Denise Nunes: Economia sem aridez

A colunista de economia do Correio do Povo adora trabalhar, mas se preocupa em repor energias de forma saudável

Estar atualizada e saber como extrair as melhores informações das suas fontes, sem extrapolar os limites que separam o profissional do jornalismo do aspecto pessoal. Essa é uma das tarefas diárias mais difíceis apontadas pela jornalista Denise Carneiro Nunes. Para ela, no entanto, os quatro anos à frente da coluna Panorama Econômico, do Correio do Povo, já lhe deram maturidade para enfrentar os desafios do dia-a-dia. Nesse perfil, Denise, uma das mais importantes colunistas de Economia do Rio Grande do Sul, mostra como é chegar ao reconhecimento do trabalho, ganhando mais tempo para viver os seus 35 anos.
Certamente por ter nascido em Porto Alegre, Denise demonstra a sintonia de quem sempre esteve em contato com a Capital, o centro nervoso onde a maioria das ações políticas, culturais e econômicas florescem com maior intensidade. Talvez por isso, a profissional formada pela Famecos/PUC, em 1987, se considere uma pessoa até certo ponto explosiva. Considere-se o adjetivo, nesse caso, como "sem medo de enfrentar os inúmeros desafios que a nossa categoria exige, sempre com respeito e ética, mas sem se deixar intimidar", reforça. Para quem não a conhece, isso poderia soar diferente. Mas é entre centenas de mensagens de fax, olhos atentos nos e-mails que abarrotam sua caixa postal eletrônica e no telefone que não pára, que surge uma pessoa que esbanja energia. Combustível esse que, aliado ao bom humor e à descontração, garante transpor uma carregada jornada de trabalho.
"Adoro trabalhar, principalmente pelo fato de ter escolhido a profissão certa para minhas aspirações, mas agora estou tendo um pouco mais de tempo para mim", resume. Para manter-se ligada nesse ritmo intenso de trabalho, compartilhado por boa parte dos profissionais da área de comunicação, Denise Nunes não dispensa momentos de folga para colocar o sono em dia. Os finais de semana têm encontro garantido com o descanso. "Faz bem para repor energias e, depois, aproveitar esse tempo para passear no Brique no domingo, conferir a programação de cinema, comer bem e namorar", revela.
Nesses dois últimos quesitos, o sabor italiano está garantido. As massas são sua predileção gastronômica. "Embora prefira experimentar as receitas de amigos ou de bons restaurantes, não me saio mal na cozinha, e tenho uma Massa ao Molho de Queijo que me orgulha", afirma a colunista do Correio do Povo.
No embalo
A jornalista não perde tempo, quando em casa, e costuma alimentar a vida diária com doses de boa música, também. Fã de carteirinha de Luis Melodia, não perde suas apresentações quando em turnê. Aqui no Sul, destaca a qualidade musical e a personalidade de Vítor Ramil. Caetano Veloso, Itamar Assumpção e Jorge Mautner merecem destaque, bem como a voz e o carisma de Marisa Monte, "para mim a melhor cantora da MPB, na atualidade", sustentou.
O fascínio pelos compositores brasileiros que cresceram com a Tropicália, porém, nem sempre se traduz no aparelho de som. "Tenho ouvido direto a trilha sonora do filme Basquiát, Nina Simone, Rolling Stones, U2 e Janis Joplin, que têm músicas com mais embalo, para ouvir mais alto, com um som mais para cima", explica. O blues também tem espaço reservado na prateleira de CDs da colunista. A paixão literária por Erico Verissimo é incontestável, mas a poesia é um prato cheio para a leitura descontraída e confortável em casa. "Meu poeta brasileiro é o João Cabral de Mello Neto, mas gosto muito de poesias que foram traduzidas pelos concretistas", salienta, dizendo que já teve fases diferentes, em que Maiakóvski e Walt Whitman faziam parte do seu imaginário poético. Denise revelou também uma forte atração pelos escritores irlandeses, como Yeats "pela sua descrição narrativa e estilo".
Não por acaso, a Irlanda é um dos países pelos quais a jornalista se diz encantada à distância, e pretende conhecer. Na área cinematográfica, é uma aficcionada pelos dramas, principalmente aqueles em que o dia-a-dia é esmiuçado de uma maneira simples, traduzindo a alma das pessoas de uma maneira tocante "como nos bons filmes franceses e italianos, dos quais destaco os dois últimos que tive a oportunidade de assistir, que foram "Malena", de Giuseppe Tornatore, e "Pão e Tulipa", do até então desconhecido Sílvio Soldini", ressalta. As comédias com situações inusitadas e estórias mirabolantes de Woody Allen também são destacadas, bem como o cinema espanhol de Pedro Almodóvar. Em contrapartida, a jornalista diz que não dispensa um bom filme sobre a 2ªGuerra Mundial, em que haja o conteúdo histórico além da forte ação.
Ação conjuntural
Ao comentar a questão política, Denise Nunes entende tratar-se de algo inerente ao ser social. "Estamos sempre fazendo política, e mesmo ela mais formal e institucional é necessária, já que a sociedade precisa dela para se organizar". Na sua opinião, o panorama político pode ser traduzido como "lamentável no âmbito nacional e conflituado aqui no Estado". Mas, como o seu chão, atualmente, é a Economia, a jornalista dedica mais ênfase à questão na sua atividade como profissional de comunicação e cidadã. "Quando entrei, realmente, no jornalismo, lá em 88, no Diário Catarinense, queria trabalhar na Editoria de Política, mas acabei ficando mesmo na Economia, do que não arrependo, bem pelo contrário", enfatiza.
Como colunista econômica, Denise acredita que os leitores brasileiros estão bem mais afeitos ao acompanhamento das questões que dizem respeito direto às suas vidas diárias. "Por isso, hoje em dia, as pessoas sabem que aspectos e ações econômicas feitas, às vezes, em países distantes, acabam refletindo no seu salário, na conta do telefone, no preço da gasolina, na geração de novos empregos e empreendimentos", analisa. Para ela, o jornalismo econômico contribuiu com isso ao perder aquela antiga aridez, e buscando uma evolução em seus conceitos "apropriando algo mais do que o simples business".
Nessa trajetória no jornalismo, Denise Nunes cruzou com muitos profissionais. Prefere dar destaque aos colegas Elmar Bones e José Mitchell, que são aqui do Estado, "e deixar para lá os jornalistas nacionais", argumentou. Talvez por isso, diz não reter na lembrança algo de extraordinário no mundo jornalístico, lamentando apenas ter perdido um pouco daquele período em que o jornalismo investigativo ia além do denuncismo que impera na atualidade. "Em boa parte das vezes, os jornais cada vez menores e com as redações enxugadas não permitem que questões na área social brotem com maior intensidade, trazendo ao leitor um retrato da realidade, sem apelos e interesses puramente comerciais", sentencia.
Com o reconhecimento merecido aos 35 anos, essa "capricorniana com ascendente em gêmeos e serpente no horóscopo chinês" diz estar, aos poucos, relaxando para tocar algum projeto diferente. "Hoje estou mais segura e apta para pensar no futuro, mas ainda não decidi por que caminho devo tocar outras ações", avalia. Para Denise, a melhor filosofia de vida está em fazer as coisas do jeito que realmente se gosta, buscando evitar frustrações por deixar de fazê-las. "Acho que é buscando oportunidades, estando atenda para o mundo e, sobretudo, mantendo a ética no que se faz, que poderemos melhorar nosso crescimento, aprimorar o talento que todos têm e não fazer as coisas por imposição e com má-vontade", disse. Denise Nunes, por ela mesmo, considera-se uma pessoa um pouco temperamental, mais calma hoje em dia, com interesse pelo que faz e integrada no ambiente em que convive.

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