Especial rádio: os desafios do fazer radiojornalismo

Jornalistas Alexandre De Grandi e Andressa Xavier analisam o cenário do hard news na radiodifusão

Especial sobre rádio aborda hoje sobre hard news - Crédito: Banco de Imagens/Canva

Quando assistimos a um jogo de futebol, enquanto acompanhamos o minuto a minuto nos portais e escutamos no velho e bom radinho de pilhas, não há dúvida: é o meio mais velho que narra o gol primeiro. Chamamos isso de delay. E é exatamente esse tipo de situação que ilustra uma das principais características: mesmo com o avanço tecnológico, são as rádios que transformam o imediato em real. 

Com tamanho papel e com uma sociedade cada vez mais acelerada, trabalhar com radiojornalismo hoje pode ser apontado como um dos principais desafios para os comunicadores. A partir desta reflexão, a equipe do portal conversou com dois profissionais responsáveis pelo conteúdo hard news de emissoras de rádio para este segundo conteúdo da série especial sobre rádio veiculada nesta semana.

Credibilidade e confiabilidade

Editora-chefe da rádio Gaúcha, Andressa Xavier - Crédito: Mateus Bruxel

Na opinião da editora-chefe da rádio Gaúcha, Andressa Xavier, o rádio segue sendo um dos veículos preferidos das pessoas porque é ágil e companheiro. "Podemos ouvir rádio fazendo outras atividades e sabemos que há alguém do outro lado informando ou tocando música, com curadoria. Durante a pandemia foi nosso lema na Gaúcha: informar e ser boa companhia, sempre, mesmo que as notícias sejam pesadas e muitas vezes difíceis", relatou.

A jornalista ainda enxerga o quão interessante é ver o quanto a audiência subiu neste período de pandemia "graças à relevância do jornalismo profissional". Para evidenciar, Andressa destacou o último estudo Inside Radio, da Kantar Ibope Media, que apontou um crescimento de 43% de confiança no meio. "Isso comprova em números esse sentimento de que o público confia no que é apurado e divulgado neste veículo", salientou.

Alexandre De Grandi, apresentador do programa 'Bom dia, cidade!' da Rádio CDN de Santa Maria e gerente geral do Grupo Diário de Santa Maria, destacou que o rádio é a plataforma que resiste ao longo do tempo, ao surgimento de novos meios e às inovações tecnológicas, adaptando-se às mudanças constantes que impactam na Comunicação e no fazer Jornalismo. 

Além de falar da instantaneidade, a qual possibilita a inserção de notícias em tempo real, sem depender de edição, diagramação ou grandes aparatos tecnológicos, o jornalista enxerga que o meio ainda é companheiro dos ouvintes. "Ele permite que realizem outras atividades paralelas enquanto consomem informações, como dirigir, exercitar-se, entre outras", citou. 

Outro ponto destacado pelo profissional diz respeito à credibilidade e locução, bem como às vozes dos entrevistados e comunicadores, que emprestam confiança aos ouvintes pela proximidade e identificação que estas pessoas têm em suas comunidades. "São as vozes da cidade falando no rádio, diretamente com os ouvintes", explicou.

Desafios do hard news

Alexandre De Grandi, apresentador do programa 'Bom dia,cidade!' da Rádio CDN de Santa Maria e gerente geral do Grupo Diário de Santa Maria - 
Crédito: Divulgação

Equilibrar custos e receitas, ser sustentável e produzir jornalismo de qualidade: a tríplice é apontada por Alexandre como o maior desafio hoje do radiojornalismo. "Para fazer uma boa programação, que efetivamente acompanhe os principais fatos jornalísticos de uma localidade, precisamos de bons profissionais. E isso demanda investimentos", relatou. 

Na visão do jornalista, a independência editorial é outro fator a ser enfrentado hoje para quem trabalha com hard news. "Em tempos de polarização, fake news e confrontos políticos, principalmente no interior, não devemos permitir vínculos políticos ou financeiros com personalidades políticas", abordou ao completar que "a imparcialidade total é uma utopia, mas deve ser buscada incessantemente pelos profissionais."

Andressa Xavier também avaliou as fake news como um dos grandes desafios hoje do radiojornalismo. " O primeiro é ser muito pautado para desmentir boatos e desmentir notícias falsas", abordou. Conforme a jornalista relata, todos os dias recebem mensagens com links e perguntando se aquilo é verdadeiro. "Normalmente não é, como muita coisa que circula pelos grupos de WhatsApp e redes sociais." 

Além disso, a necessidade de equilíbrio entre notícia pesada e companhia é outra dificuldade que a jornalista enxerga. "O jornalista não escolhe se a notícia é boa ou ruim. Notícia é notícia, e não brigamos com os fatos. Ao mesmo tempo, temos o compromisso de procurar histórias que tragam um respiro em meio a tanto factual forte dos últimos meses", pontuou. 

Próximas ondas

Para o futuro, Andressa prevê que o meio estará vivo em diferentes plataformas. No radinho de pilha, no aparelho do carro, no streaming e sob demanda. Os próximos anos serão de rádio expandido, não importando o equipamento, mas a forma, a agilidade e o imediatismo que somente o rádio consegue ter", antevê.

Alexandre, por sua vez, acredita que o rádio é o veículo que tem o espaço garantido, tanto editorial, como comercial, futuramente. Entretanto, observa que o meio deve apenas incorporar outras formas de mídia para divulgar as notícias, como o uso de imagens das transmissões dos programas nas plataformas digitais das emissoras. "Interatividade constante com os ouvintes, inclusive com áudios enviados por aplicativos", resumiu.

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