Leandro Demori é investigado após fazer matéria com denúncia sobre polícia do RJ

Editor-executivo do site The Intercept Brasil escreveu sobre possível existência de um grupo de extermínio na corporação do Rio de Janeiro

Leandro Demori é alvo de inquérito da Polícia Civil do RJ - Reprodução/Portal Mescla

Depois de escrever uma matéria denunciando a possível existência de um grupo de extermínio na Polícia Civil do Rio de Janeiro, o editor-executivo do site The Intercept Brasil, Leandro Demori, viu seu nome ser alvo de inquérito. O jornalista gaúcho  está sendo acusado de calúnia.

Na matéria veiculada em 8 de maio, o profissional citou evidências de que poderia existir policiais matadores dentro da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), espécie de grupo de elite da PC. Conhecidos como "facção da Core", eles estariam envolvidos na operação da Favela do Jacarezinho, em 6 de maio, que teria deixado 28 mortos. Ainda no texto, o editor cobra a investigação das suspeitas, tanto em relação às operações, quanto à atuação dos delegados que as comandaram. 

No entanto, sentindo-se ofendidos com a reportagem, policiais integrantes do grupo que atuou na ação pediram a abertura do inquérito, que foi aberto pela  Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI). O Intercept Brasil decidiu que o jornalista não se submeterá ao depoimento policial que ataca nosso jornalismo. Os motivos forma apontados em texto publicado nesta tarde,10, no site, entre eles está a liberdade de imprensa.

Para a Associação Brasileira de Imprensa (Abraji), esta atitude é uma forma de tentar frear o trabalho da imprensa. Em nota lançada em seu site, a entidade lembra  que a DRCI é comandada por Pablo Dacosta Sartori, o mesmo delegado que intimou o youtuber Felipe Neto por supostamente violar a Lei de Segurança Nacional, ao chamar o presidente Jair Bolsonaro de genocida. "Sartori também atuou como agente e escrivão em outra intimação, a que determinava o depoimento da dupla de apresentadores do Jornal Nacional, William Bonner e Renata Vasconcellos, por suposto crime de desobediência a decisão judicial", destaca. 

Confira a nota da Abraji:

Abraji questiona abertura de inquérito para investigar jornalista do Intercept Brasil

Nesta terça-feira (08.jun.2021), o The Intercept Brasil tornou público que o editor-executivo do site, Leandro Demori, é alvo de um inquérito policial por ter divulgado informações sobre a suposta existência de um grupo de extermínio na Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil do Rio de Janeiro.

Demori, um dos jornalistas investigativos mais reconhecidos do país, foi intimado a prestar depoimento na Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) do Rio, na próxima quinta-feira (10.jun.2021). 

A DRCI é comandada por Pablo Dacosta Sartori, o mesmo delegado que intimou o youtuber Felipe Neto por supostamente violar a Lei de Segurança Nacional ao chamar o presidente Jair Bolsonaro de genocida. Sartori também atuou como agente e escrivão em outra intimação, a que determinava o depoimento da dupla de apresentadores do Jornal Nacional, William Bonner e Renata Vasconcellos, por suposto crime de desobediência a decisão judicial. 

Desta vez, Sartori solicitou à delegada Daniela dos Santos Rebelo Pinto a abertura de um inquérito contra Demori por calúnia. O próprio Sartori é testemunha do caso. 

A newsletter divulgada pelo Intercept em 08.mai.2021 pergunta: "A Polícia Civil do Rio mantém um grupo de assassinos?". A reportagem foi publicada dois dias depois da mais letal operação das forças de segurança da história do Rio de Janeiro, que resultou na morte de 28 pessoas, incluindo um policial, na comunidade do Jacarezinho. Demori lembrou que ações anteriores da Core também tiveram um número expressivo de mortos.

A Abraji considera a intimação a Leandro Demori uma tentativa de cercear o trabalho da imprensa. Empoderadas pelos ataques desferidos pelo presidente da República e outras autoridades públicas à imprensa e aos jornalistas, as forças policiais se sentem respaldadas para convocar jornalistas a dar explicações como forma de intimidar seu trabalho de informar a população sobre assuntos de interesse público. Apelam de forma rápida para o ataque imediato ao mensageiro, em vez de apurar as graves denúncias e prestar contas à sociedade. 

Diretoria da Abraji, 08 de junho de 2022.

Comentários