Alexandre Mota: Chuta o balde, Mota!

Polêmico por seus xingamentos no ar, o apresentador de rádio e televisão comemora sua boa fase

Alexandre Mota - Reprodução

Outra fonte de inspiração para Mota é sua avó. Quando era criança, costumava ficar na volta dela pedindo coisas. E sempre ouvia: "Não me enche os pacová, menino!", destaca, assumindo que, mesmo assim, ela lhe fazia os caprichos. Em seguida avisa que é filho único com todos os defeitos e qualidades de um. Na infância, em função do trabalho do pai, José Carlos, técnico em química pela empresa Rodhia, ele e a mãe Dejanira mudaram-se de cidade algumas vezes.

Nascido em Santo André, teve passagens pelas cidades de São Caetano e São Bernardo, mas foi em Santos que passou grande parte de sua infância e juventude, e, segundo ele, onde realmente viveu. "Comecei a curtir mesmo quando morei na praia. Lá, jogava bola na areia e fui um bom levantador nos jogos de vôlei com a molecada", ressalta.

Influência da tia

Com a rotina apertada, a atividade física foi deixada de lado. Mas ele garante que quer voltar e a meta agora é perder peso, não só em função da estética, mas pela saúde. E foram os quilos a mais que quase deixaram Alexandre Mota de fora da televisão. "Minha iniciativa logo no começo da carreira foi tentar rádio, achava que não tinha perfil para a TV", recorda. Seu talento falou mais alto e, lá pelo quinto ano de carreira, recebeu um convite para ser repórter do programa Aqui Agora, em Cuiabá, no Mato Grosso. Deixou Santos, onde residia com os pais desde os 13 anos, para mudar-se, desta vez em função do seu trabalho.

Na capital do Mato Grosso aprendeu a tomar chimarrão, hábito que preserva até hoje. "Tem muito gaúcho por aquelas bandas", comenta. Foi lá também que conheceu e se casou com Séfora, há nove anos. Ele foi apresentado a ela numa festa logo em sua primeira semana na cidade. "Ela é sobrinha do cara que era meu contato lá", explica. Conta que fez "lobby" com a família dela, observou, sondou, e, só depois que teve certeza de que ela também estava a fim, a convidou pra sair.

Os dois namoraram três anos e casaram-se em 2001. Da união nasceram Guilherme, oito, e Gustavo, seis. "Acho que o Gustavo leva jeito para comunicador, é bem falante", diz, explicando que ficaria feliz se o filho optasse em seguir sua profissão. Se depender de sua influência é bem provável que a família Mota tenha mais um jornalista em casa mesmo.

Alexandre foi o grande responsável pela mudança de opção da esposa da advocacia para o rádio. Ela deixou a faculdade de Direito no último semestre para fazer o curso de radialista. A inspiração para a profissão não surgiu de forma muito diferente em seu caso, não. Quando criança, Mota costumava acompanhar uma tia às aulas da faculdade de Jornalismo. "Sempre que ela tinha que fazer algum trabalho de aula, como uma reportagem, por exemplo, me levava junto. Fiquei fascinado pelo ofício", reconhece.

Sem arrependimentos

Juntando a admiração que tinha pela profissão da tia, com as características de garoto tagarela, como se autodefine, não teve dúvidas de que prestaria vestibular para Jornalismo. Quer dizer, a certeza mesmo veio após a aprovação no concurso, fato que o obrigou a desistir de seguir carreira na Marinha, área para a qual também havia passado.  Decisão da qual não se arrependeu.

Aliás, seu lema de vida tem a ver com isso. "Prefiro me arrepender de ter feito, do que não tentar", diz, destacando que nunca chegou a se arrepender de algo. Nem mesmo das vezes que apanhou. O estilo polêmico e a personalidade explosiva, segundo ele, com inspiração em profissionais como o Ratinho (Carlos Roberto Massa) e Datena (José Luiz Datena), lhe renderam alguns hematomas. Ele já quebrou o gravador na cabeça de bandido, levou pontapés de traficantes, e até ganhou alguns socos de torcedores do Grêmio, quando fazia matéria. Se sentiu medo, ou vontade de parar? "Nem um pouco. "Na hora eu não penso em nada, apenas faço o meu trabalho", comenta.

Mota afirma, porém, que o incidente com os gremistas foi apenas um parênteses e que tem uma ótima relação com os torcedores da dupla Gre-Nal. Corinthiano de coração reconhece que já tem predileções por um time no Estado. O nome do clube, porém, ele não revela. "Não posso dizer senão vou comprar briga aqui". Será que a camisa branca e vermelha que ele usa durante a entrevista é pista de sua preferência? Não confirma, mas deixa claro que os torcedores de seu time favorito no Estado sabem para quem ele torce.

De mala e cuia

Feliz por estar morando na Capital, o apresentador gosta de ir ao estádio torcer pelo seu "secreto" time, sair para jantar com a esposa e os filhos, e caminhar pela orla do Guaíba em Ipanema. "Quando eu gravei o programa-piloto do Balanço Geral, não sabia que viria para Porto Alegre. Me mudei de mala e cuia", diz já adaptado às expressões gaúchas. Mas reconhece que seu início não foi fácil. "Os três primeiros meses foram pauleira", diz. Sofreu com algumas resistências no começo, fato que considera normal. Com o tempo fez amigos, e a esposa e os filhos mudaram-se também.  "Tenho muita sorte na vida, sempre encontro mais pessoas dispostas a ajudar do que atrapalhar", brinca.

Sua dedicação e persistência inicial deram certo. O Programa Balanço Geral se consolidou e ganhou até uma versão para a rádio, o Balanço da Tarde, no ar desde outubro último. "No réveillon eu só agradeci, 2009 foi o melhor ano da minha vida", comemora. Além de ganhar o gosto do público, foi vencedor do Prêmio Press, na categoria Apresentador de TV do Ano. Na visão do apresentador, estava faltando um programa com o formato mais popular no Estado. "O povo gaúcho é Alexandre Mota", diz, referindo-se ao posicionamento crítico e questionador. "Aqui ninguém leva desafora pra casa, não". E é, segundo ele, o retorno e carinho do público que o mantêm no ar. Ele recebe cerca de mil e-mails por dia.

Enquanto a garganta ajudar

Sua aproximação com o público, porém, ficou um pouco limitada desde o início deste ano. Um atentado a bomba na entrada do prédio onde mora o forçou a deixar o País. "O episódio diminuiu o meu contato, infelizmente. Mas preciso me preservar, tenho que pensar na minha família", comenta.

Sobre o possível motivo do atentado, Mota sugere que talvez tenha a ver com o seu comentário sobre um dos traficantes envolvidos no caso Becker (assassinato do vice-presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers), Marco Antonio Becker). Ele disse no ar que o envolvido tem o "pingolim pequeno". "Posso chamar os caras de vagabundos, cretinos, que eles não se importam, mas se eu disser que têm o pinto pequeno dá problema". O episódio o forçou a adotar algumas medidas de segurança, hoje ele anda com carro blindado e dois seguranças armados.

Nem um pouco intimidado com o ocorrido, Mota quer continuar no comando dos programas "enquanto a garganta ajudar" e não tem pretensões políticas. "Deixar de ser pedra para virar vitrine não me interessa. Prefiro continuar agindo como agente fiscalizador", ressalta. Feliz com a profissão que escolheu, reclama apenas da falta de tempo para a família. "Mas, quando percebo que uma reportagem minha acabou ajudando a melhorar a vida de uma pessoa, esqueço de tudo e tenho certeza de que era isso mesmo que eu queria fazer."

Apaixonado confesso por pagode e música sertaneja, sempre que pode, leva a esposa para dançar. "A Séfora é uma ótima dançarina. Uma pessoa muito animada. Tem o gênio forte, mas eu adoro", comenta. Os filhos, segundo ele, puxaram à mãe. "Costumo dizer que eles são mãe futebol clube".

Quando está em casa, sua válvula de escape é organizar a bagunça, pois não consegue ver uma pia molhada, ou algo fora do lugar. "É quase um TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo)", diz, reconhecendo-se inquieto. O fato o levou a pensar em ser piloto de carro ainda na infância. A medicina e a música também passaram por suas opções. "Não canto bem, mas admiro a profissão".

Pela categoria

Para os novatos na profissão, ele dá uns conselhos: "Tenham absoluta certeza de que é isso que querem seguir. É importante sabermos da responsabilidade que é ser jornalista em um país onde há muitas verdades sobre o mesmo assunto." Aos que ainda estão na faculdade, ele pede que aproveitem ao máximo todas as disciplinas. Para ele, quanto mais os alunos assimilarem sobre as diversas atividades de um jornalista, menor será a chance de ficarem desempregados. "Faculdade vai além do ensino. É um período muito importante da vida da gente".

Questionado sobre a queda do diploma, ele diz ser suspeito para falar. "Conheci o Gilmar Mendes no Mato Grosso. Sei de seu rancor com a imprensa". Totalmente envolvido com as causas da categoria - chegou a ser diretor do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo - acredita que "esse ato tem mais a ver com vingança do que qualquer outra coisa".

Sobre o registro de jornalismo conquistado por Edir Macedo, bispo da igreja Universal e presidente da Rede Record, Mota ressalta que "o patrão" tem formação em rádio e que foi um dos primeiros a usar os meios de comunicação para difundir a religião. "Entre acertos e erros, ele conseguiu se cercar de bons profissionais", diz referindo-se à equipe de jornalismo do grupo. Ele cita o expressivo crescimento da emissora nos três anos que está instalada aqui e provoca. "Eu queria ver a Record e a RBS começando juntas".

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