Juremir Machado da Silva é demitido do Correio do Povo

Em conversa com o Coletiva.net, o jornalista contou que julga o desligamento "como um ato editorial ideológico da direção do jornal"

Juremir afirmou que seus conteúdos foram censurados durante os últimos anos no Correio do Povo - Crédito: Reprodução

Na tarde desta segunda-feira, 3, uma postagem do comunicador Juremir Machado da Silva, no Twitter, pegou os seus seguidores de surpresa. Isso porque ele anunciou que foi desligado do jornal Correio do Povo, no qual assinava uma coluna desde 2002. Em conversa com o Coletiva.net, o jornalista contou que julga sua demissão "como um ato editorial ideológico da direção do jornal".

"O projeto de extrema direita bolsonarista não quer saber de pluralismo", escreveu na rede social. Em agosto de 2020, Juremir também foi demitido de outra emissora do grupo Record, a Rádio Guaíba. "Eu sempre fiz as críticas cabíveis a um governo que acredito que deva ser contestado, mas parece que internamente não gostam disso", manifestou em conversa exclusiva com a equipe do portal.  

Relacionamento delicado com a emissora

Juremir afirmou que seus conteúdos foram "censurados durante os últimos anos no Correio do Povo" e que a relação com o grupo Record "não estava saudável há algum tempo". "Isso começou bem antes, quando fui impedido de entrevistar o então candidato à presidência Jair Bolsonaro, em um programa no qual eu fazia parte. A minha revolta com a situação gerou um desconforto com a direção."

Após o ocorrido, Juremir disse que naquele momento começou a sua demissão do grupo. "Após o meu desligamento da rádio, sofri algumas outras censuras, como, por exemplo, o pedido de retirada de parágrafos e frases dos meus textos criticando o atual presidente da República", acusou. "Podem ver, os meus textos não falavam mais do Bolsonaro", observou, dizendo ainda que não havia pedido para sair porque acreditava que a situação interna melhoraria.

O ano de eleição pode ter sido um dos fatores da demissão do jornal, de acordo com Juremir. Ele lembrou da entrevista que estava marcada com o ex-presidente Lula no programa 'Esfera Pública', da Guaíba, ao lado da jornalista Taline Oppitz

Segundo ele, 10 minutos antes de iniciar a entrevista, a direção solicitou que não fosse feita. "Nunca tive a oportunidade de dizer, mas agradeço ao meu amigo Nando Gross, na época chefe da rádio, que foi incansável para que fosse ao ar, mas infelizmente a direção da emissora não autorizou", lembrou Juremir. 

"Levei duas pancadas antes de fazer 60 anos"

"Foi um presente de grego", disse o comunicador. Ele contou que está muito triste com a demissão, pois já passou por outros veículos e, segundo ele, não havia sido tratado desta forma. "Eles me tiraram aos poucos, nunca tinha acontecido isso comigo. Tenho 35 anos de Jornalismo e levei duas pancadas antes de fazer 60 anos de vida, no final de janeiro", desabafou. 

Sobre o futuro, Juremir disse que continuará como professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), além de escrever livros e atuar na pesquisa universitária. "Sou docente de uma instituição maravilhosa, quem sabe, com algum convite eu possa voltar a atuar em veículos de Comunicação", finalizou. 

Procurado pela equipe de reportagem do portal, o diretor do Correio do Povo, Sidney Costa, confirmou a demissão de Juremir em nota. A manifestação assinada pelo executivo registra que o jornal passa por uma reestruturação em algumas áreas. No texto, ele ainda escreve que "as mudanças incluem investimentos na integração digital/impresso e ajustes pontuais nos setores de produção de conteúdo em suas diversas plataformas".

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