A culinária da imigração italiana é refletida em mesas fartas, carrega histórias e dedicação daqueles que chegaram no Rio Grande do Sul há 150 anos. Essa memória é registrada e compartilhada no livro 'Culinária da Imigração Italiana no RS: Receitas e História', publicado pela Editora da Universidade de Caxias do Sul (EDUCS) e disponibilizado gratuitamente no formato de e-book. O lançamento, dentro da programação do VI Simpósio Internacional e XIV Fórum de Estudos Ítalo-brasileiro, aconteceu no início da semana, integrando as comemorações da imigração italiana no Estado.
Além da entrega de exemplares, o evento no Centro de Convivência da UCS teve música e polentaço para o público convidado a prestigiar. Fruto de estudo realizado pela pesquisadora Cleodes Maria Piazza Julio Ribeiro, professora aposentada da UCS, sua autora principal, a obra tem curadoria do reitor da Universidade, Gelson Leonardo Rech, e do diretor do Instituto Memória Histórica e Cultural (IMHC), professor Anthony Beux Tessari.
Realizada por Cleodes no IMHC, entre 2009 e 2010, a pesquisa se encontra preservada no Instituto, responsável pela coordenação de sua publicação em formato de livro. "Nos debruçamos sobre a culinária, com suas receitas, técnicas, utensílios, aromas e sabores que, pela história, transformaram-se em tradição e seguem, ainda hoje, representativos dos hábitos e valores alimentares da nossa região", sintetiza o diretor IMHC, professor Anthony Beux Tessari.
Sobre a obra
As 90 receitas apresentadas - entre sopas, minestras, polentas, massas, molhos, conservas e doces - foram executadas pela equipe de chefs da Escola de Gastronomia da UCS formada por Felipe Biondo, Gustavo André Ruffato, Vanderlei Dalberto e seu diretor, Mauro Cingolani, e registradas pelo fotógrafo Bruno Zulian. Habituados a terras cultivadas há milênios em seus locais de origem, os imigrantes italianos precisaram lidar aqui com áreas virgens, adaptando técnicas e procedimentos.
Sem vias de acesso, a comunicação com a cultura local ocorreu de forma esporádica e pontual - os ingredientes precisavam ser produzidos ou coletados, dentro da propriedade dos colonos, com raros acréscimos vindos de fora. A fase inicial da 'cozinha da pobreza', como definida no estudo, foi, aos poucos, sendo enriquecida pelos fluxos comerciais e por diferentes trocas. Esse inventário de cozinha, carregado de significados culturais, é contextualizado histórica e territorialmente, já que o levantamento carrega a tradição das diversas regiões de origem dos imigrantes e dos locais onde se fixaram - as receitas são de famílias ainda residentes ou com raízes em Antônio Prado.
Contextualizando essas relações, a obra dedica-se aos produtos agroalimentares, ingredientes utilizados e às tradições sociais constituídas 'ao redor da mesa', a exemplo dos almoços de domingo e festivos. O livro é resultado de projeto realizado pela UCS com apoio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), apoio cultural de Orquídea Alimentos, Villagio Caxias e Supermercados Andreazza, produção cultural de Cali Gestão Cultural e Comunicação e financiamento da Lei de Incentivo à Cultura de Caxias do Sul. O evento de lançamento contou ainda com patrocínio do Círculo Saúde.