Especialistas acreditam que Comunidades do WhatsApp facilitam fake news

Recurso permite aos usuários organizar até 50 grupos em um mesmo servidor e mandar mensagens para até cinco mil pessoas

01/03/2023 11:00 / Atualizado em 01/03/2023 06:18
Especialistas acreditam que Comunidades do WhatsApp facilitam fake news

Em janeiro, o WhatsApp disponibilizou para o Brasil a função Comunidades, que permite a organização de até 50 grupos dentro de um mesmo servidor e o envio de mensagens para até cinco mil pessoas ao mesmo tempo. Apesar do objetivo do recurso ser facilitar a organização de discussões com muitos interlocutores, pesquisadores e advogados especializados ouvidos pelo jornal O Globo acreditam que a novidade facilita a viralização da desinformação.

Além disso, o risco das Comunidades contribuírem para a propagação de fake news foi citado em um ofício enviado pelo Ministério Público Federal (MPF) à Meta, empresa detentora do WhatsApp, no ano passado. Na ocasião, por conta de um possível impacto nas eleições, o órgão solicitou o adiamento da implementação do recurso. O pedido foi acatado, visto que enquanto os demais países receberam a ferramenta ainda no ano passado, o Brasil teve acesso em 2023.

Coordenador do Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e professor no curso de Direito da instituição, Luca Belli entende que o rastreamento de conteúdos na nova ferramenta é mais difícil por conta dos mecanismos de segurança da plataforma. ?Pode ser particularmente pernicioso em termos de divulgação de fake news, porque é uma rede sujeita à criptografia?, explica.

Outro aspecto preocupante é a possibilidade de membros de uma comunidade transitarem em diferentes grupos que compõem essa rede. Nessa lógica, um usuário pode ir de uma conversa para outra facilmente. ?A ferramenta é uma forma de organizar e melhorar a circulação de informações. Mas vivemos um problema sério no qual tudo que toca na circulação de informação facilita também a desinformação?, pontua o professor de Estudos de Mídia da Universidade da Virgínia, David Nemer.

O pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital (INCT.DD), João Guilherme Bastos dos Santos, também vê um salto no potencial de propagação de inverdades. Segundo ele, passarão a existir grandes grupos que acelerarão a viralização no WhatsApp. ?Há potencial de apropriação disso por pessoas que disseminam desinformação política. Se você manda um vídeo e os usuários fazem o download, passa a ter várias réplicas dele. Você acelera o processo?, afirma.