Wesley Cardia: Ele quer sempre mais

Especialista em marketing, com experiência na área política e esportiva, Wesley Cardia revela-se visionário e um incansável pesquisador

Por Karine Viana, em 23/05/2014
Em uma conversa com Wesley Cardia, é fácil perceber tudo o que o move sem que seja preciso ir direto ao assunto. Arte, literatura, esportes e trabalho lideram a lista de predileções do especialista em marketing. Os possíveis riscos e medo de ousar nunca se desenharam como espécies de travas na sua vida pessoal e profissional. Contrariamente, fomentaram sua carreira. Possibilitaram ainda a Wesley alguns reconhecimentos, como uma carta de agradecimento que hoje, devidamente emoldurada, adorna a parede de seu escritório.
A carta que hoje também serve como enfeite é sinônimo da capacidade que Wesley tem de tentar, mesmo sob adversidades. O bilhete foi escrito a próprio punho pelo ex-governador do Estado Antonio Britto. Em algumas linhas, o então chefe do Executivo agradecia o trabalho de alto padrão realizado ao trazer o tenor Josep Carreras a São Miguel das Missões, na época em que o consultor trabalhava para o Governo Estadual.
Sua atuação no marketing esportivo não foi diferente. O fato de ter ocupado o cargo de Diretor de Marketing nos dois maiores clubes gaúchos, cuja rivalidade dentro do campo e nas arquibancadas é acirrada, também demonstra seu profissionalismo. Frente a um possível grande patrocinador da dupla Gre-Nal, quando já trabalhava para o clube da beira do rio, falou pelos dois times, o que, garante, o fez ganhar a confiança do potencial patrocinador.
Fazer e criar
Ao observar a trajetória profissional de Wesley Callegari Cardia, 55 anos, é difícil imaginar seus antigos esforços para se tornar um diplomata. Para isso, ingressou na faculdade de Direito na Ufrgs e se empenhou para dominar outros idiomas. "Estudar Direito foi um erro de cálculo, eu deveria ter feito Administração, que foi o que acabei fazendo a vida toda", pondera. Foi ao se dar conta de que se tornaria um funcionário público que Wesley desistiu deste caminho. Por isso, faz questão de justificar: "Eu não poderia ficar atrelado a alguma coisa que não me desse a chance de criar. Sou um fazedor".
A descoberta de um novo futuro aconteceu ainda na graduação, quando trabalhou como assessor e, com apenas 22 anos, foi diretor de Relações Consulares do Estado. O domínio de três idiomas facilitara seu ingresso em um importante cargo do Executivo. Aos 24, assumiu a chefia do Cerimonial do Palácio Piratini e, posteriormente, seguiu para a RBS, onde, em oito anos, passou por diversas áreas e chegou a ser o mais jovem diretor da organização.
Das lições do esporte
Wesley é um apaixonado por esportes. Engana-se, no entanto, quem acredita que, por lidar com marketing no meio futebolístico, a cancha seja a especialidade desse gremista na hora de praticar um esporte. Ele confessa: não entende nada de futebol, fato que já gerou algumas piadas. Com exceção de quando está lendo, único momento que parece ficar parado, o movimento faz parte da sua rotina, seja com surfe, esqui, golfe, natação ou caminhada. Leitura e prática de esporte são dois de seus maiores prazeres. "Tu não faz ideia do prazer que tenho de estar quieto, lendo. Ou estou lendo ou ao ar livre praticando esportes", confessa.
O esporte é, para Wesley, responsável por uma das maiores lições que se pode ter, caracterizada principalmente por ensinar a lidar com frustrações. E esse é um dos motivos pelos quais incentiva a pequena Giulia, 11 anos, sua filha com a publicitária e ex-colega de DCS, Analice Simões, na prática de diferentes atividades. "O esporte torna as pessoas mais abertas aos relacionamentos. Além disso, te faz aprender a vencer e a perder", destaca.
O pensamento de Wesley no que se refere ao saber lidar com as frustrações, a vitória e a perda remete a uma difícil fase profissional que precisou enfrentar. Em 1999, já acumulando passagens pela dupla Gre-Nal e pelo Clube dos 13, além da própria consultoria, Maestro, aberta em 1992, foi convidado para ser o CEO da maior multinacional de marketing esportivo do mundo, a ISL. De um lado, a oportunidade de ser uma das pessoas com maior relação do mundo econômico do futebol no país, de outro, a falência da organização na Suíça, dois anos depois. "Tudo aquilo que estava sendo construído foi muito mal terminado", lamenta.
Em pouco tempo, não havia mais acesso aos arquivos e à memória da ISL. Os problemas acumularam, e Wesley viu-se envolto em aborrecimentos referentes à imagem e à área financeira. Indagado sobre como acredita ter dado a volta por cima, foi firme na resposta: "Com muito trabalho. Voltei a fazer o que sabia fazer, consultorias e negociações de patrocínios". Ainda depois deste episódio, foi responsável por aproximar clubes brasileiros de grandes anunciantes, tendo sido também diretor na Federação Gaúcha de Futebol e ainda hoje representa empresas de publicidade estática no Rio de Janeiro, em São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, além da consultoria em marketing.
Leitor voraz
Entre um cafezinho e outro, fraco, o que lhe possibilita exagerar um pouco mais na dose diária, o especialista em marketing fala da sua paixão pela literatura e mostra o último livro que está lendo, uma biografia de Joseph Goebbels. O hábito da leitura é herança dos pais, Renato e Luci, vorazes leitores. A relação com os livros, lembra, remonta à época em que a família, formada por Wesley e dois irmãos mais novos, Mário e Hellen, veraneava em Rainha do Mar. "Minha mãe foi até a Martins Livreiros e comprou um metro de livro infantojuvenil. Fiquei dois meses do verão sentado no sofá, lendo", relembra.
O resultado dessa afinidade com os livros está no lançamento da sua terceira obra: 'Marketing esportivo e administração de arenas'. Mais uma volta ao marketing esportivo, no qual reúne conhecimento acadêmico e de campo. "Tudo que falo nos livros eu vivi, fiz e trabalhei", garante. O quarto livro a ser lançado, adianta, é sobre administração em crise de imagem, assunto estudado em sua dissertação de mestrado, defendida na PUC-RS. Em primeira mão, Wesley aproveita ainda para falar de mais uma carta na manga. Trata-se do primeiro romance, algo que queria fazer desde adolescente, e que se passa nos bastidores do futebol. Mais uma vez, ele garante que a história é formada apenas por episódios vividos, sem fantasia.
Como faz questão de frisar diversas vezes ao longo da conversa, sua carreira e livros não tratam apenas de teorias, mas também de práticas. E é aliando as duas possibilidades que pretende continuar desenvolvendo seus trabalhos, tanto no marketing quanto no meio acadêmico. Com isso, planeja o doutorado, onde irá estudar a opinião pública, área de grande interesse, e já pensa ainda no pós-doutorado e em um ano sabático.
Atualmente, além do mestrado, integram o currículo um MBA em Berkeley, na Califórnia, e duas pós-graduações. Enquanto estudava na Califórnia, lembra de ter negado o convite de estudar Marketing Esportivo, uma das disciplinas optativas do programa. Uma ironia, se analisado todo o trabalho posterior de Wesley, com uma espécie de revolução no marketing dos clubes de futebol, iniciando pelo Grêmio, com diversos pioneirismos.
Caminhos a seguir
Exigência e bom gosto fazem parte do vocabulário de Wesley. Dos lugares que visita à culinária. Os destinos das viagens não podem ser sinônimos de passar trabalho, assim como abomina comer mal. "Adoro cozinhar, porque adoro comer", brinca. Enquanto aprecia Rembrandt e Renoir, na pintura, e Tarantino, no cinema, não ouve nenhum tipo de música. Essa falta de hábito, ele credita à mania da leitura, o que o faz prezar pelo silêncio e pela calmaria.
Hoje, Wesley Cardia se sente realizado. Amanhã, não. Não se imagina aposentado ou sem estudar, algo que busca muito mais pelo prazer do que pelo dinheiro. Garante continuar criando, estudando e escrevendo. Mais do que isso, transmitindo seu conhecimento, seja através das aulas que ministra na pós-graduação ou de palestras, já que acredita que o conhecimento deve ser repassado. Não descarta, ainda, retomar o trabalho com o marketing político, afinal, a área envolve exatamente a opinião pública, uma das suas paixões. O que parece é que a jornada para Wesley não dá indícios de um final. E como diz o lema que ele carrega: "Nulla tenacci invia est via" - Para os tenazes, nenhum caminho é impossível.
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