bandeiras agitadas Pareciam um estranho festival Festa dos nossos trapos coloridos A mostrar que nos morros mal vestidos É sempre feriado nacional A porta do barraco era sem trinco Mas a lua, furando o nosso zinco Salpicava de estrelas nosso chão Tu pisavas nos astros, distraída Sem saber que a ventura desta vida É a cabrocha, o luar e o violão. A poesia está incorporada à nossa MPB e, na memória, seus resíduos são muitos: Seguem uns e outros, provavelmente com alguns erros: Tire o seu sorriso do meu caminho que quero passar a minha dor? Levanta, sacode a poeira, dê a volta por cima?  Foi um rio que passou na minha vida? Recordar é viver, ontem sonhei com você? Saudosa Maloca Adoniran Barbosa Se o senhor não tá lembrado Dá licença de contá Que acá onde agora está Esse aditício ardo Era uma casa véia Um palacete assobradado Foi aqui seu moço Que eu, Mato Grosso e o Joca Construímos nossa maloca Mas um dia, nós nem pode se alembrá Veio os homis c?as ferramentas O dono mandô derrubá Peguemos todas nossas coisas E fumos pro meio da rua Apreciá a demolição Que tristeza que nós sentia Cada táuba que caía Doía no coração Mato Grosso quis gritá Mas em cima eu falei: Os homis tá cá razão Nós arranja outro lugar Só se conformemo quando o Joca falou: ?Deus dá o frio conforme o cobertor? E hoje nós pega páia nas gramas do jardim E prá esquecê, nós cantemos assim: Saudosa maloca, maloca querida Dim-dim donde nós passemos os dias feliz de nossa vida Saudosa maloca, maloca querida Dim-dim donde nós passemos os dias feliz de nossas vidas A Banda Chico Buarque Estava à toa na vida O meu amor me chamou Pra ver a banda passar Cantando coisas de amor A minha gente sofrida Despediu-se da dor Pra ver a banda passar Cantando coisas de amor O homem sério que contava dinheiro parou O faroleiro que contava vantagem parou A namorada que contava as estrelas Parou para ver, ouvir e dar passagem A moça triste que vivia calada sorriu A rosa triste que vivia fechada se abriu E a meninada toda se assanhou Pra ver a banda passar Cantando coisas de amor Estava à toa na vida O meu amor me chamou Pra ver a banda passar Cantando coisas de amor A minha gente sofrida Despediu-se da dor Pra ver a banda passar Cantando coisas de amor O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou A moça feia debruçou na janela Pensando que a banda tocava pra ela A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu A lua cheia que vivia escondida surgiu Minha cidade toda se enfeitou Pra ver a banda passar cantando coisas de amor Mas para meu desencanto O que era doce acabou Tudo tomou seu lugar Depois que a banda passou E cada qual no seu canto Em cada canto uma dor Depois da banda passar Cantando coisas de amor Depois da banda passar Cantando coisas de amor Sérgio Cabral, o pai, Cyro del Nero e eu fizemos, para a Editora Globo, há décadas (então Rio Gráfica), uma antologia com textos e LPs da nossa Música Popular. Inté.