Desde 28 de outubro, a imprensa de todo o Brasil repercute os acontecimentos e os efeitos da Operação Contenção, deflagrada pela força policial do Rio de Janeiro nos complexos do Alemão e da Penha com objetivo de combater o Comando Vermelho (CV). Jornalista do Grupo RBS Jocimar Farina, esteve in loco para cobrir os efeitos da ação, considerada a mais letal da história do estado, com 121 mortos entre suspeitos e policiais. Em conversa com a reportagem de Coletiva.net, ele compartilhou detalhes sobre o trabalho desenvolvido e contou um pouco do que viu durante a cobertura.
?Achei que não veria mais corpos enfileirados em tamanha proporção?, relatou. Isso porque em 2011, pela rádio Gaúcha, o jornalista já havia participado de uma cobertura na serra do Rio de Janeiro, quando mais de mil pessoas morreram em decorrência de uma chuva histórica. ?Quase 15 anos depois, voltei ao Rio e me deparei novamente com uma quantidade grande de mortes, agora, após confronto da polícia com traficantes?, acrescentou.
Segundo Jocimar, o conflito armado é evidente. ?Os moradores da favela vivem acuados, com medo dos traficantes e com receio de como a atuação da polícia pode impactá-los?, relatou. Essas pessoas querem a expulsão dos criminosos, mas na percepção do jornalista, há um desejo ainda maior de uma atuação mais constante do Estado nessas regiões, levando políticas públicas que não existem lá.
Insegurança e falta de transporte
O profissional desembarcou no Rio de Janeiro na noite de 28 de outubro e notou ruas e avenidas vazias. Ao conversar com as pessoas, os primeiros relatos eram sobre o clima de insegurança e a dificuldade de locomoção. ?O comércio, mesmo em áreas distantes do local da operação, ficou fechado até alguns dias depois dela, e as escolas suspenderam aulas. Percebi uma presença ostensiva da polícia na cidade, mas menos na área onde houve a operação?, explicou. Ainda assim, dentro do Complexo da Penha, Jocimar sentiu que havia um ?medo permanente da polícia?.
Enquanto isso, na Zona Sul e no Centro da cidade, observou um clima diferente. ?Não havia um temor direto em relação à segurança, mas uma preocupação sobre a possibilidade de o transporte público ser afetado novamente?, relatou.
Equilibrando trabalho e segurança
Jocimar iniciou a cobertura pelo hospital que recebeu os feridos, o Getúlio Vargas, localizado entre os dois complexos alvos da operação. O objetivo era estar em um lugar com grande movimentação de pessoas. ?Logo em seguida começaram a chegar as primeiras informações de corpos que estavam sendo levados para uma praça no Complexo da Penha. Eu sabia que precisava ir para este local?, afirmou. Apesar de estar próximo, foi cauteloso com a própria segurança: ?Fui avançando sempre que identificava a presença da polícia?.
Ao se aproximar do local onde estavam os corpos, já não havia viaturas, então o seu termômetro se tornou a reação dos moradores diante da presença da imprensa. ?Fui um dos primeiros jornalistas a chegar ao local. Depois que identifiquei a chegada da Defesa Civil ali, fui avançando até o ponto onde os corpos estavam sendo deixados. Concluída a remoção até o Instituto Médico Legal, busquei atualizar-me sobre a situação das necropsias?, acrescentou.
Entre os desafios, Jocimar enumerou: ?Não deixar o emocional interferir, não se expor em ambientes hostis que não ofereçam proteção e procurar a melhor abordagem para a cobertura?. Outra dificuldade que passou foi justamente para conseguir informações. ?Senti uma certa resistência por parte do governo do Rio para fazer as divulgações e atualizações sobre a operação?, revelou. Isso também existia pelo lado de alguns dos moradores dos complexos, que estavam mais exaltados, o que acabou se externando no trato com outros jornalistas.