Célia Ribeiro: Elegância espontânea

Conhecida pelas dicas de etiqueta, a jornalista é extremamente informal e autêntica, e se considera mesmo uma profissional de mídia impressa

Célia Krieger Pinto Ribeiro é bem conhecida do público pelas dicas de etiqueta dadas há anos em rádio, televisão e jornal. Por isso, é difícil imaginar que essa porto-alegrense não ligue muito para as regras formais nem se considere uma profissional de mídia eletrônica: "Sempre achei que eu era jornalista para mídia impressa", garante. A carreira começou em 1956, quando desistiu de ser atriz para observar os palcos de outro ângulo: como crítica de teatro do jornal A Hora. Estudante de Filosofia, ela ingressou no Clube de Teatro da Feufrgs. "Até houve uma apresentação muito importante, que se chamou "Nossa Cidade", uma peça de Thorton Wilder. Trabalhei como atriz, mas percebi que não queria ser isso, que não tinha jeito para a coisa. Tinha jeito para comunicar, para dar aula. Para isso sim eu tinha jeito", conta. Concluída a faculdade, que escolhera com o propósito de seguir vida acadêmica, Célia já sabia que rumo tomar: "Tinha me achado no Jornalismo", revela.


Moda, etiqueta e algum outro assunto


Além de A Hora, passou pela Revista do Globo e, em 1960, estreou na TV Piratini, onde atuou por quatro anos, produzindo o programa vespertino O Mundo da Mulher, no qual apresentava três quadros: "Um de moda, um de etiqueta e outro que eu não me lembro do que tratava", lista. Depois, recebeu o convite de Maurício Sirotsky para apresentar uma atração semanal na TV Gaúcha (hoje, RBS TV), o Programa Célia Ribeiro. Após seis anos, se afastou da televisão e trabalhou, simultaneamente, na Rádio Guaíba, na qual falava sobre moda, e na preparação de debutantes, nos clubes da sociedade porto-alegrense, graças à abordagem que dava à etiqueta em seus programas. Debutou na função: "Trabalhei nisso durante 15 anos". Acabou voltando para o grupo RBS, onde participava do Jornal do Almoço, se tornou editora de Moda de Zero Hora - "Era meu grande sonho", confessa -, passou pela Rádio Gaúcha e, há 13 anos, assina uma coluna de etiqueta no caderno dominical Donna.


Todo esse envolvimento com etiqueta Célia classifica como um "acidente em minha vida". Seus comentários sobre o tema renderam não apenas o trabalho com debutantes, mas uma série de palestras. "Me convidaram para fazer uma palestra para senhoras. Parece que saiu direitinho", diz, humilde. A jornalista se considera "uma pessoa extremamente informal", mas também muito profissional, por isso, quando percebeu que as regras de boas maneiras tinham um forte viés em sua trajetória, abraçou a causa. "Eu não sou rígida assim. Claro que não ajo ao contrário do que eu digo, cuido da minha imagem, mas sou muito autêntica e espontânea", revela, não apenas com palavras, mas no seu jeito de ser. Mesmo com a vida atribulada da maioria das pessoas, o assunto segue fazendo sucesso entre o público. "É uma alegria extraordinária ver o número de cartas e e-mails que recebo, a participação cada vez maior dos leitores. Os temas da coluna surgem graças a esses e-mails", comemora.


Parcerias felizes


Em 1991, Ivan Pinheiro Machado, da L&PM, a convidou para escrever um livro de etiqueta. "Eu já tinha feito um livro de receitas de doces de Iaiá Ribeiro, que era a adaptação de um livro antigo da minha avó. Assim, começou uma parceria muito feliz com a editora, que perdura até hoje. Já escrevi 12 livros para eles: 10 sobre etiqueta e dois de gastronomia", conta. Apenas uma obra Célia não lançou pela L&PM. Foi "A duquesa voadora", editada pela RBS Publicações, que trata de turismo. Na próxima Feira do Livro de Porto Alegre, a jornalista volta a publicar com a editora de Ivan. Ela vai lançar um livro sobre a Porto Alegre antiga e o Colégio Gomes. "Pesquisando sobre minha família, descobri em casa documentos e cartas do professor Fernando Gomes - da família de Iaiá Ribeiro -, que tinha uma escola na qual estudaram Júlio de Castilhos, Borges de Medeiros, Assis Brasil e outros notáveis. Achei que devia dividir isso", explica.


A pesquisa sobre a família Célia está realizando para seu próprio enriquecimento e também vai render um livro: "Mas só para a família, não vai ser editado, e isso me dá uma grande alegria, ou, pelo menos, é um exercício fantástico de memória e de disciplina, já que trabalho em casa", exalta. "Esse projeto também tem muita relação com etiqueta, porque são costumes de outras épocas", compara. Não é a primeira obra que a jornalista escreve para a família. Ela e o bisneto Ian, hoje com 10 anos, fizeram um livro que reunia textos e experiências do menino e sua árvore genealógica. "A mãe dele, Laura, diz que não temos uma relação de neto e avó, mas de amigos e parceiros", conta, coruja.


Filosofia de renovação


Célia está com 77 anos - nasceu em 1929 - e casada há 42 com o também jornalista Lauro Schirmer. Ela não teve filhos, mas "adotou" os do primeiro casamento do marido, tanto que tem uma excelente relação com os filhos e netos deles. Além disso, tem um xodó especial por seus quatro sobrinhos, filhos de seu único irmão: "Eles são especialíssimos para mim. Tenho a impressão de que uma tia que não teve filhos é uma tia diferente. Um sobrinho que se quer muito bem é um prêmio da vida", emociona-se.


O casal, que já viajou muito, atualmente, prefere percorrer distâncias mais curtas em suas férias: "Os aviões estão cada vez piores, os bancos cada vez com menos espaço e tem que ficar ali horas e horas? Acho que tenho opções melhores, até um bom livro é uma viagem". Também gosta de receber em casa - um grupo pequeno, sem confusão. Outros prazeres de Célia são a moda, da qual não consegue se desligar mesmo não escrevendo mais sobre o tema e confessando certa preguiça em ir às compras, o cinema - tem até um telão e um projetor na sala de sua casa - e a leitura: "Especialmente biografias. Também faço parte de uma confraria de literatura, que funciona na Livraria do Arvoredo, uma vez por mês". Os hábitos de cozinhar e tricotar ficaram de lado depois que descobriu o computador, que lhe toma boa parte de seu tempo.


A convivência com jovens é fundamental para Célia: "Estou tentando abrir novos caminhos e ter novos projetos. E conviver com gente moça! Acho uma pena que, há 30 anos, eu não pensasse desta forma. Mas à medida que os anos vão passando, é preciso ter essa filosofia de renovação. Enquanto dá, estamos lúcidos e saudáveis, tem que se tocar para frente e imaginar que sempre há mais para fazer". A jornalista diz que essa renovação também se reflete em seus textos: "Hoje, escrevo completamente diferente de como escrevia antes, talvez pelo fator da idade? Estou muito mais liberta". Para quem está apenas vendo o tempo passar, avisa: "Esse recado eu posso dar para as pessoas que estão com medo de avançar demais nos anos: Procurem sempre novos interesses e novas amizades - sem deixar as outras - porque, aí, existem novas trocas. O jovem aprende com a gente e a gente ainda mais com os jovens".

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