Flavio Paiva: Persistente e negociador

Consultor, ele é apaixonado pelo trabalho e se diz curioso por novos conhecimentos

Flavio Paiva - Divulgação

Por Luiza Borges

O bate-papo com o consultor comercial e gestor de negociação Flavio Paiva da Silva foi mais duradouro do que o de costume na sua rotina. Conversador, desenrola assuntos infindáveis que surgem de outras questões. O carisma e a desenvoltura retratam um profissional apaixonado pelo que faz sempre que descreve o sucesso de suas atuações em negociações no mercado de trabalho.

Curioso, tem fascínio em buscar conhecimento além do Marketing. Formado em Administração pela Unisinos, chegou a cursar, também, boa parte do curso de Psicologia na mesma universidade, no entanto, não se graduou. A área de humanas desperta muito o interesse de Flavio, que aplica e utiliza a ciência de ambos para complementar e avançar nos negócios.

A construção do sim

"Sempre fui negociador. Acredito que seria um bom diplomata", revela, ao comentar que, desde pequeno, tentou chegar a um ponto de convergência em diversas situações da vida. Para ele, é tudo uma questão de paciência e compreensão. "Precisamos nos colocar no lugar do outro, além de conhecer e enxergar as necessidades dele. Ter propriedade e clareza sobre o que estás falando também é essencial. E é claro, ter persistência, desde que respeitando o tempo do processo", ensina.

A palavra 'não', para ele, tem grandes chances de ser revertida. Muitas das suas conquistas foram motivadas por uma resposta negativa, com paciência e jogo de cintura. Lembra que teve negociações longas que exigiram persistência. "Já recebi muitos 'nãos', o que é normal nesta carreira. Quando isto acontece, deves dar início à construção do 'sim'". Flavio acredita que, se ouvir o que o outro tem a dizer, enxergará uma forma de construir alternativa que atenda aos objetivos de ambos.

Exemplo de família

Filho do arquiteto João Carlos Paiva da Silva, já falecido, e da advogada Salete de Andrade da Silva, conta ter herdado deles o exemplo de dedicação e foco no trabalho, pois ambos foram muito aplicados. Com isso, procura desenvolver o lado da criação e entrega do pai, e o comprometimento e seriedade da mãe. Além disso, ele conta que o pai era muito falante e costumava reunir os filhos na sala da casa, durante a noite, para bater papo. Flavio procura fazer o mesmo com o filho, Caio Bueno Paiva, de 16 anos. O adolescente cursa o ensino médio e já mostra interesse pela área visual, assim como o avô, mas com foco em fotografia.

Nascido em Porto Alegre, em 23 de dezembro de 1966, Flavio cresceu ao lado do irmão, Fernando, que, há quase 30 anos, mora em Viena, na Áustria, onde se dedica à carreira musical. A exemplo do irmão, será que ele também tem dom para alguns instrumento? Quanto a isso, ele ri e afirma: "Gosto muito de música, mas assumi que minha aptidão se limita a apenas ouvir e apreciar shows". Completa a família um casal de irmãos, Renato e Valeska, oriundos do primeiro casamento do pai.

O cinema é uma das atividades de lazer que o encanta. Costuma frequentar muito as salas de cinema e tem gosto especial por assistir obras francesas e argentinas. Seja qual for o filme, uma iguaria especial não pode faltar para o momento ser perfeito: a bala azedinha. "São as minhas prediletas. Tem que ter". A trilha sonora fica por conta das clássicas MPB. Nomes como Caetano Veloso, Lenine, Seu Jorge, Ana Carolina e Elis Regina estão entre os artistas preferidos de Flavio.

A leitura de livros está presente nas horas de descanso, quando deixa os textos sobre marketing de lado e dá espaço a romances, poesias e biografias. "Tenho um apreço pelo 'pai da psicanálise', Sigmund Freud. Gosto da forma como ele detecta o ser humano", reflete. A musculação é outra paixão que revela, já que, desde os 18 anos, aderiu à prática visando à saúde, além do cuidado com o corpo. "Vou à academia durante a manhã. É um hábito que me faz muito bem. Tenho mais energia para realizar as tarefas do dia."

Ele por ele

Prefere a meia estação, porque, durante o Inverno, sente muito frio e, no Verão, o calor é intenso. "Parece clichê, mas sinto os extremos", analisa. Considera-se metódico e afirma que cumpre os processos passo a passo: acordar cedo, tomar café e ir para a academia são a base para que o restante do dia dê certo. "Minha rotina de trabalho é muito na rua, fazendo visitas, reuniões, prospectando, colocando em prática alguns trabalhos. Chega ao final da tarde, minha bateria já vai ficando baixa", explica.

A saudade da sensação de segurança ao caminhar pelas ruas é citada com ar de nostalgia. Sente falta da liberdade de quando era criança e não precisava andar tenso por aí. E desabafa: "Lamento que meu filho não tenha o mesmo privilégio que eu tive. Ele fica muito dentro de casa, brincando com jogos online", lastima.

No bairro Petrópolis, onde cresceu, Flavio estava sempre na rua com os amigos. Entre o futebol com a turma e programas televisivos, outra atividade curiosa é revelada: "Gostava de plantar. Vivia com as mãos na terra, enterrando sementes de feijão, tempero verde, enfim, aquela conexão com a terra me fazia bem". Tal sentimento de liberdade é revivido quando viaja, pois prefere explorar os locais a pé. "É bem melhor, pois se tem mais chance de conhecer as pessoas que residem nessas cidades".

Trabalhando com a emoção

Começou a trabalhar aos 16 anos, fazendo a transcrição de leilões, cargo que conquistou por ter uma caligrafia muito bonita. O dom também lhe rendeu trabalhos para a financeira Fin-hab, para a qual transcrevia números. O primeiro emprego na área comercial foi na Associação dos Dirigentes de Vendas do Brasil (ADVB). Com o tempo, foi descobrindo que, além da letra bonita, trazia conteúdos muito bem escritos. "Por ter um texto bacana assumi a parte da Comunicação da entidade. Fazia de tudo, na verdade. Foi uma escola, onde aprendi o funcionamento da área de negócios", recorda.

Após três anos de aprendizado, migrou para a revista Amanhã, por meio da qual teve contato com informações variadas. Dono de uma curiosidade latente por assuntos fora da sua área, no veículo atuou com organização de eventos, o que lhe trouxe uma boa base e contatos do mundo da Economia. "Foram cinco anos muito bem aproveitados", garante. De lá, saiu para encarar outro desafio: trabalhar com esporte e a paixão dos torcedores. Como diretor de Marketing do Sport Club Internacional, sentiu o peso e a responsabilidade de lidar com os sentimentos de uma massa. "Foi intenso. Peguei o clube em uma época que o time não conquistava nada. A experiência foi um grande exercício, que me deu entendimento para lidar com situações futuras", analisa.

Para ele, são nos momentos de adversidade que se adquire mais conhecimento, a exemplo de 2005, quando foi convidado para trabalhar no Grêmio, também como responsável pelas áreas Comercial e de Negócios. O time disputava a segunda divisão e a cota de televisão estava reduzida, o que dificultava ainda mais a situação. "Mas é aí que a gente cresce profissionalmente", acredita, ao salientar a importância da relação de confiança e empatia com o cliente. "Tive negociações longuíssimas no Tricolor, que duraram meses de tentativas, até conseguirmos um ponto comum em que todos ganhassem", lembra.

Lembra da Batalha dos Aflitos, nome dado ao último jogo da Série B, quando o tricolor gaúcho enfrentou o Náutico. "A vitória do time, da forma que foi, levou a um consumo exponencial, aumentando a demanda pelos produtos. Tivemos que buscar alternativas para suprir os pedidos, pois haviam acabado as camisetas oficiais." Ele conta, ainda, que a Puma, na época patrocinadora oficial do clube, tinha uma previsão na grade, que foi quebrada pelo resultado da partida, superando todos os números já vistos no futebol. "Tivemos que buscar opções como camisetas alusivas ao Grêmio para atender a todos os clientes", detalha.

Um ano depois, o Grêmio ainda disputaria a Taça Libertadores da América, chegando à final. "Experimentei o céu e o inferno com o clube. Tive a visão da administração e do torcedor. Foi uma experiência enriquecedora". E a pergunta que não quer calar: para qual time torce? Não revelou. Além do marketing de clubes, Flavio traz na bagagem profissional a aplicação do licenciamento de algumas marcas da RBSTV e da Rede Globo, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, como Galpão Crioulo, Patrola, Anonymus Gourmet.

O lado escritor

"Gosto muito de escrever e sou colunista por prazer", diz, em referência à sua colaboração semanal em Coletiva.net desde 2004. Na escrita, busca desenvolver conteúdos que sejam do interesse do leitor, mesmo que tenha começado sempre abordando Marketing. "Tenho uma conexão muito boa com a área de humanas e gosto de trazer em meus textos reflexões que encaixem no dia a dia e complementem os assuntos", ressalta e diz que sempre tem em mãos caneta e papel: "Virou um hábito. Gosto de fazer anotações. Sempre pode ser útil".  

Feliz profissionalmente, diz gostar muito do que faz, e almeja muito mais antes de alcançar o patamar da realização, afinal, ainda quer contribuir com a sociedade. A vontade de ampliar conhecimento em uma área acadêmica é revelada por Flavio ao contar sobre o desejo de aumentar o convívio dentro de uma universidade, seja da forma que for.

Certa vez, uma pessoa chegou para ele e exaltou algumas características profissionais, todas de extrema importância e primordiais para o mesmo: "Foi ali que tive a certeza de que estava no caminho certo. Fiquei muito feliz em saber que tenho uma boa imagem no mercado de trabalho. Foi gratificante perceber que estava fazendo a coisa certa", relata, orgulhoso. Agora, o que um negociador deve ter para fazer um bom trabalho? A resposta é assertiva: "Conhecimento, persistência e um bom jogo de cintura, para encontrar alternativas em cenários adversos, sempre em busca do sim".

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