Dione Kuhn: Amor pelo jornalismo

Ela contrariou os testes vocacionais ao decidir pelo jornalismo. Hoje, é repórter de política de Zero Hora e acredita que o segredo para a realização é o amor pelo que faz.

Com 18 anos de carreira, dos quais 14 dedicados à editoria de política, Dione Kuhn é apaixonada pelo jornalismo. Para ela, esse é o segredo de sucesso em qualquer profissão: amar o que se faz. Formada pela PUC/RS (Pontifícia Universidade Católica) em 1988, Dione hoje é repórter especial de política da Zero Hora, onde já ocupou o cargo de coordenadora de produção e atua eventualmente como editora.  Está sempre atenta a tudo que pode render uma boa notícia. Para isso, cultiva sempre suas fontes de informação. "Só consegue informações exclusivas o jornalista que tiver boas fontes", enfatiza ela. "Às vezes, um repórter mantém uma fonte durante 30 anos sem ela nunca render nada, mas um dia essa fonte pode lhe garantir um grande furo."


Dione Kuhn Gerchmann nasceu em Porto Alegre há 39 anos. É filha da dona-de-casa Lori e do ex-diretor de uma empresa de óleos vegetais, Anor, falecido há 14 anos, e tem dois irmãos. Passou a infância entre o bairro Passo d"Areia, onde adorava brincar na rua, e a cidade de Feliz, terra natal da mãe, lugar que aproveitava para os banhos de rio e o convívio com os primos. Uma época que lhe rendeu algumas cicatrizes, resultado das brincadeiras de moleque. "Vivia na rua, jogava taco, subia em árvore, brincava de boneca. Na hora de dormir, meu pai dava um assobio que funcionava para todas as crianças que estavam na rua, era hora de ir para casa", relembra.  O gosto pela literatura também veio de família: "Tenho uma tia que sempre nos incentivou a ler. Ela comprava revistas, colecionava livros e assim fui me envolvendo com a literatura".


Dione contrariou todos os testes vocacionais ao se decidir pelo jornalismo, ainda no início do segundo grau. "Naquela época se fazia um exame vocacional, o meu foi decepcionante porque deu Psicologia, Nutrição, mas não deu o que eu queria que era Jornalismo." Sem se deixar levar pelo teste, ela seguiu o que o coração mandou e a aposta foi certeira.


Um lugar ao sol


O primeiro contato com a profissão veio através de um estágio em uma produtora de vídeo. Dione passou ainda pelo Jornal do Comércio, onde participava da produção de um Caderno de Turismo, e pelo Jornal Repórter, de Guaíba. "Foi lá que tive meu primeiro contato com a política, quando fazia reportagens na Câmara de Vereadores", lembra. Trabalhou ainda na Central do Interior do Correio do Povo e deste período lembra bem que "pegava as matérias dos correspondentes do Interior. Colocava fones enormes e usava uma máquina de escrever. Embora já tivesse computadores na redação, eu só adquiri o direito de ter um depois de algum tempo", diz. Depois de 10 meses na central do Interior, a jornalista conseguiu o espaço que tanto almejava. "Finalmente, entrei para a editoria de política do Correio. Pra mim foi um salto, porque ainda era uma foca, mas consegui o que queria. Entrei direto na transição do governo Guazelli/Collares e aprendi muito", diz


Depois de quatro anos no Correio, Dione decidiu que era hora de novos desafios. Fez então um teste na sucursal da Folha de S. Paulo, para uma vaga de free-lancer. "Foi em 1994, era uma vaga para nove meses de trabalho porque era ano de eleições presidenciais. Mesmo assim decidi arriscar", explica.  Pouco antes de completar os nove meses, veio o convite para integrar a equipe de repórteres de política da Zero Hora. "A Rosane de Oliveira me chamou e aqui estou eu, há 11 anos", comemora.


Na cola de Brizola Em novembro do ano passado, Zero Hora publicou a série de reportagens "O baú de Brizola", assinada por Dione, que revelou o conteúdo dos arquivos que o ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, reuniu durante mais de 60 anos de vida política. Uma pauta que a jornalista perseguiu durante anos: trata-se de um vasto acervo de documentos, cartas, fotografias e até papel de bombons que ele guardava em três residências, duas no Rio de Janeiro e uma em Montevidéu. "Desde 1999, quando fui entrevistá-lo no Rio e vi que ele tinha muitas coisas guardadas, vinha tentando convencê-lo a me deixar colocar a mão naquilo tudo. De dois em dois meses, dava uma ligada perguntando sobre o material. Quando ele morreu, em 2004, pensei que tivesse perdido todo esse investimento, mas ele já havia falado para a família do meu interesse e eu consegui acesso exclusivo a todo o material", revela com a satisfação de quem realizou um grande objetivo.


As entrevistas com o político gaúcho deram à jornalista a oportunidade de escrever um livro, além de render importantes prêmios. Em 1999, Brizola abriu o coração à repórter e falou sobre o exílio. "Ele chorou ao contar como foi duro viver longe do país". Em 2001, a pauta era sobre os 40 anos do movimento da Legalidade, e lá estava ela novamente frente a frente com Brizola. "Consegui que ele falasse sobre os detalhes do movimento, como foi montado, os diálogos, as brigas. Acho que foi um dos últimos grandes depoimentos dele sobre o assunto", avalia. A reportagem ganhou naquele ano o Prêmio ARI e o Prêmio Imprensa Embratel e foi finalista do Prêmio Esso.   As entrevistas foram editadas para a publicação no jornal, mas como havia muito material, surgiu a idéia de publicar o livro "Brizola: da Legalidade ao exílio", lançado em 2004 pela RBS Publicações. "No livro, coloquei tudo o que eu consegui nas entrevistas, foi uma experiência maravilhosa juntar essas duas séries marcantes", comenta.


Mãe coruja e dedicada


Sobre todas as grandes reportagens que já fez, Dione fala com muito entusiasmo e paixão, mas a emoção é muito maior quando o assunto é o filho Pedro, de três anos e oito meses. "Ele é maravilhoso, loirinho, a coisa mais linda do mundo. É a nossa razão de viver", derrete-se.  Razão que ela divide com o marido, o jornalista da Folha de S. Paulo Léo Gerchmann, com quem está casada há 11 anos. "Nunca quis ter filho cedo, mas se fosse hoje teria depois dos 30, com certeza, mas não esperaria muito mais que isso. Ser mãe é muito bom."   Nas horas de folga, o casal de jornalistas curte a vida em família. "Gostamos de ficar em casa, dar uma volta em algum parque, de jantar fora e de viajar. O Pedrinho é muito parceiro. Com três meses, viajou conosco para o Rio de Janeiro, com um ano para Buenos Aires e já foi até pra Cuba", diverte-se. Aliás, Buenos Aires é um dos destinos preferidos do casal. "O Léo morou lá um tempo e nós somos apaixonados pelo lugar. Adoramos dar uma cheiradinha na cidade, comer aquela carne maravilhosa, tomar um bom vinho tinto que eu adoro", diz a jornalista. Caminhada e uma boa leitura também fazem parte dos momentos de lazer: "Gosto de livros de História. O último que li foi "Soldado Absoluto", uma biografia do Marechal Henrique Teixeira Lott. O próximo já está me esperando, é a biografia de Carmem Miranda."


Recém-chegada das férias no litoral gaúcho, Dione conta que enfrentou um novo desafio: as panelas. Confessa que uma das coisas que não sabe fazer muito bem é cozinhar. "Já sei fazer comidas básicas, como arroz, feijão, estrogonofe, carreteiro, mas para seguir adiante acho que preciso fazer as coisas básicas muito bem", diz ela, que adora churrasco, arroz, feijão, bife e batata frita. "Sou muito conservadora em se tratando de comida, gosto de coisas simples."


Sem chance de ficar para trás


Como todo bom jornalista, Dione Kuhn tem a preocupação de estar sempre muito bem atualizada. Está sempre buscando ser uma profissional cada vez mais completa e tem a preocupação que o seu trabalho "ofereça conseqüências positivas para sociedade". Está sempre correndo atrás de todo tipo de informação. "Não quero nunca ficar para trás", admite. Como mãe, também tem essa preocupação. "Quero acompanhar todas as fases do meu filho: como ele se relaciona com os amigos, a linguagem dele, como ele se comunica, já estou aprendendo e quero aprender ainda mais com ele."


A cobrança consigo mesma é, segundo ela, é uma característica marcante de sua personalidade, que define como positiva mas também negativa. Gosta de fazer tudo bem feito. "Se fizer algo mal feito é melhor que eu não faça, porque sinto como se não tivesse feito", argumenta. Reconhece, porém, que deveria ser mais paciente com os outros. "Estou tentando mudar isso, às vezes não tenho muita paciência de ficar ouvindo as pessoas", diz. Sobre os próximos passos no trabalho, Dione diz que já está se preparando para as eleições. "A expectativa é de que seja uma campanha eleitoral atípica. Os escândalos mudaram radicalmente o quadro político nacional." Na vida pessoal, ela busca conciliar muito bem duas grandes paixões: o trabalho e a família. "Sempre soube que um jornalista trabalha em fins de semana e feriados e nunca me queixei disso. Meu filho nunca vai me ver reclamar porque tenho que trabalhar aos domingos. Amo muito o que faço e nunca passou pela minha cabeça desistir", orgulha-se. Quem também sai ganhando com essa paixão são os leitores que podem conferir suas excelentes reportagens nas páginas de ZH.      

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