Profissionais se posicionam contra liberação do porte de armas para jornalistas

Nando Gross, Renato Dornelles e Fabio Berti falaram com Coletiva.net sobre decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro

Renato Dornelles, Nando Gross e Fabio Berti - Reprodução

Nesta terça-feira, 7, o presidente Jair Bolsonaro assinou decreto - publicado hoje, 8, no Diário Oficial da União - que amplia a quantidade de categorias e pessoas que têm direito a porte de armas no Brasil. Entre os que agora podem carregar armas de fogo consigo, estão os profissionais de imprensa que atuam em coberturas policiais.

Vale lembrar que o porte dá direito a pessoas andarem armadas nas ruas, diferentemente da posse, que apenas permite ter o objeto em propriedade privada, seja residencial, rural ou comercial. Para abordar este assunto, Coletiva.net entrou em contato com profissionais do mercado, especialistas em cobertura policial, além de um professor universitário, para saber a opinião deles sobre este decreto.

Renato Dornelles, que é repórter da editoria de Segurança de GaúchaZH e Diário Gaúcho, além de ser autor do livro 'Falange Gaúcha' e codiretor e roteirista do documentário 'Central', se posicionou contra o decreto. Afirmou que apenas aqueles que estão sendo comprovadamente ameaçados devem portar armas - conforme o próprio Estatuto do Desarmamento permite. "Cubro a área há anos e não vejo a necessidade de carregar comigo uma arma. Inclusive, me sentiria mais inseguro com uma arma do que sem ela. Apenas ser repórter policial não justifica poder portar arma", afirmou.

Gerente-geral da rádio Guaíba, Nando Gross também foi ouvido pela equipe do portal e explicou que não acredita que essa solução protegerá os jornalistas - e nem a sociedade. "Não me agrada. Legalização do porte de arma não é uma medida de segurança, muito pelo contrário", destacou o profissional, que também se mostrou preocupado com as chances de fraude. Gross também questionou a utilidade de armas em uma reportagem: "Afinal, o que um jornalista vai fazer com uma arma durante uma cobertura policial? Entrar em um tiroteio?".

Coordenador dos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Turismo do Centro Universitário Metodista IPA, Fabio Berti ressaltou que apenas as autoridades de segurança pública devem andar armadas, por serem pessoas preparadas, treinadas e habilitadas para tal. "O jornalista deve utilizar apenas as suas ferramentas, como caneta e câmera fotográfica. Durante coberturas policiais, os profissionais da imprensa devem estar respaldados por agentes de segurança", explicou. Berti também contou que defende o Estatuto do Desarmamento, destacando estudos que apontam para a diminuição da criminalidade por conta dele.

Procurada por Coletiva.net, a Associação Riograndense de Imprensa (ARI) não se manifestou sobre o assunto, pois realizará uma reunião para debater o tema na próxima quinta-feira, 9.

O decreto pode ser conferido na íntegra aqui.

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