Júlio Sortica: Versatilidade em pessoa

Jornalista fala sobre sua paixão pela profissão e das experiências em diversas áreas

Júlio Sortica - Reprodução

Antes de começar a falar sobre a carreira ou da paixão por ela, o jornalista Júlio Sortica logo dispara: "Lendo os perfis da Coletiva.net, eu pensava: 'Um dia estarei aqui'. Acho que era uma questão de tempo!". Entre esportes, saúde, mecânica e Direito, alguns dos temas sobre os quais já escreveu, ele destaca a versatilidade como principal motivação para seguir na profissão. Mesmo sabendo que o Jornalismo não lhe daria um retorno financeiro muito confortável em um primeiro momento, ele garante que não se arrepende da escolha. Após passar por diversas revistas e jornais, explica que, com o passar do tempo, reafirmou o seu antigo amor pelo impresso.

O coordenador de Comunicação da Secretaria do Planejamento do Estado nunca teve dúvidas da sua vocação. Chegou a fazer alguns vestibulares para áreas da saúde, é verdade, mas puramente para satisfazer o desejo dos pais, o policial militar Guilhermino e a dona de casa Carolina. O gosto pelos textos e leituras vem dos tempos escolares, segundo conta, já que a opção pelo Jornalismo foi quase natural.

O pai do Guillermo, 28 anos, e da Juliana, 26, se diz um apaixonado por tudo que faz. Quando fala sobre a escolha da profissão, ele aproveita para alertar os estudantes dizendo que, antes de mais nada, têm que ter paixão. "Se não tiver, nem entra. Vai cozinhar", brinca. Além disso, lembra da importância da leitura e afirma que só escreve bem quem lê bons textos. Em ritmo de dicas para quem começa, o jornalista aproveita para discorrer sobre o que é necessário para ser feliz profissionalmente: "Respeite o chefe, por menos competente que ele possa ser".

Heranças do esporte

Formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Júlio iniciou a carreira na editoria de esportes. Ainda era estudante quando foi trabalhar na Zero Hora, para cobrir a movimentação do Internacional. Antes mesmo do primeiro contato com o clube, o jornalista garante que nunca torceu por nenhum dos times gaúchos. Entre ZH, uma breve passagem pelo Grupo Caldas Júnior e a participação em algumas revistas esportivas, tem muitas recordações do tempo em que se dedicou ao setor. As lembranças mais citadas são as viagens. Cada lugar que conhecia o deixava mais empolgado com a profissão. 

Numa dessas, foi a Andorra, principado entre a França e a Espanha, durante a Copa do Mundo de 1982. A ideia era assistir ao jogo do adversário seguinte do Brasil, mas acabou aproveitando para conhecer o local. No passeio, avistou a apresentadora Xuxa, na época namorada de Pelé. Sentiu-se tão encabulado que nem ao menos conseguiu pedir um autógrafo, quanto mais uma foto com a Rainha dos Baixinhos.

A cobertura da Copa do México, em 1986, também está entre as suas preferidas. Por outro lado, ele revela que foi uma prova de resistência. Foram 55 dias longe de casa. Da ocasião, lembra da amizade que criou com os jogadores brasileiros. "O Branco, por exemplo, pegou uma cuia de chimarrão que eu levei para pedir autógrafo e nunca mais me devolveu." 

Realizações

Apesar do desejo de produzir muito na profissão, Júlio se considera um jornalista realizado. As reportagens, os eventos, as viagens e as pessoas que conheceu ilustram os 32 anos de carreira. A cobertura da Copa do Mundo na Argentina, em 1978, é considerada o primeiro grande momento profissional. Ele afirma que não imaginava quantos ainda viriam.

O convite de Mauro Torales, o Boró, para que integrasse a redação da revista Consumidor (hoje 'Consumidor Teste') também é recordado com muito carinho, pois é quando o jornalista abre caminhos para outras áreas. A larga experiência em revista também é muito citada e, com ela, as pessoas-chave da vida dele: Silvia Viale, José Luiz da Silva, Paulo Sérgio da Silva e Emídio Perondi são considerados seus grandes incentivadores. Também teve passagem pelo Governo do Estado, na gestão de Antonio Britto e depois com Germano Rigotto.

E ao falar de momentos profissionais, Júlio não esquece da Federação Gaúcha de Futebol. Em 1993, produziu uma revista alusiva aos 75 anos da entidade. Da relação, surgiu a ideia de realizar uma premiação para os melhores atletas do Campeonato Gaúcho. Com a ajuda de mais algumas pessoas, organizou o evento, que contou com a presença de grandes nomes do esporte. A distinção ocorreu ainda por alguns anos, incluindo a escolha da 'Seleção do Século', em 2000, que reuniu cerca de 750 pessoas. Momento de muita satisfação e orgulho para o profissional.

Ele não para

Enquanto conta sobre seus passos no Jornalismo, destaca que nunca recusou sequer um trabalho, mesmo que este não lhe trouxesse a remuneração desejada. Para ele, todo profissional pode ser especialista em determinada área, mas precisa saber um pouco de tudo. Esta certeza é representada nas mais de 30 publicações em que o jornalista já atuou: de jornais de grande circulação a periódicos de bairro, de revistas segmentadas a publicações de variedades. Segundo ele, muitas vezes sentiu-se inseguro em áreas desconhecidas, mas a confiança no aprendizado foi mais forte em todos estes momentos. "Sempre preferi pensar que, se errar e aprender algo com isso, já valeu a pena. O resto, a própria profissão ensina."

A ideia de versatilidade nem sempre esteve presente em sua vida, já que passou muitos anos cobrindo apenas esportes. Aos poucos, com o surgimento de novos convites, o jornalista passou a conhecer outras áreas, gostar da experiência e aí, sim, a tão falada versatilidade profissional se incorporou à sua vida. Pessoalmente, ele também é assim. "Não consigo fazer apenas uma coisa de cada vez. Acho que o dia tem muitas horas para serem aproveitadas e muitas ideias para serem desenvolvidas."

O que Júlio mais gosta no impresso é a possibilidade de fazer muitas atividades ao mesmo tempo. Não lida bem com o ócio e sempre está à procura de algo produtivo. Depois de todas as experiências, ele ainda quer lançar dois sites. Um será focado na Copa de 2014, projeto que já está em andamento ao lado de mais dois colegas. O outro pensa em especializar em turismo, negócios e gastronomia.

Pelo próximo

Acreditando ser uma herança de família, Júlio deixa claro o quanto valoriza parentes e amigos, chegando a se frustrar se, em algum momento, não consegue ajudá-los. "Um dos meus maiores prazeres é ver o sucesso das pessoas que me cercam. Se eu tiver participação nesta vitória, me sinto melhor ainda", diz. Para exemplificar, conta uma ocasião especial. Ele já atuava como diretor do jornal O Sul, publicação que participou desde o projeto e, em paralelo, realizava trabalhos para a Conceitual Press. Em função de cortes financeiros, soube que dois colegas perderiam o emprego na editora. "Não me agradou saber que, pelo meu salário, outras duas pessoas seriam dispensadas." O que fez? Abriu mão de sua renda extra para garantir a atividade dos companheiros.

A única explicação para se preocupar tanto com o próximo, e às vezes nem tão próximo, é simples. Ele sempre viu a mãe fazer questão de estender a mão. "A frase 'Eu me basto' não existe na minha vida. Muitas vezes, precisei dos meus amigos e sempre os tive por perto", explica. Como lema, o jornalista leva a expressão 'tudo passa', pois, para ele, a vida é um eterno aprendizado. Agindo assim, afirma que tem muito mais satisfações do que decepções: "O mundo gira. Ninguém sabe onde vai parar. Se eu puder fazer o bem, vou ser sempre mais feliz."

Como não poderia ser diferente, o jornalista tem um sonho especial: montar uma ONG na área da educação. Ele quer criar um banco de material escolar para distribuição gratuita a crianças carentes. "Se eu tiver tempo e o coração permitir (Júlio teve dois infartos, sendo que o último há cerca de dois meses), vou realizar este sonho. Mas se, nesse meio-tempo, alguém concretizar esta mesma ideia, já ficaria feliz. O importante é fazê-la."

Espelho, espelho meu

Apesar da importância que dá ao próximo, Júlio admite que gosta da solidão e de olhar para dentro de si. Ao falar nisso, traz à tona algumas lembranças de família. Vai às lágrimas quando lembra da mãe, muito brizolista, militando. A política foi muito presente em sua infância, fato que ele agradece, pois foi por causa dela que ele e seus irmãos conseguiram bolsas escolares e recursos para estudar. A emoção ainda retorna algumas vezes durante a entrevista, Júlio não se envergonha e ainda faz uma revelação: "Às vezes, me emociono até com novelas".

Uma forte lembrança da cidade de Guaporé, onde Júlio nasceu e passou parte da infância, é a coleção de gibis que fazia com os amigos. A troca de revistas, ele conta, era muito divertida. O terceiro filho de seis diz que sempre foi uma criança sonhadora, característica que cultiva até hoje. Se não fosse jornalista, diz que se dedicaria à gastronomia. Gosta de cozinhar, mas não o trivial, apenas comidas mais especiais, mais elaboradas. Outra atividade que lhe agrada é a de marceneiro. Dar forma à madeira lhe encanta, mas, para isso, garante que estudaria muito.

Filosofia também desperta seu interesse. "Acho que ela tem muito para ensinar? Quem sabe um dia." Sobre literatura, ele é enfático: adora poesias e poemas. Longe das frases rimadas e bem elaboradas, destaca duas obras das quais, segundo ele, "leu numa sentada". 'Admirável mundo novo', de Aldous Huxley, e 'Incidente em Antares', de Erico Verissimo. Já sobre música, diz não ter preferências, considera-se um eclético na área.

Com a certeza de que ninguém vive só de boas características, ele admite ser muito indeciso. "Estas dúvidas para tomar decisões já me fizeram perder grandes oportunidades." Quando fala em defeitos, também se diz muito teimoso, mas que, sem dúvida alguma, já melhorou muito e hoje se enxerga muito mais flexível. E não deixa de dar dicas, para estudantes e profissionais. Para ele, não apenas a chama geração Y deve estar por dentro das novas tecnologias, mas todo profissional de Comunicação. "O mundo está em constante transformação, mas nunca podemos esquecer que nenhuma máquina substitui boas idéias."

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