Elói Zorzetto: Movido à informação

Com quase 40 anos de carreira, Elói Zorzetto deixa clara a certeza da profissão escolhida

Elói Zorzetto - Reprodução

Por Márcia Farias

Ele é exatamente como aparece na RBS TV, todos os dias, a partir das 19h. No comando do RBS Notícias, Elói Zorzetto, 53 anos, é visivelmente um homem alto, com voz marcante, objetivo e sério. Pessoalmente, essas características não mudam muito, apesar dos sorrisos serem mais constantes. Se existe uma palavra para resumir o jornalista, esta é concentração. Quem o ouve falar por cerca de uma hora, logo percebe o quão apaixonado e dedicado é pelo Jornalismo. Mal dá para acreditar que a escolha no vestibular foi, primeiramente, o Direito, chegando a cursar a faculdade por quatro semestres. Antes de decidir pela troca definitiva, Elói se aventurou na difícil tarefa de estudar Jornalismo simultaneamente, mas não durou muito e logo percebeu que a preferência era pela comunicação, curso que concluiria em 1984, na Unisinos.

Com quase 40 anos de profissão, sendo 35 dedicados ao Grupo RBS -começou a carreira com 14 anos, quando fazia locução da rádio Veranense dos Capuchinhos, de Veranópolis -, ele garante que tudo ainda é um desafio. "Minha preocupação é semelhante, igual ou superior a de 1978, quando entrei na RBS. É uma atividade que não pode ser repetitiva, nunca sabemos qual será a manchete de amanhã", explica. Mesmo conseguindo reconhecer que está no caminho certo, isso não é suficiente. Elói quer mais: "Nunca estou contente e, por isso, não me considero um profissional realizado. Quero aprender um pouco mais a cada dia. Melhorar sempre mais", diz, completando em seguida que nem consegue se imaginar em outra profissão, pois tudo que deseja está ligado ao Jornalismo.

Em frente às câmeras

Antes de assumir como apresentador e editor-chefe do RBS Notícias, Elói ainda passou pelas rádios Atlântida e Gaúcha e pelos programas Jornal do Almoço, Bom Dia Rio Grande e Jornal da RBS (que era exibido após o Jornal da Globo). Além disso, até o final da década de 1980, acumulou funções em rádio e TV. Optou por se dedicar à segunda, após um convite de Carlos Bastos, em 1988. Ou seja, ele é âncora do mesmo telejornal há 25 anos, e tem muito orgulho disso. Segundo conta, o dia se inicia próximo ao meio-dia, quando chega na emissora, já com a projeção de equipes do dia, divididas em pautas a serem investidas. "É muito dinâmico, pois estas mesmas pautas podem dar lugar a factuais que sejam mais importantes no dia. Tudo muda até o último minuto de entrar no ar e ler a cabeça da matéria", conta. Após a apresentação, ainda faz uma reunião de avaliação, encerrando o dia por volta de 20h30.

Com tanta bagagem assim, fica difícil eleger momentos marcantes, nem a primeira vez que se viu na TV pode ser citada, pois, segundo ele, "foi tão gradual que nem doeu". Apesar disso, pensa por um momento e consegue falar sobre isso: "A tragédia de Santa Maria foi, com certeza, uma das notícias mais tristes que tive que dar", lembra, revelando que a intensa cobertura da emissora registrou um momento histórico na RBS TV: tirar a programação da Globo do ar para uma transmissão, ao vivo, em pleno domingo. "A lista de mortos também foi complicada de ler, pois fomos conhecendo os nomes na medida em que eram lidos, muitas vezes percebendo, inclusive, que havia conhecidos", detalha.

Como nem só de notícias ruins vive um apresentador de telejornal, Elói afirma que divulgar a vitória do Brasil nas Copas de 1994 e 2002 foi muito bom e está entre as melhores que já deu. "Se olharmos o Jornalismo em si, o número de manchetes ruins é muito superior às boas, então esses momentos são marcantes", explica. Para ele, outro aspecto que gosta de noticiar são fatos referentes ao crescimento do País, pois significa que "estamos fazendo bem a lição de casa". Ao recordar as situações citadas, garante que os momentos de maior satisfação na carreira são aqueles que fazem ele perceber que a matéria exibida no RBS Notícias serviu para mudar algo, melhorar comunidades, mobilizar as autoridades.

Por trás das câmeras

Quase quatro décadas de profissão proporcionaram a Elói presenciar a evolução da comunicação em muitos aspectos, mas ele destaca que o principal foi em termos técnicos, pois em linha editorial, as características são as mesmas, a essência não mudou para ele. "As mudanças técnicas são indiscutíveis. Está mais fácil? Sim, mas para todo mundo. A qualidade técnica não muda muito de uma emissora para outra, o diferencial está no conteúdo oferecido". Se dizendo um generalista, como todo apresentador de TV deve ser, explica que não pode ter preferência por alguma editoria. Outra regra que segue a finco é buscar estar bem informado. "Quanto mais informação eu tenho, melhor vai ser o meu trabalho. Vivo disso", resume.

A bancada de um telejornal, por mais engessada que venha a ser, está suscetível ao erro, mas Elói garante que faz de tudo para que isso não ocorra. Conforme ele, sua equipe é obcecada por evitar erros e gafes, especialmente por acreditarem que, se deu certo hoje, não significa que dará amanhã. Outra prática que move o apresentador e editor é assistir a diversos telejornais, mesmo que geralmente falte tempo para isso. Já o lado líder, de chefe, ele brinca que quem deve ser questionada é a equipe, mas garante que tenta puxar o que cada um tem de melhor e maximizar o que cada repórter ou editor expressa de características boas. "Se esse tem um texto melhor e aquele tem mais tino para investigação, procuro concentrar tais atividades nessas pessoas. Acho que todo líder é um administrador de talentos", reflete.

Bem longe das câmeras

Natural de Veranópolis, Elói é o filho do meio do produtor de vinho Albino Antonio Zorzetto (falecido) e da dona de casa Belmira Zorzetto. Completam o trio Eloísa e Elódio, todos jornalistas com atuação em TV. Casado há 20 anos com a ortodontista Ana, eles têm dois filhos Carolina, de 18 anos, e Tiago, de 15. Orgulhoso, ele conta que a mais velha já sabe que carreira seguir: Jornalismo. "Acho que demos bons exemplos. Dá orgulho como pai, mas nunca quis interferir na escolha dela, minha preocupação é que ela seja feliz no que fizer", pondera. A família, aliás, é a coisa mais importante na vida do jornalista. Os dias de folga são preenchidos na companhia deles, com passeio e viagens.

Um jornalista descansa? Depende. Se ler notícias 24 horas por dia for considerado um prazer, sim. O que Elói mais gosta de fazer nos momentos de folga é o que ele faz diariamente: ler. "Passo a vinda lendo, então isso também é diversão. A diferença é que, às vezes, minhas leituras são mais leves e posso ler o que realmente gosto. É a minha forma de descansar a cabeça", explica, contando que lê todos os jornais que consegue, "dando uma volta ao mundo todas as noites". Além das matérias, gosta de ler as opiniões dos leitores desses determinados jornais, pois acha interessante ver o que as pessoas pensam desse ou daquele veículo. Com livros, não é muito diferente. Vai dos mais antigos e clássicos aos lançamentos sem muitos problemas. Sem surpresa alguma, Elói cita o Livro do Boni como uma das últimas leituras, que o marcou bastante.

Ele torce para um time de Porto Alegre. Ao menos é o que parece quando fica em um silêncio aparentemente constrangido. Para manter a isenção, prefere dizer que é torcedor do Veranópolis. Para ouvir, Elói diz que não chega a ser fã de algo, pois consegue ouvir clássicos, MPB, samba, entre outros, mas é enfático: "Não gosto de barulho, gosto de músicas". O mesmo acontece com o cinema, no qual diz assistir a diversos tipos diferentes. "Isso me faz lembrar das cadeiras de semiótica, quando tínhamos que assistir a vários vídeos com olhares mais críticos. Nem sempre vejo porque gosto, mas porque quero ter uma opinião."

Para comer, segue a mesma linha da não preferência. Não há algo que ele goste muito, nem o que ele não coma. Pode ser churrasco, massa, sushi, ou outras culinárias, tudo lhe cai bem. Além de ser bom de garfo, é bom no comando do fogão, segundo ele mesmo: "Pode pedir que eu faço. Se eu não souber, vou dar um jeito de descobrir", revela, destacando, em seguida, que cozinhar em família também lhe agrada demais.

Após falar do que gosta, o que faz, ouve, assiste ou come, ele resume se dizendo jornalista 24 horas por dia. Para ele, quem entra nessa profissão tem a tendência de viver intensamente a escolha. E completa: "Jornalismo é a minha vida. O Elói é uma pessoa bastante simples, mas obcecada pelo que faz".

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