Exclusiva: "Não me restam dúvidas de que me excedi", afirmou Peninha ao Coletiva.net

Comunicador teve evento e podcast suspensos após a repercussão das declarações feitas sobre a morte do influenciador norte-americano Charlie Kirk

15/09/2025 18:00
Exclusiva: "Não me restam dúvidas de que me excedi", afirmou Peninha ao Coletiva.net /Crédito: Redes Sociais

O historiador e jornalista Eduardo Bueno, o Peninha, teve evento e podcast suspensos após a repercussão das declarações feitas pelo comunicador sobre a morte do influenciador norte-americano Charlie Kirk, neste domingo, 14. Os cancelamentos ocorreram após ele publicar um vídeo nas redes sociais celebrando o assassinato de Kirk, morto por um tiro em um campus universitário em Utah, nos Estados Unidos. "Não me restam dúvidas de que me excedi. É evidente e óbvio. Não precisava de pessoas externas para me dizer isso", afirmou o comunicador em conversa com a reportagem de Coletiva.net.

De acordo com Peninha, pessoas mais próximas já tinham o alertado quando assistiram ao vídeo. "Disseram: 'nossa que mancada', porque foi do jeito errado e no momento errado", afirmou. Para o jornalista, a morte do influenciador deveria mostrar para o público quem realmente era Charlie Kirk. 

Peninha disse ainda que ele mesmo chamou a revolta que está recebendo e que está enfrentando a situação. "Só lamento que não tenha colaborado mais para desmascarar essa 'criatura'. Mas errei, já admiti que errei. Não estou buscando perdão da extrema direita."

Peninha ressaltou que não festejou o assassinato e nem a pessoa que o cometeu. "Disse de uma forma ou um jeito equivocado, em um momento equivocado, mas é algo que mantenho. Não o celebrei, pois sou um pacifista, não tenho armas, faço muita campanha pelo desarmamento."

Repercussão

A Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) cancelou o evento 'Brasil: pecado Capital' que estava marcado para ser realizado neste domingo, 14, com o Peninha. Em nota oficial, a universidade afirmou que o encontro não será mais realizado no salão da instituição, em razão da rescisão do contrato de locação, e informou que a atividade era organizada por terceiros. "A Pucrs reforça o compromisso com a liberdade de expressão, mas repudia qualquer manifestação contrária à vida e à dignidade humana, reafirmando que tal postura não condiz com sua cultura nem com seus valores institucionais."

O podcast 'Nós na História', criado em 2021 e integrado por Peninha, Arthur Gubert e Luciano Potter, foi suspenso após a repercussão negativa das declarações do comunicador. "Por conta dos últimos acontecimentos, tomamos a decisão de encerrar o podcast 'Nós na História'. Obrigado a quem nos acompanhou até aqui", escreveram Arthur e Potter nas redes sociais.

Arthur também publicou um vídeo no qual afirma que discorda e não compartilha das opiniões de Peninha sobre o assunto. "Acho assassinato algo muito triste, ainda mais quando fica para trás uma família, uma mulher e duas filhas. E o que o Peninha falou nas redes sociais dele, ele terá que arcar com as consequências disso. A minha opinião é de discordância completa com o que foi dito naquele vídeo."

Em suas redes sociais, Potter se posicionou dizendo que ficou muito triste quando ficou sabendo. "Foi muita tristeza ver o vídeo do assassinato e saber que duas meninas ficaram sem um pai, ou seja, é absurdamente clara a minha opinião. Peninha colocou nas redes sociais dele, não tem nada a ver com programa, cada um pensa e publica o que quer, e arca com as consequências."

O vídeo original de Peninha acabou sendo derrubado pelo Instagram. Mais tarde, o jornalista divulgou um segundo se retratando sobre o caso.

Confira a declaração de Peninha na íntegra:

Não restam dúvidas de que eu me excedi. É evidente, é óbvio. Eu não precisava de pessoas externas pra dizer isso, porque eu mesmo sei. E acima de tudo as pessoas que me cercam mais intimamente sabem, e aliás, desde o momento em que viram o vídeo disseram: "nossa, que mancada", porque foi do jeito errado e no momento errado.

Mas a morte dessa criatura deveria servir pras pessoas saberem mais de que tipo de gente que se tratava. E eu não colaborei para desmascarar o cara, pelo contrário, fiz o oposto. Tem gente que acha que ele se tornou mártir, mas é muito complexo achar que um cara que morreu em função de um discurso que ele mesmo provocava e cuja uma das principais frases era "Eu desprezo a empatia", que ele colocou várias vezes que ele tinha horror da palavra empatia, tenha surpreendentemente despertado tanta empatia de gente que festejou a morte da Marielle Franco, de gente que desejou a morte do neto e do irmão do Lula, de gente que festejou o câncer do Lula e da Dilma.

Mas nunca se esperou nada de diferente da hipocrisia da extrema-direita. E dei combustível para eles. Então, eu próprio, chamei essa revolta pra cima de mim. Estou lidando com ela, estou encarando e enfrentando a situação, só lamento que não tenha colaborado mais para desmascarar essa criatura que mantenho, que considero desprezível e perigosa. 

Eu não sou nem perigoso nem desprezível, mas errei, já admiti que errei. Não estou buscando perdão da extrema direita, se você ver qual é o perfil dos, infelizmente chamemos assim, parlamentares, vereadores e deputados de Porto Alegre e deputados federais, todos de extrema direita. Todos que sempre fizeram um discurso de ódio, todas as pessoas que têm o meu mais absoluto desprezo... agora se posicionam. 

Gostaria de saber qual é a posição deles, por exemplo, com relação à morte do Gari, assassinado em Belo Horizonte por um cara que se dizia patriota e pai de família, marido exemplar, que inclusive matou com a arma da esposa que é delegada de polícia. Não vi tanta empatia com o Gari.

Mas evidentemente, óbvio que foi um equívoco da minha parte. Eu gostaria que o meu discurso tivesse sido parecido com o do pastor Wesley, um pastor preto. Americano, cujo discurso tem viralizado por aí, e faço as palavras dele exatamente as minhas palavras. Por fim, ressaltando que eu não festejei o assassinato nem o assassino, porque eu disse de uma forma ou de um jeito equivocado, num momento equivocado, foi algo que eu mantenho. 

O mundo fica melhor com a ausência de pessoas que nem o cara que foi assassinado, cujo assassinato eu não celebrei, o assassinato em si, porque evidentemente sou um pacifista, não tenho arma, faço muita campanha pelo desarmamento, e, acho de fato que o mundo fica melhor sem pessoas que nem ele, e acho que o mundo fica melhor com pessoas que nem eu, que escreveu 41 livros, traduziu 22 livros, editou mais de 250 livros, todos admiráveis. Especialmente os que eu editei e os que eu traduzi, embora os meus também sejam bons. E que mantenham há oito anos no YouTube um canal que ajudou muita gente a ter uma nova e mais libertária visão da história do Brasil.