1- Quem é você, de onde vem e o que faz?
Meu nome é Cristiano Goulart. Tenho 31 anos e sou natural de Porto Alegre. Atualmente, sou Chefe de Equipe e Análise de Qualidade de uma empresa internacional de educação com sede em Dublin, onde eu moro desde 2018. Também atuo como jornalista pelo Agora Europa. No Brasil, iniciei minha carreira no Grupo Bandeirantes, tendo também passado pela reportagem da Rádio Gaúcha e, por último, pela equipe nacional de jornalismo do SBT RS. Sempre me interessei muito por análise de dados e, aqui na Irlanda, essa paixão acabou me levando, primeiro, para a área de tecnologia, com passagem pelo departamento de licenciamento da Microsoft Corporation, e depois para a coordenação de equipes, atividade que exerço, no momento, na Shaw Academy.
2- Por que escolheu ser jornalista?
Eu nasci e cresci no Morro Santa Tereza, em uma parte bem pobre de Porto Alegre. Sempre me impressionou a capacidade de influência que o jornalismo exercia e ainda exerce sobre essas regiões; sobretudo, quando se propõe a buscar respostas para problemas que fazem parte da realidade das comunidades carentes. Eu cresci com essa ideia. Desde os 12 anos, dizia que queria ser jornalista e que ia também mostrar os problemas de outras comunidades, que eram similares ou iguais aos da que eu morava. O desafio? Ninguém da minha família havia sequer concluído o Ensino Fundamental. Minha única possibilidade era estudar em uma universidade pública e isso aconteceu em 2010. Eu já trabalhava há seis anos em uma farmácia. Minha rotina diária era estudar pela manhã na Fabico e trabalhar na farmácia até as 10 horas da noite. Segui neste ritmo por um ano e meio, até iniciar meu primeiro estágio na área, na Band. Depois de lá, consegui, de fato, me estabelecer no meio e ter melhores oportunidades para atuar como jornalista. Felizmente, recebi inúmeras oportunidades para realizar reportagens nas periferias de Porto Alegre e Região Metropolitana e sou imensamente grato por cada uma delas.
3 - O que motivou a criação do Agora Europa?
A existência do Agora Europa (AE) é resultado de um esforço coletivo que contou também com a dedicação dos jornalistas Daiane Vivatti, na Irlanda, e Alvaro Andrade e Estevao Pires, em Barcelona. A ideia do projeto parte da percepção de que muitos brasileiros que se mudam para a Europa não dominam a língua do país destino e, por este motivo, possuem uma série de serviços públicos e direitos que não são alcançados justamente por causa dessa barreira cultural. Já reportamos casos de brasileiros que ficaram quatro meses sem receber salário - e que só foi pago após contactarmos a empresa deste grupo de trabalhadores; já acompanhamos caso de brasileiro morto por atropelamento enquanto trabalhava, de bicicleta, entregando comida; casos de brasileiros despejados de suas casas. São muitos os desafios enfrentados para quem residem fora do país e, sem dúvidas, o Agora Europa tem se mostrado um meio de comunicação eficiente para informar e dar voz a este público. O crescimento orgânico de audiência alcançado pelo AE em um período tão curto de tempo, 200 mil acessos à página em apenas 5 meses, é prova da importância que temos conquistado nas comunidades brasileiras fora do país e também como fonte de informações para quem quer se manter atualizado sobre tudo o que acontece na Europa. Temos uma equipe de 11 jornalistas extremamente qualificados. Atualmente, temos a Daiane Vivatti, a Jéssica Sbardelotto e eu na Irlanda; o Alvaro Andrade, o Estevao Pires e a Thaís Baldasso na Espanha; a Jézica Bruno no Reino Unido; a Débora Harbæk na Dinamarca; o Diego Weiler na França; e a Amanda Lima e o Carlos Machado em Portugal. Sem dúvida alguma, temos muito a crescer e a fortalecer o Agora Europa. A cada dia, aprimoramos nossos métodos de produção de conteúdo, reforçamos nossos sistemas internos de verificação e checagem de informações, assim como nossa atuação nas redes sociais. E estou aqui falando de uma iniciativa de apenas 5 meses.
4 - Que tipos de desafios um jornalista brasileiro tem que superar ao viver na Europa?
O primeiro e mais importante desafio é, sem dúvida, a língua. É fundamental que o jornalista domine o idioma local. Os demais desafios são os mesmos enfrentados em qualquer outro lugar do mundo, que é o de conquistar a confiança das fontes, saber onde apurar informações e, muito importante, conhecer, minimamente, as legislações locais. Inúmeros processos legais na Europa, por exemplo, se diferem dos existentes no Brasil. No caso da União Europeia (UE), há uma legislação do bloco, que se aplica aos 27 países que integram a UE, mas os Estados-Membros também possuem legislações específicas e independentes, além de diferentes sistemas políticos. Além disso, atuamos também em regiões que não integram a União Europeia, como o Reino Unido, cujo prazo para deixar integralmente o bloco encerra-se no final do ano.
5 - Quais são seus planos para daqui a cinco anos?
Há muitos outros planos e interesses que carrego paralelamente ao desejo de atuar como jornalista, mas que não se excluem em absoluto. Tenho estudado linguagens de programação e já consegui automatizar alguns processos, tanto na empresa onde atuo quanto no Agora Europa, através da criação de programas simples que consegui elaborar com meu conhecimento ainda limitado nesta área. Em cinco anos, pretendo já ter concluído uma graduação na área de Ciência da Computação e uma especialização na área de análise de dados, de modo que eu possa usar estas novas habilidades para aperfeiçoar a forma como apuramos e entregamos conteúdo ao nosso público. Tecnologia e Jornalismo andam, a meu ver, lado a lado em um sentido sem volta. O Agora Europa ainda não é a principal fonte de renda dos jornalistas que o integram. O mais importante, neste momento, é garantir independência econômica para que possamos dar novos e seguros passos para fortalecer o que temos feito até então e para garantir que cada um dos envolvidos no AE consiga se dedicar exclusivamente ao jornalismo no próximo ano. É para isso que temos trabalhado e nos dedicado diariamente.
Essa entrevista foi realizada pelos alunos de Estágio I do curso de Jornalismo, do Centro Universitário Metodista IPA. Texto: Douglas Webber