O impacto das plataformas digitais e a transformação do consumo de conteúdo estiveram no centro do debate do painel 'Conteúdo', realizado no último painel da manhã desta segunda-feira, 27, durante o 27º Congresso Gaúcho de Emissoras e Radiodifusão, promovido pela Associação Gaúcha de Emissoras de Rádio e Televisão e Comunicação (Agert), em Canela. O encontro reuniu o diretor-geral de Conteúdo do Grupo Bandeirantes, Rodolfo Schneider, o jornalista da Jovem Pan e colunista da MIT Technology Review, Carlos Aros, e o integrante do Comitê de Inovação da Agert, Luciano Mallmann. Na ocasião, o diretor de Conteúdo da Jovem Pan sentenciou que "a inovação é um tsunami: ou você surfa, ou é engolido por ela".
Abrindo a conversa, Schneider defendeu que o setor de Comunicação precisa retomar o protagonismo nas discussões sobre o ambiente digital, especialmente diante da influência das big techs. "O debate se contaminou politicamente e perdeu o foco. Precisamos discutir o que precisa ser feito. Enquanto somos cobrados por cada erro, as plataformas operam sem responsabilidade sobre o conteúdo que publicam", afirmou.
O executivo também destacou o avanço da TV 3.0 como uma oportunidade de sobrevivência e reinvenção para a radiodifusão. "Hoje, o YouTube é consumido basicamente em televisores e concorre com a TV aberta. Precisamos negociar com os fabricantes e fortalecer o setor, que é forte e precisa estar unido", defendeu.
"A comunicação é humana"
Na sequência, Carlos Aros ressaltou que a inovação deve ser encarada como aliada, não como ameaça. "As plataformas precisam de algo que nós temos: o conteúdo", abordou. O jornalista destacou que a Jovem Pan se tornou o primeiro case do Google a desenvolver um projeto multiplataforma no Brasil, combinando inteligência tecnológica e produção editorial.
Para ele, a principal diferença entre veículos e plataformas está na conexão humana. "O que nos distingue das máquinas é a empatia. É isso que a inteligência artificial não consegue replicar", pontuou.
Aros também defendeu o amadurecimento do branded content como ferramenta legítima de comunicação entre marcas e veículos. "Os limites éticos continuam os mesmos. O Jornalismo pode realizar projetos em parceria com marcas sem comprometer sua credibilidade. As redações estão mais preparadas para isso, e o público entende o valor do conteúdo bem produzido", completou.
Integração entre rádio, TV e digital
O painel também discutiu o papel dos profissionais multiplataforma e a integração entre rádio, TV e digital. Schneider ressaltou que, nas redações atuais, o perfil mais valorizado é o de quem consegue atuar em diferentes formatos. "O jornalista que entende as linguagens e consegue produzir para diversas plataformas é o profissional que o mercado precisa", disse.
Os painelistas ainda compartilharam experiências sobre a monetização de conteúdo digital e o comportamento da audiência on demand. Aros destacou que o consumo não se limita ao tempo real: "Temos programas que atingem milhões de visualizações ao longo do dia, com novos picos de audiência à noite. O importante é estar presente em todas as telas".
Encerrando o debate, Schneider reforçou que ignorar o ambiente digital não é uma opção. "Não podemos fingir que as plataformas não existem. Precisamos estar nelas, com estratégia e propósito, produzindo conteúdo de qualidade e mantendo nossa credibilidade", concluiu.