Gravado com câmeras 360º, o projeto utiliza óculos de realidade virtual para permitir que o público experimente, de forma imersiva, a devastação deixada pelas águas em diferentes regiões do Estado. "Eu já trabalhava com realidade virtual e aumentada há cerca de sete anos, e quando ocorreu a enchente, percebi que poderia usar essa linguagem para criar algo relevante", contou Sarah, em entrevista exclusiva ao Coletiva.net.
Embora não tenha sido diretamente afetada, moradora da Zona Norte de Porto Alegre, a diretora esteve próxima das regiões mais atingidas, como Canoas e o Vale do Taquari. Como muitos, começou como voluntária, ajudando em abrigos e centros de doações. Mas logo percebeu que poderia contribuir de forma mais eficaz com aquilo que sabia fazer de melhor: narrar visualmente experiências reais. ?Chegou um momento em que ir até os abrigos parecia mais atrapalhar do que ajudar. Então pensei: o que eu posso fazer que ninguém mais está fazendo??
A resposta veio com a captação de registros em realidade virtual, que permitem ao público "entrar" em cenas marcadas pela destruição, provocando empatia e reflexão. O projeto ganhou corpo com a colaboração de cerca de 10 profissionais voluntários e o apoio da Associação Brasileira de Realidade Estendida (XRBR).
Desde então, a produção foi apresentada em eventos como o Hacktown, em Minas Gerais, o Rio Innovation Week, e até na COP 29, no Azerbaijão. ?Foi uma correria. Passei dois dias lá, mas conseguimos apresentar o projeto e levar também representantes da Cufa de Porto Alegre para falar sobre o impacto social da tragédia?, relembrou Sarah.
Com a estreia no Festival de Gramado, a equipe reforça o propósito de manter o tema vivo no debate público. "Quando a água baixou, a atenção da mídia diminuiu. Mas para quem viveu aquilo, era só o começo. Ainda há muito por ser feito, e muito pouco foi feito até agora."
Sarah também defende a importância de que essa memória seja contada por diferentes vozes e linguagens ? não apenas jornalísticas, mas também ficcionais. ?No Festival mesmo, vimos outras produções que trataram das enchentes, como o documentário da Bárbara Paz. É essencial que isso continue sendo contado de várias formas, inclusive pela ficção, porque é uma maneira potente de manter viva a lembrança e a urgência?.
A equipe de Coletiva.net acompanha o 53º Festival de Cinema de Gramado, realizado de 13 a 23 de agosto, na Serra Gaúcha. Nesta edição, o apoio é da Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), que enviou estudantes de Jornalismo e Publicidade e Propaganda para reforçar a cobertura. O público pode conferir matérias e entrevistas exclusivas sobre o evento no portal, repercutidas nas redes sociais - Facebook e Instagram -, além de drops em Coletiva.rádio.