Luciano Deós: Com ousadia e criatividade

Nem médico, nem bombeiro, nem jogador de futebol. Desde muito pequeno, ele já queria ser arquiteto


Apesar de nunca ter tido nenhuma influência da família. O pai era comerciante, a mãe, dona de casa, e cada um dos três irmãos seguiu uma carreira diferente. Nascido e criado na zona norte de Porto Alegre, até a adolescência - quando foi estudar no Colégio Rosário - mal conhecia o centro da cidade. Antes disso, seu mundo ficava ali nos Bairros Cristo Redentor, Lindóia, nas imediações do viaduto Obirici, uma esticadinha até a Sogipa. Aos 13 anos, inventou de fazer um curso de desenho arquitetônico, o primeiro de vários que fez ao longo de sua carreira. E deu no que deu: hoje, Luciano Silva Deós, 37 anos, está à frente do GAD´Design, respeitada empresa de branding e design, consolidada no Estado e em expansão pelo país. Ingressou no universo da criação logo depois daquele primeiro curso feito na adolescência. Trabalhou em escritórios de engenharia, copiando plantas, fazendo projetos e estudos hidráulicos. Nos anos 70 - quando a zona norte de Porto Alegre passou por uma verdadeira explosão na construção imobiliária - chegava a fazer dez projetos por dia. O envolvimento com comunicação visual começou por acaso. Ao concluir o segundo grau, entrou direto na Faculdade de Arquitetura da Ufrgs, enquanto alguns ex-colegas menos chegados nos estudos resolveram abrir lojas de surf. E lá foi o Luciano fazer os projetos de tais lojas. Quando viu, já estava também desenhando adesivos e criando estampas para roupas. Mas, como nem tudo são flores, houve uma época em que vivenciou um certo conflito entre a experiência prática e a acadêmica. Foi difícil, mas ele acabou entrando numa vaga de programação visual, sabendo pouco sobre o assunto. "Fiz projeto gráfico de revista sem saber direito o que era", lembra. A histórica greve dos cem dias, em 1984, propiciou a todos os universitários da época uma fase de ócio criativo. Foi na onda do nascimento dos Engenheiros do Hawaii que Luciano, junto com dois colegas, formou o Ateliê 3, um misto de grupo de estudos e estúdio de criação. "De forma impetuosa, aluguei um apartamento para começar a empresa". No começo, com muita dificuldade, "topava fazer até projeto de casinha de cachorro". Paralelamente, estudou bastante sobre programação visual de forma autodidata. Agregou outros sócios, incorporou profissionais com conhecimentos em áreas distintas, foi acumulando experiência e, em 1987, foi fundado o GAD´Design tal como é conhecido hoje. Com o crescimento maior e mais rápido do que o esperado, a faculdade acabou ficando um pouco de lado, e a formatura de fato só se deu em 1998. Mas Luciano não se considera um arquiteto tradicional. Sequer dedica-se à criação nos dias de hoje. "Sou um empresário, profissional especializado em marca e identidade. Meu lugar é na linha de frente, cuidando da gestão estratégica e da questão conceitual".
"Sempre em frente"
Tudo aconteceu no momento certo. Nos anos 90, os conceitos de marca e design começaram a ser mais percebidos pelas empresas. Acesso aos produtos importados e aumento da concorrência contribuíram para o fortalecimento da área e para a conseqüente geração de demanda de trabalho. Não é à toa que os grandes gurus de marketing pregam que o diferencial competitivo das empresas e dos produtos é o design. "A matéria-prima está igual, o processo produtivo também, qualidade é subjetivo, a questão emocional humana é que decide", cita Luciano. Seu grande projeto do momento é uma meta estratégica: "Chegar em 2005 como a maior e melhor empresa de branding e design da América do Sul". O GAD já é a maior em número de pessoas (são 82 funcionários nos escritórios de Porto Alegre e São Paulo). "Sinto que tenho o dever de sempre continuar indo adiante, mesmo quando conquisto o que havia almejado".
"Menos é mais"
Em geral, Luciano é um cara eclético, que gosta de experimentar, "absorver o máximo das coisas mais simples". Seus hobbies são ligados à atividade artística e estética que, segundo ele, são fontes e resultado de sua forma de ser e daquilo que produz. No cinema, documentário, drama e aventura são seus gêneros preferidos. Gosta de ler romances, biografias e obras relacionadas com a história. Também aprecia a música - toca saxofone - e a gastronomia. Mas seu lazer preferido é mesmo ficar em casa, em companhia da esposa e da filha. É casado há sete anos com a administradora de empresas Cynthia, diretora-executiva do Junior Achievement do Rio Grande do Sul. Maria Antônia, a filhinha do casal, está com quase dois anos. "Estou sempre na maior correria de trabalho e viajando muito. Por isso, quando estou aqui e tenho tempo livre, sou todo delas". A pequena família tem planos de, no futuro, passar um tempo fora do país, passeando, estudando e trabalhando. O lugar ainda não foi escolhido. "Pode ser Paris, Nova York, Florença, Roma, Londres?" Luciano gosta muito da sua cidade, mas admite que vive um dilema: o escritório de São Paulo talvez faça com que tenha que se mudar para lá. "O que Porto Alegre nos deu de belezas naturais, não soubemos retornar em planejamento humano: ou são idéias megalômanas que não saem do papel, ou coisas simplórias", lamenta o exigente Luciano, concluindo que a mania de nivelar as coisas por baixo deixa a desejar um padrão mais sofisticado. "O melhor de Porto Alegre são as pessoas e a condição topográfica".

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