Gabi Chanas: Com leveza e bom humor

Com disciplina e persistência, Gabi Chanas traçou a carreira de jornalista e agora percorre novos caminhos

Disposição para persistir e alcançar objetivos é algo que não falta a Gabrieli Chanas, ou apenas Gabi, como todos a chamam. Foi assim quando decidiu pela Comunicação no Ensino Médio, durante uma feira de profissões em que acompanhou a palestra de um produtor de rádio, e também na decisão de deixar o Grupo RBS após 15 anos. Aos 36 anos, a jornalista e blogueira, dona do portal Gabi & Co., encara os dias com humor, as pessoas com atenção e os desafios com dedicação. "Gosto de conhecer pessoas, ser família. Falo bobagem, I dont' care. Tenho essa filosofia de fazer o bem. Para mim, a vida vale se for assim", argumenta.
O encanto pelo rádio a guiou durante a graduação, cursada na Unisinos, e na rádio da universidade deu os primeiros passos na profissão, como estagiária em reportagem. Mas a meta mesmo era trabalhar com produção na Rádio Gaúcha. Quando André Machado, então chefe de reportagem da Gaúcha, tornou-se professor da Unisinos, viu uma nova conexão com a emissora. "Virei stalker do André, ele não conseguia passar no corredor sem que eu fosse atrás dele", conta entre risos. Em uma conversa, perguntou por que nunca havia sido chamada pela Gaúcha e descobriu que talvez os currículos enviados não tivessem chegado ao destino correto.
A sonhada vaga na emissora foi conquistada a apenas três meses da formatura, o que implicaria no término do contrato de estágio. "Quase enlouqueci todos na Gaúcha, no tipo 'olha eu aqui, por favor, me contratem'", diz. Com o diploma em mãos, ainda fez alguns trabalhos como freelancer em reportagem e produção antes de retornar à emissora como produtora de Antônio Carlos Macedo, no programa Chamada Geral. Aconteceu, precisamente, em 11 de setembro de 2001. "Morava em Gravataí e vim no ônibus, supernervosa, rezando: por favor, deus, que hoje seja um dia cheio de notícia, pro meu primeiro dia com Macedo não ter notícia furada. Aconteceram os atentados (nos Estados Unidos) e só conseguia pensar: Deus, menos, não sei lidar com isso", lembra.
Quando a emissora decidiu modificar a programação dos fins de semana, com atrações ao vivo, passou a apresentadora do Supersábado, ao lado de Wianey Carlet. "Wianey me deu a escada. Ele pegava a pauta filé do programa e dava para mim. Como esse cara vai me deixar brilhar? Ele deixava, porque já tinha o brilho dele", explica. Passou-se sete anos na apresentação do programa, período que se encerrou em janeiro deste ano, deixando vínculos com os ouvintes. "O Supersábado foi um programa exatamente com o meu estilo, gosto de falar, ser boba, rir com as pessoas, fazê-las se sentir em casa. Foi uma dor sair, mas o legal foi que a Gaúcha deixou que eu me despedisse. Teve um programa todo especial, em que pude contar aos ouvintes minhas razões."
Na emissora, integrou a equipe de reformulação de uma série de programas, entre eles, o Correspondente Ipiranga, até tornar-se coordenadora de projetos digitais da rádio e, depois, passar a Zero Hora. O convite, feito por Marta Gleich, então diretora de Internet, foi uma surpresa, mas não tão amedrontador pela ideia de continuar a trabalhar com o segmento online. Surpreendente mesmo, segundo Gabi, foi o convite para assumir o cargo de editora assistente. "Se me dissessem há 10 anos que eu iria trabalhar num jornal, eu diria 'o quê? Eu trabalhando num jornal?'" Assumiu o desafio com mais conforto por se tratar do caderno Donna e já ter o gosto de produzir conteúdo para o público feminino pelo blog Noiva.com.


Gabi Chanas |Crédito: Marcelo Andrade

 

E vem a noiva


O pedido de casamento recebido de Marcelo em 2008 deu origem a um novo capítulo na vida pessoal e também profissional de Gabi. Ao contar a novidade a amigas do jornal, comentou que a primeira coisa que fez após o noivado foi pesquisar blogs de noivas, um dos meios em que a irmã, Claudya, organizadora de casamentos, costuma buscar inspiração. De Porto Alegre, encontrou apenas uma página, que não era atualizada havia três meses. Com o incentivo das amigas e o aval do noivo, na semana seguinte surgiu o Noiva.com, onde compartilhou todos os passos do casamento. "O blog foi muito maior que eu imaginava. Quando sai da RBS, em julho, ele já estava com 1 milhão de visualizações mensais. Ele gerou 32 eventos para noivas, que reuniram 3 mil pessoas. Por ele, fui para Londres cobrir o casamento real. E até hoje sou a noiva, acho que nunca vou deixar de ser."
Inspirada na carreira do marido, que trabalha na área de TI (Tecnologia da Informação), no fim de 2013 começou a pensar em fazer um movimento profissional, que teve início com a saída da Rádio Gaúcha. "Tinha toda uma questão de saúde, de aproveitar mais tempo com a família, me dedicar somente ao jornal e depois definir o que fazer", pontua. Em janeiro, recebeu a tarefa de coordenar a equipe que colocaria no ar o novo site da revista Donna. Com o projeto entregue, retomou a reflexão e decidiu que era a hora de fazer um 'ano sabático', viajar, estudar e definir um novo desafio profissional. "O que me desafiava muito era o digital. Tinha trabalhado como coordenadora de projetos, já tinha tido sucesso no blog, sabia como me comunicar com o público."
A repercussão junto aos leitores da notícia de que havia deixado o grupo, no entanto, fez acelerar o processo e apenas um mês se passou entre a saída do Grupo RBS e o lançamento de um novo projeto, o Gabi & Co. Tinha a intenção de fazer um blog e manter contato com o público da internet, mas, em uma tarde, a ideia acabou se transformando em um portal, que também reúne blogs de amigas e da sobrinha Bárbara Chanas. "Eu não imaginava a reação das pessoas. Postei no Facebook que estava saindo e quando vi o post tinha quase mil comentários. Me considero muito honrada quando alguém escreve dizendo que gosta do teu trabalho." Ainda se espanta quando lembra das cerca de 400 pessoas que foram ao Shopping Iguatemi, onde teve instalado seu escritório para o lançamento do portal. "As pessoas saírem de casa e irem ao shopping para ver uma criatura que elas nunca viram, que ouviram no rádio ou leram na internet, para desejar boa norte no projeto, é surreal", reflete.

Tempo de traquinagem


Gravataiense com orgulho, como faz questão de frisar, Gabi é filha de Nelma e Plínio Chanas, hoje aposentados. Na infância, a mãe era dona de uma escola local, onde as filhas começaram a vida estudantil. Recorda que era comum levantar em meio à aula e deixar a sala, pensando que "a escola é da minha mãe". "Se tu fazes a primeira série, que é o primeiro contato com o universo da escola, no colégio que é da tua mãe, isso pode se transformar num pequeno capeta", alerta. A solução para dar um pouco de juízo à menina foi transferi-la para um colégio de freiras. Deu resultado, já que as memórias dos tempos de criança estão geralmente ligadas ao estudo e à escola. "Se pedir para eu resumir toda a minha infância num lugar, num grupo de pessoas, é a escola, um colégio que chama Dom Feliciano", afirma.
Chegar em casa após a aula, encontrar o pai ouvindo rádio e fazer o tema de casa escutando o Correspondente Ipiranga também estão entre as lembranças. Diverte-se ao contar que, certa vez, chegou a desenhar para o pai o personagem que imaginava ser o correspondente: um carteiro, com um microfone na mão e uma sacola de cartas no chão. "Eu achava que o Correspondente Ipiranga era um carteiro que ia à rádio, lia as notícias e ia embora, porque eu só ouvia a voz dele naquele momento. Na minha cabeça, fazia sentido."
Há quase cinco anos está casada com Marcelo, a quem conheceu em 2007, durante a festa de despedida de um colega da Gaúcha. Ela e uma amiga tentavam tirar um foto na época em que ainda não havia celulares com câmeras frontais. "Ele veio super gentil e se ofereceu pra tirar a foto. Tudo começou por causa de uma selfie, que, na época, nem chamava assim", relata. O casal sempre teve vontade de ter um cachorro, até que, pela internet, Marcelo encontrou Dunga, o vira-lata que, adotado pelos dois, ganhou também o carinho dos leitores. No Gabi & Co., além do blog da Gabi, mantém o blog do Dunga, escrito em primeira pessoa como pelo mascote, que, no primeiro mês, alcançou mais visualizações do que o da dona.

Louca por seriados


"Todo o momento livre que tenho, assisto seriados", afirma, enfatizando o gosto pelas séries. Enquanto o marido tem um perfil mais aventureiro, Gabi diz que fica longe das atividades físicas. "Nossas formas de lazer são engraçadas. No sábado de manhã ele pega o carro e vai pra Ivoti escalar. No momento, em que ele bate a porta, eu pego o computador e começo a assistir seriado". Fã de 'Friends', criou encontros temáticos sobre a série e, com patrocínio de uma agência de viagens, foi conhecer o café fictício que servia de cenário e virou realidade em Nova Iorque. "Sou megamaníaca. Sei todas as frases do seriado", garante.
Atualmente, acompanha as séries 'Scandal', 'House of cards' e 'Homeland', que trata sobre a caça ao terrorismo e considera essencial a qualquer jornalista. Além das tramas políticas, confessa que assiste à "Pretty Little Liars", série de suspense adolescente. "É muito viciante. Vi um episódio esses dias e acabei vendo outro, e outro, e outro? Agora, eu e mais um monte de menina que nunca vi temos um grupo no WhatsApp para falar de Pretty Little Liars", conta.
Mick Jagger, Jack Johnson, Joss Stone e ABBA são alguns dos artistas que ilustram o gosto musical de Gabi. "Agora, teve show do ABBA cover e eu estava lá, enlouquecida. Pra mim, (o álbum) Waterloo é obra-prima da música, mais que Beatles. Meu marido odeia e foi comigo." Para ler, tem preferência pelas biografias. Nessa linha, a obra lida mais recentemente contava a vida da princesa Grace, de Mônaco. Também indica a biografia do maquiador Max Factor, criador da marca de cosméticos homônima. "A história dele é muito rica do ponto de vista de empenho, de criar algo que não existia. Ele criou não só a maquiagem, mas o desejo por maquiagem", explica.
Cozinhar não é um forte de Gabi, que admite até não saber onde ficam guardadas as formas em casa. "Sou muito imediatista para ficar mexendo, esperando cozinhar. Ah, não? Cup Noodles", exclama, simplificando o processo ao macarrão instantâneo. Conta que sabe fazer três ou quatro pratos de segurança, enquanto o marido é um "mega chefe". Viciada em sopa de capeletti, não faz muitas restrições quanto à alimentação, uma vez que, "quem não cozinha, não pode exigir", mas diz que não entende "como alguém come mondongo".

Calma para o caos

Admite que, após deixar o Grupo RBS, demorou cerca de um mês para acostumar-se à possiblidade de levar uma vida mais leve. "Vivia num estilo tão workaholic do mal e acabava estressada. No começo, vinha para cá para o escritório, fazia um post, saía e sentava no jardim. Chegava a me sentir culpada", reconhece. Aos poucos, estabeleceu uma nova rotina, mais tranquila, e até se permite trabalhar em casa. "Tenho ficado mais em casa e tenho adorado a experiência", confessa.
Retornar ao mercado, trabalhando no segmento de comunicação digital, é um desejo para ser concretizado em breve. "Quero trabalhar com digital e com uma veia mais publicitária. Tenho algo a contribuir - eu sei fazer conteúdo e estratégia para internet - e tenho a aprender", afirma. Embora reconheça que vive uma fase extremamente prazerosa, diz que não se imagina assim o resto da vida. "Precisava de um pouco de calma para eu me preparar e voltar encarando o caos com calma", avalia.

Crédito: Marcelo Andrade

Crédito: Marcelo Andrade

 

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