Jornalistas relembram cobertura dos cinco anos do acidente da Chapecoense

Clube faz homenagem 'Pra Sempre Lembrados' nesta noite, na Arena Condá

Rodrigo Lopes e o fotógrafo Bruno Alencastro a caminho do local do acidente. - Crédito: Arquivo Pessoal / Rodrigo Lopes

Há exatamente cinco anos, o avião que transportava a delegação da Associação Chapecoense de Futebol caiu, por falta de combustível, e vitimou 71 pessoas. Em conversa com o Coletiva.net, jornalistas contam como foram os dias da cobertura da tragédia, que aconteceu em Medellín, na Colômbia. Entre as vítimas, além do time de futebol, 21 profissionais da Imprensa. Para os repórteres que participaram da cobertura, Bruna Ostermann, Felipe Nabinguer e Rodrigo Lopes, a data traz tristes recordações . Para marcar os cinco anos da tragédia, a Chapecoense organizou uma homenagem às vítimas, 'Pra Sempre Lembrados', que será realizada hoje, às 19h, na Arena Condá, em Chapecó. 

A repórter da CNN Bruna Ostermann, à época no SBT, lembra que começou a cobertura com uma visita à casa do jogador Alan Ruschel, um dos sobreviventes, para acompanhar as notícias junto com a família dele. "A cobertura no local foi muito triste. O time surgiu da união da comunidade de Chapecó, dos apaixonados por futebol, que queriam uma equipe profissional. A Chape vivia o auge e as pessoas contavam que estavam em êxtase com a boa fase e chance de título internacional", recordou. 

Ela disse não esquecer as inúmeras coroas de flores espalhadas pelo gramado do estádio. Por outro lado, ter a oportunidade de acompanhar o retorno de Alan Ruschel para casa foi como "um aconchego no coração". "Hoje eu lembro do trabalho com muito respeito àquela comunidade e com a certeza de que tanto a tragédia, quanto as pessoas que conheci lá, tornaram-me uma jornalista mais humana", refletiu a repórter. 

Quem viveu não esquece

Enviado da rádio Guaíba à Arena Condá, Felipe Nabinger relembra a angústia dos dias que antecederam o velório e as incertezas sobre o translado dos corpos. "Até por isso, os dias antes do velório coletivo foram mais tensos que a própria cerimônia. Foram vários os momentos marcantes e emocionantes. Mesmo que tivéssemos que dar a informação, manter certo distanciamento emocional, foi impossível não ter momentos em que a tristeza atingia também os profissionais de imprensa. Somos humanos e a dor também foi nossa, que tivemos colegas de profissão vitimados pelo acidente." 

Sob o ponto de vista jornalístico, um episódio marcante da cobertura de Nabinger foi quando o pai do zagueiro gaúcho Filipe Machado, Osmar Machado, criticou Michel Temer, pois especulava-se que o então presidente visitaria Chapecó e ficaria no aeroporto, local em que as famílias receberiam uma homenagem. "Foi primeiro no microfone da Guaíba que Osmar criticou Temer, afirmando que não iria ao encontro do presidente, que ele viesse ao estádio ou nem precisaria vir, pois a dor era das famílias, que perderam pessoas importantes. Ao dar a declaração, o restante dos repórteres correu para entrevistá-lo e suas declarações repercutiram nacionalmente." No dia seguinte, Temer foi presencialmente à Arena Condá. 

Cobertura em solo internacional 

Único gaúcho a visitar o local da tragédia e ir até a Colômbia, o repórter de GZH Rodrigo Lopes, que tem em seu currículo coberturas de guerras, terremotos e furacões, relata ser completamente diferente estar em um trabalho distante de casa, cobrindo vítimas brasileiras. Ele viajou acompanhado do fotógrafo Bruno Alencastro. Para Rodrigo, eles sofriam juntos, e torciam pela recuperação dos sobreviventes. "A emoção surgia a todo momento: caminhando pelo que havia sobrado do avião, vendo no chão, próximo à fuselagem, roupas, equipamentos, livros, como uma bíblia, pranchetas. Era possível imaginar o que cada um estava fazendo quando o desastre ocorreu." 

Na lembrança do jornalista também está o dia em que ocorreria o jogo, e a torcida colombiana gritou o nome da Chape, como se fosse o time deles. O profissional não gostaria de cobrir uma tragédia como aquela. Afinal, é muito duro, é muito triste. "Mas tenho certeza de que, ao estar lá, pude trazer um pouco da solidariedade dos colombianos para ajudar a acalentar o coração de familiares, amigos e torcida, enfim, de uma população em luto", lembrou Rodrigo. 

A data também foi lembrada pela comunicadora Débora de Oliveira, que recebeu o jornalista Andrei Rossetto, a psicóloga especialista em luto Melissa Couto e o pai do jogador Alan, Flávio Ruschell, no programa 'Ponto e Contraponto', da rádio ABC 103.3 FM, na última sexta-feira, 26.

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