Arlindo Sassi: A voz que embala o Love Songs

Apresentador de rádio há mais de três décadas compartilha seu amor pela leitura, cinema e música

Arlindo Sassi - Rede Pampa

Arlindo Sassi nasceu em Carazinho, em 5 de novembro de 1952, mas passou a infância em Frederico Westphalen. Filho caçula do funcionário público João Sassi e da dona de casa Alvina Klein Sassi, explica que a família é de longevidade bem curta, uma vez que, além dos pais já falecidos, também já perdeu cinco dos seis irmãos - Adelino, Avelino, Adriano, Inês e Emília -, restando apenas ele e a irmã mais velha, Dorilde.

Dos tempos de criança, o apresentador, há mais de três décadas à frente do programa de rádio 'Love Songs', recorda que era um menino curioso. Ainda na primeira infância, entre três e quatro anos, rememora com exatidão o dia em que entrou na casa de um vizinho e lá encontrou uma coleção de revistas. Mesmo sem saber ler, ficou horas vendo as figuras e assim teve início uma das suas primeiras paixões: a leitura. 

Deste tempo, também lembra que o irmão Adelino era caminhoneiro e que ficava ansioso esperando que ele retornasse de suas viagens, pois trazia, além de histórias e costumes de outras regiões, jornais, revistas e gibis dos lugares por onde passava. Foi dele que recebeu a influência para o hábito da leitura, considerado pelo comunicador como "o melhor vício que poderia ter na vida", diz, confidenciando que já leu de tudo, mas que, hoje, as biografias, especialmente do Cinema, como atores e diretores, estão entre as favoritas. 

De família de origem alemã e italiana, traz na lembrança ainda, o jeito dos pais e os almoços de domingo com a casa cheia e a mesa farta com quitutes da culinária ítala. Além de massas, polentas e pizzas, acrescenta, entre suas comidas prediletas, um bom churrasco, uma feijoada bem preparada, mocotó (dobradinha), qualquer prato feito com charque e a la minuta.

A sua história de amor? 

Casado há 40 anos com a produtora do programa 'Love Songs', Elaine Bayan, conta que conheceu a esposa quando trabalhava na antiga Rádio Continental, em 1979. Foi convidado por um amigo para ir a uma festa de Enterro dos Ossos do Carnaval, no Grêmio Niterói, em Canoas. "Lá, vi dançando aquela que se tornaria o meu grande amor", revela. A amada é sua mentora e responsável pela produção de todo o conteúdo do programa ao longo de todos estes anos.

Já os filhos André e Fernanda, 39 e 36 anos, respectivamente, são seus motivadores e incentivadores. A família se completa com as duas cachorrinhas vira-latas, Petite e Rita Maria, carinhosamente chamada de Ritinha, que representa todas as Ritas. "Elas são o nosso antídoto para qualquer tristeza e depressão", confidencia. 

Nos dias de folga, a preferência do casal é frequentar algum restaurante em que possam desfrutar da boa culinária e, depois, ficam conversando e bebendo. Também gostam de ir ao cinema, mais uma das suas paixões, ou assistir a alguns dos clássicos da coleção de mais de cinco mil dvds dos quais destaca títulos que assistiu 10 ou 15 vezes até agora como, 'Blade Runner', de Ridley Scott; '2001: Uma Odisseia no Espaço', de Stanley Kubrick; 'Onde os Fracos Não Têm Vez', dos irmãos Coen; 'Os Imperdoáveis', de Clint Eastwood; e o nacionalíssimo 'O Assalto ao Trem Pagador', de Roberto Farias.

Além disso, o comunicador foi colecionador de gibis e relata que viajou muitas vezes até São Paulo, em um bate-volta, apenas para comprar mais um exemplar para a coleção - que já foi de mais de mil edições e, hoje, está na casa de 300. Entre as relíquias, estão o 'Almanaque do Al Mocinho', que deve valer, atualmente, no mercado, em torno de R$ 3 mil. 

Já a playlist armazenada conta com mais de quatro mil músicas, que vão desde as mais tocadas no 'Love Songs', como também as que curte ouvir em casa como, o punk rock dos Ramones, com 'Pet Sematary'; o pop do Michael Jackson, com 'Billie Jean'; a disco music do Tavares, com 'Heaven Must Be Missing An Angel'; a icônica do Earth, Wind and Fire, 'September'; o dance dos anos 90 Banderas, com 'This Is Your Life (Less Stress Mix)'; e aquela do Nenhum de Nós que até hoje embala as pistas de dança, 'Camila, Camila'.

'Love Songs'

Antes de entrar na profissão, Arlindo se preparava para ser piloto privado, mas, mesmo que ganhasse muito menos que um na época, acabou optando pelas ondas radiofônicas, pois a paixão foi instantânea. "Sou da geração em que trabalhar no rádio era para quem tinha amor pela área e era um ouvinte antes de tudo", orgulha-se. 

A carreira no rádio teve início por acaso. Estava em uma banca de revistas, quando encontrou o locutor e sócio da rádio Luz e Alegria, de Frederico Westphalen, Euclides Argenta, que comentou que sua voz era muito bonita e o convidou para fazer um teste. O primeiro deles foi inspirado no ídolo Milton Jung, locutor do 'Correspondente Minerva' na época, mas não saiu como o esperado. Só dois anos depois, em 1974, foi chamado novamente para a emissora do Interior, onde conquistou espaço e ganhou visibilidade ao tocar orquestras a partir das 22h. 

Em 45 anos de carreira, Arlindo teve passagens por 16 veículos radiofônicos, além de atuar em uma rádio web. Enquanto trabalhava em quatro diferentes momentos nas Luz e Alegria e na Cidade, ainda esteve presente três vezes tanto na Pampa quanto na Farroupilha. O profissional ainda destaca as participações nas rádios Real, Ibirubá, Alegria, Atlântida, Universal, Princesa, Continental e Difusora. Vale ressaltar que, nas duas últimas, dividia-se antes de entrar para a extinta rádio Cidade, para apresentar programas diurnos, em 1980. 

Quatro anos depois, foi convidado para comandar a nova atração noturna da Cidade. Pensando que a diretoria não estivesse satisfeita com o trabalho dele, pediu demissão. Ao saber que a ideia era exatamente o contrário, visto que os superiores entenderam que ele seria a voz ideal para o programa 'Love Songs', aceitou o desafio.

De acordo com Arlindo, a atração foi líder de audiência já no primeiro mês, e se manteve assim por muitos anos. Ao entrar no ar das 22h às 2h, tocava apenas música. Porém, ele passou a incluir a leitura de recados, pedidos de ouvintes, dedicatórias e cartas, com as famosas histórias de amor. No início dos anos 1990, a rádio Cidade foi adquirida pelo Grupo RBS e o 'Love Songs' ganhou, em 1993, o Prêmio Top of Mind, como o programa mais lembrado. O comunicador também realizou muitas festas em clubes da Grande Porto Alegre e, entre idas e vindas, permaneceu na emissora até a sua extinção, em abril de 2015.

Após quatro anos, retornou com o programa 'Love Songs', desta vez, na rádio Continental, da Rede Pampa. Segundo Arlindo, a volta aos microfones congestionou as linhas de telefones da empresa na estreia, com mais de mil ligações de ouvintes. No repertório, estão músicas românticas, consagradas nacional e internacionalmente. Paralelo à apresentação do programa, que é realizada de domingo a sexta-feira, das 22h à 1h, ainda atua como celebrante de casamentos e cerimônias. 

Definindo-se como um "cara de muita sorte", destaca que muito do sucesso da sua carreira se deve, não tanto pela sua qualidade como comunicador, mas em estar fazendo "o programa certo, em uma época certa, nas emissoras certas".  

Um grande coração

Gremista, confidencia que foi se desapegando do futebol aos poucos. Como tem ouvintes de vários times, para ele o importante é vê-los felizes. Isso inclui, muitas vezes, torcer pelo Internacional. Quanto à prática esportiva, confessa que sempre foi muito sedentário e, hoje, as caminhadas são feitas com as suas cachorrinhas. Sobre religião, conta que foi batizado na igreja católica. Hoje, considera-se agnóstico e acredita que quem tem fé é um privilegiado.

Além disso, confessa que nunca soube cantar ou dançar. Contudo, como era um de seus sonhos, matriculou-se em uma academia de dança com a esposa, em janeiro, mas sem muito sucesso. Porém, aproveitando a quarentena, em função da pandemia da Covid-19, começou a acompanhar muitas lives de professores de dança e conseguiu aprender. "Este é um motivo de grande orgulho para mim e posso dizer que hoje estou praticando um exercício, coisa que jamais havia feito na vida", relata.   

Considerando-se cheio de frescura, destaca o fato de ser teimoso e explosivo, pois perde o controle fácil, além de ter a baixa autoestima como um dos defeitos. Dentre as qualidades, confessa que é leal, bem como possui um grande coração. Em 2019, Arlindo levou um grande susto, quando ficou praticamente mudo por 45 dias, em função de uma paralisação das cordas vocais - causada pela infecção no nervo esquerdo. Durante este período de ausência, o 'Love Songs' seguiu sendo transmitido normalmente, porém apenas com a seleção musical. Desde então, valoriza ainda mais a sua voz. Para a próxima década, os planos são de continuar exatamente assim como está hoje. Para ele, quem trabalha com o que gosta, espera chegar aos últimos dias de vida dando continuidade a isso. "Não tenho grandes ambições, vivo uma vida modesta, mas muito boa e sou muito grato por isso", conclui.

Comentários