Diversidade e Comunicação: A liderança de Gregório

Diretor-executivo de Criação da HOC conversou com Luan Pires

Gregório Leal é o articulista de sexta-feira em Coletiva.net - Crédito: Arquivo pessoal

Gregório Leal, mais conhecido como Greg, é diretor-executivo de Criação na agência HOC - House of Creativity. Com uma trajetória repleta de sucessos, pode-se dizer que a personalidade consciente, proativa e transparente é mais um deles.

Em que momento a diversidade se fez presente como pauta?

Posso dizer que sempre soube e tive essa consciência. Mas, também, sempre soube que apesar de ter sofrido preconceitos, não fui uma criança que encarei um bullying pesado. Sei que é uma realidade na trajetória de vida de muitas pessoas e, por isso, sempre foi uma causa e uma luta minha. Sempre tive consciência que, por aparentar heteronormatividade e vir de classe social média, ganhei privilégios. Então, posso dizer que essa consciência ampla sempre existiu, desde saber que existe e desde entender meu privilégio em relação a ela. Mas a pauta como um movimento e uma força maior que minha individualidade foi quando comecei a trabalhar. Entrei no mercado já assumidamente gay. Então, de cara, isso sempre foi um assunto. Claro que há 22 anos a pauta era diferente nas agências, mas por ser assumido, sempre lidei com ela desde que entrei no mercado.

Como a consciência dos seus privilégios e a criação num contexto mais protegido o influenciou no teu jeito de ser e se posicionar?

Não foi uma relação tão direta, mas influenciou. Tive uma criação muito bacana em casa e minha mãe, especialmente, sempre foi muito preocupada em me apoiar em todas as áreas da minha vida, não só sobre a minha orientação sexual. Ela sempre foi muito presente e isso ajudou a construir em mim uma autoestima saudável. Me posiciono quando preciso, falo quando acho que devo e, com certeza, isso veio dessa criação. Esse contexto me ajudou a chegar no mercado de trabalho sem medo de me posicionar.

Você viveu o mercado sendo abertamente gay durante toda a sua carreira. Eu queria saber como era isso anos atrás e como é agora? Muitas pessoas acabam separando o seu "eu gay" do seu "eu profissional", e no seu caso as duas coisas sempre se misturaram.

Não percebo duas realidades diferentes do que era no mercado de agências e no que é de forma muito marcante. O mercado de comunicação sempre foi vanguarda nesse sentido. É até engraçado porque tive uma vantagem por ser gay, por assim dizer. Sempre gostei muito de direção de arte para moda e, por isso, sempre fiz bem. Então, naturalmente, sempre fui chamado para essas demandas. Para mim, era ainda mais fácil viver como gay assumido nesse contexto, mas claro que aqui estou falando da minha experiência pessoal. Mas, o que eu noto é uma diferença quando se vai para fora das portas da agência. Assumir essa pauta, essas pessoas frente ao cliente tem um impacto diferente. Por mais que minha equipe seja repleta de pessoas de diferentes grupos identitários, escancarar isso para o cliente só foi mais naturalizado nos últimos anos. Na HOC (e aí, novamente, minha visão pessoal) existe esse movimento de assumir essa diversidade porta à fora. Mas no começo da minha carreira, nas agências, quando se saía "para fora", sabia que era uma coisa mais escondidinha.

Hoje em dia, como gestor assumidamente gay, como você vê a responsabilidade de trazer esse contexto da diversidade para o dia a dia da sua equipe?

Penso em dois grandes movimentos: um da porta para dentro e outro da porta para fora. Porta para dentro, é preciso ter consciência que como um gestor gay eu devo ser inspiração para qualquer pessoa do recorte que atuo. Porque isso mostra para outros gays que é possível ter sucesso, ser respeitado e ocupar espaços com representatividade. Ainda no olhar interno, entender a responsabilidade na hora das contratações.

Muito se discute na área de diversidade e inclusão o que é competência. Será que, às vezes, precisa-se de alguém que tenha inglês fluente ou vale muito mais a pena alguém que aprende rápido? O que você acha desse debate?

Eu penso que é um equilíbrio e digo mais, pode ser um movimento de compensar no conjunto da equipe também. A pessoa não tem essa competência, mas tem essa e pode aprender aquela com outra. Busco muito fazer esse exercício. E tem acontecido uma coisa que é muito boa para o mercado: vejo muitas pessoas de recortes minorizados que contratamos sem muita experiência porque vimos potencial crescerem, algumas - e isso falo sem problema nenhum - saindo para cargos maiores. É além do meu umbigo. Precisamos dar espaço para as pessoas crescerem na agência, mas também entender que oportunidades podem surgir e que bom que estamos botando no mercado tanta gente boa.

Como você vê a questão de preparar a equipe para receber a diversidade?

Isso é uma pauta ativa com todos os gestores e pessoas com quem trabalho. O que penso é trabalhar de maneira organizada e com metodologia para fazer essas pessoas entenderem. Sem isso, a gente acaba resolvendo muito pontualmente e deixa de sanar contextos maiores.

Para finalizar, o que é diversidade para um gestor gay assumido que orienta e inspira tantas pessoas?

Penso muito nessa questão de que nada se cria absolutamente do vácuo. Hoje, não é possível criar uma máquina de teletransporte porque talvez ainda se precise de peças que não existem. Não temos todas e temos um número limitado que não nos deixa chegar no resultado esperado: o teletransporte. O que quero dizer com isso é que quanto mais peças e opções criativas você tem, mais chances de fazer coisas criativas e diferentes você vai ter. São mais opções de coisas para combinar e recombinar. Então, quanto mais experiências, gostos, histórias e skills disponíveis no grupo de trabalho, mais criativo ele vai ser. A diversidade é a base da criatividade. Porque a gente está falando de referências de cada um, então, obviamente, quando mais diversa, mais criativa. Histórias e vivências plurais geram resultados únicos. Para mim, isso é a síntese do que é diversidade.


Esta matéria faz parte de um conteúdo especial sobre diversidade e Comunicação, produzido por Luan Pires para Coletiva.net. Todas as semanas, o jornalista publica uma entrevista exclusiva com o articulista do dia. Para conferir o artigo de hoje, assinado por Gregório Leal, clique aqui.

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