Diretora transforma tragédia climática em experiência imersiva no Festival de Cinema

Sarah Ramos leva 'Realidade Imersa' e reforça importância de manter viva a memória das enchentes de 2024

23/08/2025 17:00
Diretora transforma tragédia climática em experiência imersiva no Festival de Cinema /Crédito: Coletiva.net

A designer gráfica e artista multimídia Sarah Ramos de Ávila encontrou na tecnologia uma maneira singular de preservar a memória da maior tragédia climática já registrada no Rio Grande do Sul. Com uma trajetória que transita entre o design gráfico, a animação 2D e 3D, e mais recentemente o universo das realidades estendidas, Sarah transformou os impactos das enchentes de 2024 no documentário 'Realidade Imersa', que acaba de ser exibido na Mostra de Realidade Virtual do Conexões Gramado Film Market, dentro da programação do 53º Festival de Cinema de Gramado.

Gravado com câmeras 360º, o projeto utiliza óculos de realidade virtual para permitir que o público experimente, de forma imersiva, a devastação deixada pelas águas em diferentes regiões do Estado. "Eu já trabalhava com realidade virtual e aumentada há cerca de sete anos, e quando ocorreu a enchente, percebi que poderia usar essa linguagem para criar algo relevante", contou Sarah, em entrevista exclusiva ao Coletiva.net.

Embora não tenha sido diretamente afetada, moradora da Zona Norte de Porto Alegre, a diretora esteve próxima das regiões mais atingidas, como Canoas e o Vale do Taquari. Como muitos, começou como voluntária, ajudando em abrigos e centros de doações. Mas logo percebeu que poderia contribuir de forma mais eficaz com aquilo que sabia fazer de melhor: narrar visualmente experiências reais. ?Chegou um momento em que ir até os abrigos parecia mais atrapalhar do que ajudar. Então pensei: o que eu posso fazer que ninguém mais está fazendo??

A resposta veio com a captação de registros em realidade virtual, que permitem ao público "entrar" em cenas marcadas pela destruição, provocando empatia e reflexão. O projeto ganhou corpo com a colaboração de cerca de 10 profissionais voluntários e o apoio da Associação Brasileira de Realidade Estendida (XRBR).

Desde então, a produção foi apresentada em eventos como o Hacktown, em Minas Gerais, o Rio Innovation Week, e até na COP 29, no Azerbaijão. ?Foi uma correria. Passei dois dias lá, mas conseguimos apresentar o projeto e levar também representantes da Cufa de Porto Alegre para falar sobre o impacto social da tragédia?, relembrou Sarah.

Com a estreia no Festival de Gramado, a equipe reforça o propósito de manter o tema vivo no debate público. "Quando a água baixou, a atenção da mídia diminuiu. Mas para quem viveu aquilo, era só o começo. Ainda há muito por ser feito, e muito pouco foi feito até agora."

Sarah também defende a importância de que essa memória seja contada por diferentes vozes e linguagens ? não apenas jornalísticas, mas também ficcionais. ?No Festival mesmo, vimos outras produções que trataram das enchentes, como o documentário da Bárbara Paz. É essencial que isso continue sendo contado de várias formas, inclusive pela ficção, porque é uma maneira potente de manter viva a lembrança e a urgência?.

A equipe de Coletiva.net acompanha o 53º Festival de Cinema de Gramado, realizado de 13 a 23 de agosto, na Serra Gaúcha. Nesta edição, o apoio é da Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), que enviou estudantes de Jornalismo e Publicidade e Propaganda para reforçar a cobertura. O público pode conferir matérias e entrevistas exclusivas sobre o evento no portal, repercutidas nas redes sociais - Facebook e Instagram -, além de drops em Coletiva.rádio.