"Sentimento de gratidão": Ricardo Giusti conta sobre despedida do Correio do Povo

Fotojornalista do jornal por quase quatro décadas, ele conversou com o Coletiva.net sobre a decisão de sair e comentou os momentos marcantes da carreira

13/11/2025 10:00
"Sentimento de gratidão": Ricardo Giusti conta sobre despedida do Correio do Povo /Crédito: Arquivo Pessoal

Após 39 anos, Ricardo Giusti se despediu do Correio do Povo, onde atuava por quase quatro décadas como fotojornalista. Em conversa com a reportagem de Coletiva.net, ele explicou a decisão de sair do jornal, comentou alguns momentos emblemáticos da carreira e contou os planos para o futuro. O encerramento dos trabalhos aconteceu na última semana e foi marcado por uma homenagem para o profissional. ?Tenho um sentimento de gratidão por todos os colegas que caminharam comigo ao longo desses anos?, afirmou.

Ele elencou os agradecimentos desde ?o saudoso Marco Antônio Kraemer até o atual diretor, Telmo Flor, que é uma pessoa fora de série?. Ricardo também destacou a parceria de todos os colegas que passaram pela área de Fotografia e também a José Ernesto Leal, que foi seu chefe no setor: ?Ele me deu muita força no início, muito apoio?. ?Minha gratidão também a todos os presidentes, desde a família Ribeiro, aos executivos da Rede Record, mais recentemente?, acrescentou.

Segundo Ricardo, o fim do ciclo no Correio aconteceu de forma natural. ?Há seis anos eu me aposentei da prefeitura de Porto Alegre, onde trabalhei por 40 anos. E a minha próxima meta era me aposentar do jornal?, explicou. Ele comunicou a saída a Telmo, diretor de Redação, em dois de outubro, um dia após o aniversário de 130 anos do impresso, pois desejava ainda estar lá nesse marco. ?Acho que temos que saber o momento certo para parar e chegou meu dia. Saí com uma dor no peito, mas temos que diminuir o ritmo em algum momento?, destacou.

Realização de um sonho

Na despedida, o fotojornalista recebeu uma capa personalizada do Correio, com fotos suas. ?Saí de cabeça erguida e muito feliz com a minha carreira?, acrescentou. Carreira essa que se iniciou em 1986, junto ao retorno do jornal após um fechamento temporário de quase dois anos. O pai de Ricardo era Benito Giusti, que trabalhou por mais de 30 anos na extinta Folha da Tarde e estava envolvido nos protótipos para a volta do impresso. Foi ele quem fez a ponte entre o filho e o veículo. ?Eu frequentava já a Caldas Júnior desde pequeno, então o prédio e as instalações eram muito comuns na minha vida?, relatou.

Foi contratado para cobrir o turno da noite, o que veio a calhar, já que ainda era estudante de Jornalismo, o que conciliava com o trabalho na prefeitura de Porto Alegre. Ricardo disse ao pai que trabalharia em qualquer setor. ?Tudo o que eu mais queria era trabalhar no Correio. Mas eu jamais pensei que também fosse me aposentar lá?, refletiu. Foi assim que começou a acompanhar o colunista social Eduardo Conill, com quem fez a primeira pauta para o jornal, acompanhando-o ao Le Club, extinta casa noturna da Capital: ?Estava todo nervoso?.

Cliques que se destacaram

Ao longo das décadas, as lentes e o trabalho de Ricardo foram alvos de diversas mudanças tecnológicas. ?Quando produzíamos só o impresso, o deadline era outro?, relembrou. Começando em uma época na qual era necessário revelar as imagens que iriam para o jornal, ele ainda passou pelo advento das câmeras digitais e dos cartões de memória que poderiam ser colocados no computador, chegando até a integração desses aparelhos com a internet e com o próprio celular, permitindo que os cliques pudessem ser enviados à redação em questão de minutos. ?Temos que nos adaptar. Não tem como fugir?, pontuou.

Além disso, também foram 39 anos de muitas coberturas significativas. ?A enchente de 2024 me marcou muito. Não sei se teria condições psicológicas de cobrir uma segunda vez, pois eu vivi intensamente a dor e as dificuldades das comunidades que foram alagadas?, relatou. E mesmo durante a pandemia, Ricardo encontrou espaço para o pioneirismo, fazendo pelo Correio do Povo algumas das primeiras imagens de uma UTI no Brasil, no Grupo Hospitalar Conceição. ?Os jornais estavam usando fotos das agências internacionais, e eu não concordava. A pandemia estava na nossa porta. Tínhamos que ter imagens locais?, defendeu.

Mais de 20 cliques

O fotojornalista também acompanhou pautas na editoria de Esportes. ?Fui ao Japão com o Internacional. Fui a Abu Dhabi, quando o time caiu para o Mazembe e para fazer o Grêmio contra o Real Madrid. Fiz viagens de Libertadores e Copa do Brasil, além das decisões na Arena, no Beira-Rio e no Olímpico?, elencou. Inclusive, foi cobrindo futebol que fez algumas das imagens mais marcantes da carreira. 

Em uma decisão da Copa Sul-Minas, Ricardo foi responsável por uma sequência de mais de 20 cliques de uma briga entre o médico do Grêmio e o árbitro da partida contra o Paraná Clube. ?Fui o único fotógrafo que captou toda essa sequência, que ainda me deu o primeiro lugar no 'Prêmio ARI/Banrisul de Jornalismo?, contou.

Fotos da briga entre o médico do Grêmio e o árbitro / Crédito: Ricardo Giusti

Pausa necessária

Ricardo destacou que sempre tratou todos os dias de trabalho como se fosse o primeiro. ?Podia estar baixo astral, mas eu chegava no jornal, pegava a câmera e me transformava?, afirmou. Para ele, é impossível não se apaixonar pelo Jornalismo: ?É uma carreira muito dinâmica. Agora você está na Restinga, mas uma hora atrás estava no Palácio Piratini, à noite está cobrindo futebol e no dia seguinte, precisa fazer uma viagem para o interior e cobrir um remate. Isso sem falar nas viagens internacionais ou para fora do Rio Grande do Sul?. 

Contudo, ele admite que é uma profissão que exige bastante entrega e, no caso dos fotojornalistas, há muito trabalho físico. ?Sempre digo que o fotógrafo precisa ser inquieto, sempre buscando a melhor imagem. Então precisa correr, ficar em pé, subir em telhado ou terraço, carregar peso?, enumerou. É por isso que, para o momento, ele pretende ?não fazer nada?. ?É verão, então eu quero curtir a praia, a serra e a família mais intensamente. A partir de março vamos ver o que acontece, quero fazer algo mais light?, revelou.