Cléber Grabauska: Plantão com estilo

Coordenador de Esportes da Rádio Gaúcha atua há mais de duas décadas neste tipo de mídia e tem fama de brincalhão

Por Poti Silveira Campos
O episódio ocorreu em uma agência bancária em Porto Alegre. Cléber Grabauska se identificou e a moça do atendimento manifestou surpresa com a idade do profissional, 45 anos: "É que a gente imagina que plantão de rádio é sempre feito por um velhinho". A frase - talvez reproduzida aqui sem a devida exatidão, mas preservada no conteúdo - ilustra bem uma das tarefas a que se propôs o jornalista formado em 1994 pela Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul: dar agilidade, qualidade e estilo ao plantão das emissoras de rádio nas quais trabalhou. Inspirado no exemplo de Antônio Augusto dos Santos, que marcou época na função na Rádio Guaíba, Cléber encontrou o próprio caminho. Hoje, ainda com o mesmo carinho que tinha pelo cargo desde o início, o profissional é o coordenador de Esportes da Rádio Gaúcha, cargo assumido apenas um ano depois da formatura, em 1995.
Além de comandar a equipe de 28 pessoas, Grabauska é apresentador do programa Placar Geral, da emissora; do quadro Almanaque, do Programa TVCOM Esportes, na TVCOM; e colaborador do caderno de Esportes de Zero Hora, às segundas-feiras. A atividade, é claro, representa longas jornadas de trabalho - uma realidade bem conhecida de jornalistas que atuam em veículos de comunicação.
Sem queixas - ele realmente gosta do que faz -, Grabauska, no entanto, chega a ter dúvidas se deseja o mesmo futuro para a filha Fernanda, 20, que vai se formar em Jornalismo e é funcionária da Agência RBS. "Leva muito tempo até ficar bem na profissão. E aí tem a preocupação com a qualidade de vida", explica. Ele e a mulher, a também jornalista Nereida Grabauska - diagramadora em Zero Hora -, tentaram convencer a garota a seguir outra carreira. O argumento da filha, porém, foi incontestável: "Tenho dois excelentes exemplos em casa", declarou Fernanda aos pais. A família é integrada ainda por Tomás, 16, que pretende cursar Arquitetura. "Graças a Deus", brinca Grabauska.
Aliás, brincadeiras como esta, de ditos espirituosos, caracterizam o comportamento do coordenador. Ele tem fama de piadista - mas garante que o posto oficial, na rádio, pertence ao plantonista e produtor Franklin Berwig. Este, de acordo com Grabauska, leva o humor mais a sério, inclusive com frases publicadas em três oportunidades no Informe Especial, a página três, de Zero Hora. De qualquer forma, também de acordo com o próprio Grabauska, Franklin seguidamente submete as próprias criações à avaliação do chefe - que, aqui entre nós, às vezes pensa em algo profissional neste sentido. Ele se diverte com programas de humor na TV. "Não sou de fazer imitação, gosto de trocadilhos e de ironias", diz.
Canoas com fama de Ijuí
Cléber Fernando Grabauska nasceu em Canoas, na Região Metropolitana, "mas com fama de ijuiense". É que o pai, o caixeiro Algirdas (nome de um príncipe lituano), transferiu-se para lá entre 1972 e 1978. Nascido em Montenegro, mas descendente de lituanos, Algirdas e a mulher, Vera Koziol Grabauska, polonesa refugiada de guerra no Brasil, tiveram três filhos. Cléber, o segundo filho do casal, ingressou na Ufrgs em 1985. A carreira teve início em 1986, como repórter frila do jornal Sport Motor - "ganhava apenas ajuda de custo". Depois, uma rápida passagem pela igualmente rápida experiência do jornal Pasquim Sul e um estágio na Rádio da Universidade. Na emissora da Ufrgs, fez amizade com Ilgo Wink, que o indicou para a Rádio Guaíba. A contratação, como produtor, ocorreu em 1988.
Em 1990, recebeu o primeiro convite para se transferir para a Gaúcha. Não aceitou. Em 1991, nova proposta, desta vez para atuar no plantão. "Era uma oportunidade de crescimento profissional", diz Grabauska. Em 1995, ele quase deixou a emissora. Na época, a Band negociava a contratação conjunta de cinco profissionais da RBS - Grabauska entre eles. O grupo chegou a gravar uma chamada na Band, mas Armindo Antônio Ranzolin, então no comando da Gaúcha, reagiu rápido e acabou convencendo-o a permanecer na empresa. Naquele mesmo ano, a recompensa: assumiu a Coordenação de Esportes.
Entre os momentos marcantes da trajetória na emissora, Grabauska aponta a Olimpíada de Pequim, em 2008, e os mundiais de futebol na Alemanha, em 2006, e na África do Sul, em 2010. Outra passagem importante foi a aposentadoria de Ranzolin, em 2006. "São 21 anos aqui dentro. A saída de Ranzolin foi muito forte. Foi ele quem consolidou o atual estilo de talk news da Gaúcha", relembra. "Havia dúvidas de como seria o futuro da rádio sem ele."
No Mundial de 2010, Grabauska esteve na África do Sul antes do início dos jogos, até mesmo para acertar detalhes da transmissão. O trabalho principal se deu na redação e ele considera que foi uma experiência expressiva. "Sempre se disse que o trabalho feito em Porto Alegre é tão importante quanto aquele que é realizado no país da Copa, mas, no ano passado, conseguimos agregar muito valor à transmissão com a presença de convidados especiais na redação", explica.
Cama escondida
"As pessoas dizem que tenho uma cama escondida aqui na rádio", brinca Grabauska, novamente. É que a rotina do jornalista não tem grandes variações. De casa para a emissora, da emissora para casa. Os Grabauska vivem na Zona Sul da Capital. Além dos programas de humor, ele gosta de cinema, de churrasco e, claro, de futebol. Na sétima arte, ele assiste de tudo, mas tem de ser em sala de cinema, um espaço propício para a "concentração espiritual" que considera necessária para curtir os filmes.
Churrasco? "Ah, de costela, né?" revela o gaúcho. "Tive uma época de parrijeiro, mas dá muito trabalho." Nos sábados, o comunicador se transforma em zagueiro do glorioso La Barca - ele se apressa em salientar que não há nenhuma relação com conhecida casa de entretenimento masculino de Porto Alegre -, time de futebol de várzea que há três anos disputa jogos na Capital. "Eu, no entanto, já estou há 13 anos nesta vida", diz.
Grabauska se diz um sujeito extremamente caseiro e que tem restrições até mesmo para viagens. "Não gosto de dirigir e tenho horror a ônibus. Assim, só se for de avião ou de carona." E também não gosta de praia: "Sou muito branco e não gosto de tomar sol". Ainda assim, seguidamente o destino é a praia de Torres - escolha da mulher -, e com Grabauska dirigindo - ele parece estar conformado com o programa, que também costuma ser de curta temporada. Inquietação, de verdade, ele tem em relação ao trabalho e à paixão, que é a atividade em rádio.
"O veículo rádio exige dinamismo. Tem de fazer na hora. Tem de estar preparado para o imprevisto, se é que isto é possível. Exige raciocínio rápido e vocabulário. Tem de ser jornalista o tempo todo", se empolga definindo o desafio. Ele recorda os episódios da morte de Leonel Brizola, em 2004, do acidente com o voo 1907 da Gol em 2006 e do apagão de 2009 como momentos em que é preciso agilidade e capacidade de mudar, repentinamente, de uma cobertura com a qual se está absolutamente familiarizado - no caso, o futebol - para assuntos cujo domínio não são exigidos cotidianamente do profissional. "Ou seja, temos de estar sempre e cada vez mais nos atualizando constantemente", recomenda.
Imagem

Comentários