Jornalistas são atacados durante cobertura de manifestação em Porto Alegre

Equipes de Band, Grupo RBS, RDC TV, Record e SBT relataram casos de agressão e intimidação

Câmera do SBT registrou a ação de intimidação contra o repórter Lucas Abati e equipe - SBT RS

Durante esta quarta-feira, 2, equipes de Jornalismo de Band TV, RDC TV, Record e SBT foram atacadas, ao cobrirem as manifestações contra o resultado da eleição presidencial. Alguns profissionais sofreram agressões físicas, enquanto outros foram intimidados ou impedidos de trabalhar. Os episódios ocorreram em frente ao Comando Militar do Sul, em Porto Alegre, onde os manifestantes se concentravam. 

Durante a cobertura, um militante desferiu socos em um cinegrafista e no motorista da Band, que gravavam imagens com um repórter. Soldados do 11º Batalhão de Polícia Militar intervieram após constatarem a agressão. As vítimas foram encaminhadas ao Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre para a realização de exame. Apesar do ocorrido, todos passam bem. O agressor foi identificado e preso em flagrante.

Ainda no mesmo dia, o repórter João Pedro Tavares e um cinegrafista da RDC TV foram cercados por homens e impedidos de realizarem o trabalho. A reportagem estava ao vivo no programa 'Portal RDC', quando, na transmissão -  é possível notar uma desestabilização na imagem da câmera, e logo depois o equipamento é desligado. Os profissionais lavraram boletim de ocorrência e também passam bem. 

Outra equipe atacada foi a da Record TV, quando a repórter Daiane Dalle Tese, junto ao seu cinegrafista e um auxiliar, foram impedidos de trabalhar, logo após chegarem ao local. Dois homens os intimidaram e os expulsaram do lugar. Ao dizer que estava trabalhando, a jornalista foi retrucada por um manifestante que disse que as matérias "estavam mentindo". Um vídeo do atentado foi publicado nas redes sociais do canal. A equipe do SBT também foi amedrontada, porém por quatro homens que pediam explicações sobre os termos utilizados pela reportagem para relatar as manifestações. O jornalista Lucas Abati e seu cinegrafista foram obrigados a deixar o local. Toda a ação foi gravada pela câmera da emissora.

No dia anterior, na terça-feira, 1º, jornalistas do Grupo RBS também foram atacados em protestos contra o resultado das eleições. Os casos, porém, aconteceram em locais diferentes. Um repórter da Rádio Gaúcha foi intimidado na BR-116, enquanto, no mesmo dia, um profissional da RBS TV foi confrontado na RS-040.

Repercussão 

Os casos de agressão repercutiram nas redes sociais e fizeram autoridades manifestarem-se. No Twitter, o governador Ranolfo Vieira Junior, disse: "Repudio os episódios de hostilidade aos profissionais de imprensa que estavam cobrindo as manifestações no Centro de Porto Alegre nesta quarta-feira e expresso minha irrestrita solidariedade àqueles que foram agredidos e tiveram seu trabalho jornalístico prejudicado". O chefe do executivo estadual ainda informou que soldados da Brigada Militar foram deslocados para acompanhar individualmente as equipes de reportagem no local, a fim de assegurar o pleno exercício da liberdade de imprensa". Em contato com a reportagem de Coletiva.net, o órgão de segurança manifestou que o acompanhamento foi realizado apenas na quarta-feira. Já nesta quinta-feira, 3, as manifestações estão menores e não foi identificada a necessidade do trabalho. Mas, caso haja demanda, a assistência poderá ser retomada.

O governador-eleito do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, também manifestou-se na rede social. "Ataques à imprensa são atentados contra a democracia", disse. Ele ainda ressaltou que os episódios são "inaceitáveis e devem ser repudiados por todos". O prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, também saiu em defesa dos profissionais. "Lamento imensamente os ataques sofridos pelos profissionais de comunicação durante as manifestações", escreveu. "A democracia é o império da lei. Nenhuma mobilização dá licença a quaisquer agressões ou ao cerceamento da liberdade de imprensa. Perdemos todos", completou no manifesto.

Entidades condenam os casos

Em nota conjunta, a Associação Gaúcha de Emissoras de Rádio e Televisão (Agert) e o Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão do Rio Grande do Sul (SindiRádio) repudiaram os casos. No registro, ainda manifestaram solidariedade aos profissionais "que diligentemente cumprem sua missão de bem informar".

A Associação Riograndense de Imprensa (ARI) também condenou os ataques em comunicado oficial. Em nota, registra o manifesto de "integral solidariedade aos profissionais e empresas atacados e proclamamos veemente repúdio aos atos de violência". A entidade, ainda conforme o texto na nota, está "comprometida com a democracia e com a defesa da liberdade de expressão" e por isso "apela às autoridades para que garantam o livre exercício da atividade jornalística e punam os agressores na forma da lei".

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors), além de registrar em nota que repudia com veemência os ataques sofridos por, pelo menos, três jornalistas, também destacou que o incidente "só ratifica o relatório de 2021 da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) - sobre Violência contra jornalistas e liberdade de imprensa no Brasil". Isso porque "no ano passado, foram 18 casos de agressões a jornalistas, na Região Sul, representando 6,06% do total (430 casos). O Rio Grande do Sul foi o segundo Estado da região com mais casos".

O Tribunal de Justiça Militar do Rio Grande do Sul (TJMRS) condenou os atos de violência. Em nota, a entidade manifestou que as "liberdades de expressão e de imprensa são pilares essenciais de uma sociedade democrática". O comunicado ainda registrou que essas bases "sob pretexto algum, podem ser atacadas por qualquer forma de violência".

O que dizem as emissoras

A Band Rio Grande do Sul manifestou repúdio às agressões a seus funcionários. "É inaceitável qualquer tipo de violência, assim como o cerceamento ao exercício do trabalho jornalístico. O devido boletim de ocorrência foi registrado na 2° Delegacia de Polícia. As medidas legais cabíveis foram acionadas."

A RDC TV também repudiou os ataques. "A Rede Digital de Comunicação repudia qualquer ato de violência e de tentativa do cerceamento do trabalho de imprensa. Assim como o direito de livre manifestação é fundamental para a democracia e, por isso, dedicamos espaço para mostrar os protestos, a Liberdade de Imprensa é base de um regime democrático. Seguiremos realizando nosso trabalho de maneira isenta, mostrando todos os lados, sem cedermos a qualquer tipo de pressão".

A Record TV Rio Grande do Sul também saiu em defesa de seus profissionais. "Destacamos a importância da liberdade de imprensa no acesso aos locais onde estão os fatos, para que a informação chegue a toda a população. Nossa solidariedade e apoio aos colegas da Band RS, RBS TV, RDC TV e SBT RS que também foram impedidos de realizar seus trabalhos."

O SBT condenou os ataques. "O Jornalismo do SBT repudia e condena os atos de hostilidade. As agressões a jornalistas são atentados contra a liberdade de imprensa e não podem ser toleradas."

Confira logo abaixo a manifestação completa da Agert, em conjunto com o Sindirádio:

A Associação Gaúcha de Emissoras de Rádio e Televisão (AGERT) em conjunto com o Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão do Rio Grande do Sul (SindiRádio) vêm a público manifestar seu repúdio aos atos de hostilidade e agressões sofridos pelos profissionais dos grupos SBT e Band, durante o exercício legal de suas atividades profissionais ao cobrirem as manifestações no centro de Porto Alegre, na tarde desta quarta-feira (2).

De outra parte, manifestamos nossa solidariedade aos profissionais que diligentemente cumprem sua missão de bem informar.

Meios de comunicação livres serão sempre um importante pilar do Estado Democrático de Direito.  

 

Roberto Cervo Melão

Presidente AGERT e Sindirádio.

Confira logo abaixo a manifestação completa da ARI:

ARI condena agressões a jornalistas

Neste 2 de novembro, Dia Internacional pelo Fim da Impunidade de Crimes contra Jornalistas - data escolhida pela ONU para marcar o assassinato de dois jornalistas franceses em Bali, em 2013 - a Associação Riograndense de Imprensa ARI vem a público para se solidarizar com os profissionais e veículos de comunicação covardemente atacados por integrantes de manifestação antidemocrática em Porto Alegre. Agressões, ameaças, xingamentos e outros tipos de desrespeito tem sido o cotidiano de quem busca a informação e atua com o jornalismo responsável.

Frequentes em várias partes do país durante o período eleitoral, as agressões e ameaças a jornalistas vêm se intensificando desde a madrugada do dia 31, com a divulgação do resultado do pleito presidencial. Jornalistas estão sendo maltratados, destratados e agredidos, impedidos de fazer gravações e entrevistas no Estado, em Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Amazonas e em muitas outras praças. A Federação Nacional dos Jornalistas, a Associação Brasileira das Empresas de Rádio e Televisão, a Associação Brasileira de Imprensa, e sindicatos de diversos Estados vêm protestando contra essa situação.

Nesse contexto, também manifestamos integral solidariedade aos profissionais e empresas atacados e proclamamos veemente repúdio aos atos de violência. Comprometida com a democracia e com a defesa da liberdade de expressão, a ARI apela às autoridades para que garantam o livre exercício da atividade jornalística e punam os agressores na forma da lei.

 

José Maria Rodrigues Nunes

Presidente da ARI

 

Batista Filho

Presidente do Conselho Deliberativo

Confira logo abaixo a manifestação completa do Sindjors:

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul - Sindjors - vem a público repudiar com veemência os ataques sofridos por, pelo menos, três jornalistas da capital, que foram impedidos de exercer seu direito ao trabalho. Durante esta quarta-feira (02/11), equipes da Tv Bandeirantes, RecordTV RS e do SBT foram hostilizadas pelos manifestantes que se concentravam no Centro Histórico de Porto Alegre, protestando contra a derrota do atual presidente Jair Bolsonaro, no pleito de 2022. Entre palavras de ordem como intervenção militar e a inconformidade com o resultado das eleições, bolsonaristas abusaram do direito à manifestação, com atos antidemocráticos. E isso só ratifica o relatório de 2021 da FENAJ - Federação Nacional dos Jornalistas - sobre Violência contra jornalistas e liberdade de imprensa no Brasil. No ano passado, foram 18 casos de agressões a jornalistas, na Região Sul, representando 6,06% do total (430 casos). O Rio Grande do Sul foi o segundo Estado da região com mais casos.

Durante as abordagens deste feriado de Finados, manifestantes agrediram verbal e fisicamente os e as integrantes das equipes, ameaçaram e expulsaram os e as profissionais das áreas de manifestação. Desde o domingo à noite, assim que foi confirmada a vitória do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva para liderar o país a partir de 1º de janeiro de 2023, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro tomaram rodovias e ruas de diversas cidades em quase todos os Estados do país. Nas estradas, caminhões e carros formavam barricadas para impedir a passagem, e fogo era ateado em pneus. Com a ordem do ministro Alexandre Moraes, para que fossem desobstruídas as vias, a hostilidade dos manifestantes ficou ainda mais intensa e agressiva.

Confira logo abaixo a manifestação completa do TJMRS:

O Tribunal de Justiça Militar do Rio Grande do Sul repudia e condena os atos de violência contra profissionais de comunicação dos Grupos Band e SBT durante a cobertura que realizavam de manifestações no centro de Porto Alegre na tarde desta quarta-feira (2/11).

As liberdades de expressão e de imprensa são pilares essenciais de uma sociedade democrática e, sob pretexto algum, podem ser atacadas por qualquer forma de violência.

Desembargador Amilcar Macedo

presidente do TJMRS

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