Ricardo Cappra: Conexões que transformam

Dono da Cappra Data Science, Ricardo Cappra acredita no valor da ciência de dados para empoderar pessoas

Ricardo Cappra | Crédito: Arquivo pessoal
Transformar dados em informações estratégicas é hoje principal a tarefa do cientista de dados Ricardo Cappra, que lidera a Cappra Data Science, em uma carreira que já soma quase duas décadas e teve início na área de Tecnologia da Informação (TI). Conheceu o mundo dos negócios bastante cedo, teve projetos realizados e também planos frustrados, experiência que o levou a um novo modelo de trabalho, desta vez, como consultor. Perfeccionista, avesso à rotina e às tradicionais hierarquias de trabalho, considera-se um cara que gosta de resolver problemas complexos e encontrou nas Ciências Exatas uma forma de fazer isso. "Acredito, de verdade, que é possível empoderar pessoas ao entregar um dado mais qualificado, estruturado, organizado e visual. Dar essa informação pode ajudar a tomar decisões e melhorar a vida de alguém", argumenta.
Formado em processamento de dados e análise de sistemas, Cappra tinha 19 anos quando criou a empresa de software com mais dois sócios. A companhia, que trabalhava com sistema de gestão empresarial e buscava facilitar o uso da tecnologia pelas pessoas, logo cresceu para uma equipe de 150 pessoas, com atuação também em São Paulo e Rio de Janeiro, prestando serviços para organizações como Microsoft e SAP. Em 2007, foi vendida e Cappra seguiu levando tecnologia da informação para outros negócios, porém, com foco na área de Marketing e Negócios. Em seguida, passou a ser chamado para outros projetos, como Microsoft e Gatorade.
A experiência também acabou gerando outros jobs e, hoje, lidera um grupo de 18 profissionais que são considerados cientistas de dados, conectados a partir de cidades como Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro e São Francisco, nos Estados Unidos, que atendem a marcas como Itaú, Natura, Rede Globo, Coca-Cola, Barcelona e Gatorade, além do governo norte-americano. "Sempre fui muito avesso ao formato tradicional. A gente encontrou outro formato de funcionar, que são pessoas conectadas por um projeto. É diferente de uma empresa de consultoria, porque ela realmente funciona como rede, o grupo se conecta quando tem um problema comum para resolver".
É uma rede que conta com diferentes expertises, como matemática, arquitetura de dados e business, entre outros. No trabalho para a Globo, por exemplo, foram geradas seis telas com indicadores que mostram como as pessoas interagem com a marca e auxiliam os gestores no processo de decisão. "As empresas têm complexidade gigantescas, por funcionarem em formatos tradicionais. Área financeira tem informação financeira, o marketing sobre marketing. O que a gente faz é identificar os verdadeiros indicadores de cada área e como entregam valor para outras áreas", explica. Desde julho último, coordena também um novo serviço, o Mission Control, laboratório aberto de visualização para análise de dados, que funciona na Area 51, parceria da Perestroika e Zeppelin.
Outro caminho
Um episódio foi fundamental para orientar a trajetória em direção à consultoria. Depois de ver bem-sucedida a primeira experiência como empresário, tentou lançar uma segunda empresa, que não alcançou o mesmo resultado. "Tinha 23 anos e, naquela época, uma percepção de que sabia tudo e era o melhor empresário do mundo. É obvio que não é essa a verdade", reconhece. A partir dali, identificou que aquele caminho não era para si e abandonou o trabalho dentro de um modelo corporativo tradicional para se tornar consultor. "Isso para muitas pessoas pode ser um declínio de carreira, mas pra mim foi uma ascensão, porque passei a fazer as coisas que mais gostava, com as pessoas que mais gostava", afirma.
A nova fase na carreira veio para ampliar a visão além do mundo de TI, resultou na formação de novas redes de trabalho e também ajudou a perceber que os dados são úteis não só às grandes corporações. Podem, por exemplo, ajudar a administração pública a entender como ocorre a disseminação de uma doença, como no projeto para o governo dos Estados Unidos que, neste ano, analisou a dispersão do vírus ebola.
A parceria norte-americana começou após a participação no projeto para Barack Obama, então um dos candidatos à presidência do país em 2008. Paralelo a consultorias, o job começou como um estudo voluntário, com análises de dados do eleitorado latino-americano; cresceu e, em 2012, passou a abranger todos os públicos, contando com uma equipe dedicada a entender o comportamento das pessoas. "Muita gente tem a ideia de que equipe tem que estar toda na mesma sala, e isso mudou. Tem que estar conectado com as pessoas certas e fazendo o que gosta", defende. Hoje, a Cappra Data Science atende ao governo norte-americano em projetos nas áreas de saúde e segurança pública.
Das lições
Nascido em Porto Alegre, é o primogênito da dona de casa Sônia e do bancário Rubi. Da infância vivida em Canoas, com a família formada também pelas irmãs Raquel e Renata, guarda na lembrança a educação que mistura o ensino público e privado. "Tivemos uma educação não tão formal ou tradicional. E meus pais sempre incentivaram a visão de fazer o que se gosta, nos deram caráter, educação e liberdade de escolha", conta.
Aos 36 anos, é pai de Eduarda, de 16, que mora em Bento Gonçalves. Relata que recém tinha se formado como técnico em 1999 e estava entrando na universidade, quando a namorada engravidou. "O interessante é que tinha sempre um motivo para as coisas acontecerem, mesmo nos momentos de baixa. Comento com amigos que, talvez, eu não tenha tido tanto da experiência de pai de uma menina, mas a responsabilidade de alguém que depende de ti. Hoje, ela se tornou uma grande amiga e a gente se dá superbem do nosso jeito", garante.
Desde 2013, quando fechou o apartamento de São Paulo, onde viveu por dois anos, divide a casa em Porto Alegre com a namorada, Amanda. Os dois se conheceram nos tempos de colégio, mas, por muito tempo, os quatro anos de diferença etária os mantiveram distantes. "A gente teve muitos amigos em comum, sempre se encontrava. Ela acompanhou muito da minha história e, em um determinado momento, a gente se encontrou e se conectou. Temos características diferentes, mas os mesmos gostos."
Longe de rotina
Com o laboratório do Mission Control instalado em Porto Alegre, Cappra tem garantido mais tempo na cidade. Em um mês, costuma passar cerca de uma semana nos Estados Unidos e as outras três no País, o que também inclui viagens a São Paulo e Rio de Janeiro, onde se concentram os negócios. Acredita que, muito além de negócios, as viagens são uma forma de buscar conhecimento, formar novas redes e, na volta, "não conectar na mesma caixa". "Quando tu pensa que está na ponta, não está. Tem sempre alguém na frente. Tem que ir lá e olhar. Talvez, tu não consigas fazer melhor, mas vai entender o que está acontecendo."
O próximo destino será o Smart Data, que acontece ainda neste mês, na Califórnia. Mais uma oportunidade de manter-se atualizado, processo que, segundo defende, não pode parar nunca. No currículo, acumula diplomas específicos, como estatística, que complementam a formação. E o conhecimento adquirido também é compartilhado, já que também ministra cursos sobre cultura de dados pelo País, juntamente com a Perestroika. "Gosto de transmitir para outras pessoas o que aprendi, o que estou aprendendo, o que o mundo está mostrando. E não é pra me gabar, é porque acho que pode ajudar outra pessoa a ter uma ideia e resolver um problema", afirma.
Para aproveitar o tempo livre, aposta em leituras, filmes e seriados, e aprecia a experiência de jantares e viagens. As leituras, geralmente, são voltadas à face profissional, e podem ser das mais diversas áreas, incluindo de psicologia à aplicação de fórmulas matemáticas. O estilo musical é eclético e vai do rock ao eletrônico. "Não tem uma regra. A música é um pouco do meu humor do dia", explica. Para assistir, curte histórias como as das séries ?Lie to me? e ?Sense8?.
Cappra se declara um avesso à rotina. Conta que evita ter programado os horários para sair e voltar para casa, trabalhar ou jantar. Pode ser que decida passar o dia lendo e trabalhar à noite, e o mesmo vale para os lugares. "Posso trabalhar no escritório, no Mission Control, em um café. Às vezes, as pessoas têm necessidade de, por exemplo, fazer uma reunião toda a segunda-feira. Como assim fazer a mesma coisa toda a segunda-feira? É diferente de compromisso de entrega. Gosto dessa maleabilidade." Acredita que tudo será capaz de gerar dados no futuro, seja uma cadeira, uma camisa ou uma geladeira, e, dentro desse contexto, grandes empresas ainda irão surgir. E em um cenário como este, não pensa duas vezes: "Não quero uma grande empresa, quero ajudar as pessoas a usarem esses dados".

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