Fernando Garros: Em ritmo progressivo

Desenhista talentoso, roqueiro nas horas vagas, o publicitário Fernando Garros é fascinado pelos desafios da profissão, na qual revela que já viveu "períodos mágicos".

"Nasci no Interior, como todo bom gaúcho!", brinca o publicitário de 34 anos Fernando Garros, natural de Ijuí, antes de assumir que desde os cinco sonhava em morar na Capital. Terceiro filho entre quatro irmãos, e com a maioria dos parentes vivendo em Porto Alegre, Fernando, ainda menino, visitava a cidade admirado com os prédios e o ambiente urbano. "Sempre soube que viria para cá", conta o publicitário que, desde a infância, sempre foi apaixonado por duas coisas: desenho e música. O pai, bancário e violonista nas horas vagas, e a mãe, professora, assistiam ao filho rabiscando figuras durante tardes inteiras no escritório, e prestigiavam suas performances eufóricas atrás da bateria. O talento para a criação se manifestou cedo. Além dos desenhos e das tendências musicais, Fernando dispensava partidas de futebol para construir cidades de faroeste, planetas e naves espaciais, e para gravar comerciais de rádio sozinho.


O publicitário realizou, com 15 anos, o sonho de morar na Capital. Em época de eleições para o Grêmio Estudantil do colégio, as chapas o contratavam para criar cartazes e a estratégia das campanhas. Chegou a morar em Curitiba, por seis meses, onde trabalhou em um estúdio de gravações, operando mesas de som e tocando bateria em alguns jingles.


Fernando conta que, certa vez, dois publicitários não gostaram muito de uma gravação e vetaram o jingle. "Quando percebi que aquelas eram as pessoas que diziam ?sim? ou ?não? para uma estratégia, tive certeza de que era como elas que eu queria ser", lembra. Foi aí que descobriu no curso de Publicidade uma boa opção para prestar vestibular. Ele se formou na Unisinos, em 1992, e revela que, desde a faculdade, acredita que a essência da propaganda está na capacidade para entender as pessoas. "Por isso, gosto de ver tudo, ler tudo e ouvir tudo. Tenho o vício de consumir informações de qualquer área, sem preconceitos", afirma.


De mala e mouse


O publicitário começou a trajetória profissional com 19 anos, como diretor de arte na Sampaio Piccoli - atualmente, MTS Comunicação -, onde ouviu de sua chefe elogios aos textos que, em uma ocasião, desenvolveu para cartões de Natal da agência. Ao perceber a facilidade para criar escrevendo, conquistou o primeiro lugar em uma seleção para redator na Martins & Andrade e foi chamado para desempenhar a mesma função na Módulo Propaganda.


Fernando foi redator da maior agência de Florianópolis na década de 90, a Artplan - que hoje se chama Prime -, durante dois anos. "Sem dúvida, aprendi muito na Artplan. Foi lá que ganhei meu primeiro prêmio Top de Marketing; foi lá que aprendi a usar o computador, que começava a figurar nas agências de publicidade", conta. Porém, Fernando achou que a capital catarinense não se enquadrava às suas pretensões, naquele momento. "A verdade é que Florianópolis é muito legal para levar uma vida junto à natureza, para aproveitar a praia, surfar,? E, no estágio da vida em que eu estava, a cidade me parecia um pouco parada", analisa o publicitário, que voltou a Porto Alegre para trabalhar na Nova Forma, agência que considera uma de suas maiores escolas.


Seu chefe na época, Roberto Pintaúde, é possuidor de uma imensa admiração de Fernando Garros. "Um gênio", define. Em 1995, ingressou na Paim, onde trabalhou durante um ano e meio que avalia como "período mágico". Após isso, voltou à tradicional Martins & Andrade e, lá, ficou mais dois anos, coordenando a criação da agência. Ainda teve passagens pela Dez Propaganda, Blanke Comunicação e Ária de Propaganda. Nesta última, uma agência menor onde desenvolveu diversas funções, em meados de 2000, ficou encantado pela área de planejamento. "Sempre achei muito importante que todas as ações tivessem pé e cabeça. Descobri que o ato de formular um raciocínio que desencadeie em um posicionamento é algo fascinante", se empolga Fernando.


Após toda essa experiência no mercado da propaganda, foi na Competence que o publicitário conheceu seus dois sócios na Publivar - Vicente Muguerza e Mauro Lima - e percebeu a união da criação e do planejamento como uma atividade cativante. "A Competence passou a ganhar muitos prêmios de criação na época em que estive lá. Me orgulho bastante disso", revela Fernando, que trabalhou na agência entre 2000 e 2004.


Foi então que Fernando, em parceria com Vicente e Mauro, considerou aquele o momento certo para reunir todo o conhecimento adquirido no projeto de abrir sua própria agência de publicidade. "Acredito que nós três chegamos a um conjunto completo. Temos focos em áreas diferentes, todas essenciais para uma empresa que pretende agregar criatividade, gerência e administração competentes", avalia. A Publivar foi uma das maiores agências de Porto Alegre, na década de 80. Fernando e seus sócios optaram por contatar os donos da marca para receberem o direito ao uso e à propriedade do nome. "Concluímos que seria muito mais custoso e trabalhoso se iniciássemos as atividades com um nome completamente desconhecido", explica, revelando a estratégia.


Rock sim, MPB nem pensar!


Fernando é casado há quase 10 anos com Michele, professora de educação física e personal trainer. "Costumo dizer que sou o antimarketing da minha esposa. Não consigo fazer nada do que ela pede para os alunos fazerem", brinca o publicitário, que, ao menos, é aplicado no cooper matinal. Ele nunca parou de tocar bateria. Atualmente, integra a banda Tanlan - nome de uma arte marcial inspirada nos movimentos do louva-deus -, com a qual ensaia aos sábados à tarde. Apaixonado por rock, uma de suas principais diversões é assistir a shows de bandas que admira no seu home theater: "Muitas vezes, prefiro assistir a um bom DVD de música do que ir a um show, acredita?" Fernando, fã de rock progressivo e de hard rock, cita como suas bandas preferidas Rush, The Police e Van Halen, entre várias outras. "Olha, os apreciadores que me perdoem, mas tenho pavor de MPB. Não suporto o João Gilberto, o Caetano, o Chico, o Milton e ninguém dessa turma", revela em tom enfático.


Viajar é outra paixão do publicitário, que afirma ser fascinado por lugares montanhosos. Dentre os países que conheceu, nada parece ser comparável ao Canadá: "É impressionante como tudo funciona lá. Aquela adesão da cultura norte-americana ao modo europeu de pôr tudo em prática me emociona", define. O apreço pela literatura é focado, basicamente, em livros que abordam marketing e vendas. "Sou um devorador de livros técnicos, de livros que defendem teses. Não me interesso por romances ou crônicas", conclui. E, sobre cinema, também é enfático: "Não me venha com filmes-cabeça ou europeus! Gosto de superproduções americanas, no estilo Spielberg". Assim, não surpreende que Fernando deteste Goddard e adore O Resgate do Soldado Ryan.


Extremamente crítico. Esse é o grande defeito e, também a grande qualidade de Fernando Garros, segundo ele mesmo. Diz que é exigente com tudo, com todos e, principalmente, consigo próprio. "Me atrapalha, porque é difícil algo estar realmente bom para mim. Mas me ajuda, pois quando apresento meus projetos, normalmente os considero impecáveis", examina o publicitário. Seu grande projeto, no momento, é consolidar a Publivar como uma das mais importantes agências de publicidade do Estado. "Quero mostrar ao mercado que é possível uma nova mentalidade em uma agência de propaganda", almeja. Mas Fernando também já começa a pensar na possibilidade de um filho com Michele. "Quero muito um bebê. Mas gosto de viver um dia de cada vez e deixar que Deus tome as rédeas", pondera com serenidade. O publicitário acredita que a felicidade está na capacidade de baixar as expectativas e rir de si mesmo. "Assim, somos mais realistas e nos frustramos menos. Prefiro ser calmo e ver sempre o lado bom das coisas", garante.

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