Gabriela Lerina: Caminho natural

Desde pequena, a jornalista, que atua no SBT RS, foi muito comunicativa

Existem pessoas que nascem com aquele "algo a mais", tornando o caminho a ser traçado "tão natural como a luz do dia", já dizia Chorão, vocalista do Charlie Brown Jr. Desde que se conhece por gente, Gabriela Lerina sempre foi muito comunicativa, apesar de tímida, é verdade. Inclusive, como não parava um só segundo de falar, o pai, Roberto, já falecido, chamava a pequena Gabi de "rádio destrambelha". Já por volta dos seis anos, uma das brincadeiras favoritas consistia em apresentar jornal e entrevistar as primas.

Como sempre gostou muito de música, de leitura, de contar histórias e era muito criativa, nunca teve dúvidas de que queria trabalhar com comunicação. O que ela nunca planejou e nem previa seria trabalhar, posteriormente, na telinha. "Foi tudo muito intuitivo. As oportunidades foram aparecendo e fui aceitando", relata, ao declarar que hoje tem certeza absoluta: "Meu talento é para trabalhar com televisão". 

As brincadeiras da Gabi de seis anos se tornaram realidade em 2001, quando ingressou na Ulbra para cursar Jornalismo. Logo no primeiro semestre, passou a frequentar uma oficina de TV da faculdade apenas por curiosidade. A realidade é que ela adorou e permaneceu por lá durante três semestres. Aliás, começou sendo aluna e finalizou como monitora.

Na telinha

Antes de engrenar na carreira televisiva, entretanto, atuou por alguns meses como assessora de imprensa, na Secretaria de Educação do Estado. Mas foi preciso só uma dica de que havia sido aberta uma vaga na TVE para que ela voltasse para o outro lado do balcão e, de lá, não saísse mais. Assim como uma escola, trabalhou em todas as áreas possíveis na emissora estadual: produção, edição e reportagem. 

Após se formar, ainda teve uma passagem pela revista South Star, que tinha também um programa de televisão. De lá para cá, acumula atuações na Ulbra TV, RBS TV - após juntar várias gravações dela em uma fita VHS e ter entregue na portaria -,  bem como no Canal Rural, Band e, atualmente, no SBT RS.

Mesmo tendo atuado em quase todos os veículos da capital gaúcha, um dos maiores desafios foi ter que ingressar no Agro. Mas nada que o pai - uma eterna referência e de quem sente muita falta - não pudesse ajudá-la. Como Roberto tinha uma empresa de importação e exportação de grãos, quando a filha foi para o Canal Rural, ficou muito feliz e passou a dar aulas para ela. Além da parte profissional, trabalhar no veículo também a ajudou pessoalmente. Isso porque conheceu na emissora o futuro marido, Álvaro, com quem está há cerca de uma década.

Um percalço no início da carreira diz respeito à construção de texto para televisão, visto que precisa "casar sempre com a imagem" e que pode mudar ao longo do tempo. Mas depois de tantos anos fazendo isso, hoje a jornalista elabora de forma mais fácil e rápida. Apesar disso, decreta: "O grande desafio de um repórter de televisão é ser o mais ágil possível, correto na informação". 

Olhando para trás, após mais de duas décadas de atuação, não teria como o momento mais marcante da carreira ter sido outro. A cobertura do incêndio da Boate Kiss, que realizou durante a primeira passagem pelo SBT-RS, nunca mais foi esquecida. Gabi estava com uma das primeiras equipes a chegar em Santa Maria, tendo dormido na cidade e voltado diversas vezes para fazer matérias especiais. 

"Foi algo inesquecível para todo mundo que é jornalista. Não era mãe ainda, mas pude sentir cada sofrimento daquelas famílias." Isso porque a repórter não consegue ser apenas profissional ao lado das fontes e tem muita empatia. Após 10 anos, a tragédia ainda a impacta severamente. Inclusive, começou a ver a série da Netflix sobre a ocasião e não conseguiu finalizá-la, pois o abalo emocional é muito forte.

Com uma "rotina sem nenhuma rotina" e apesar de trabalhar apenas no turno da tarde, a comunicadora acorda e logo passa a acompanhar as notícias do dia e não para mais - uma característica que entende ser necessária para manter o fôlego para uma correria sem fim. "Brinco que parece um trem-fantasma. Tu começas o dia e nunca sabes como vai terminar. A vida de jornalista é isso."

Amor incondicional

Com 40 anos, hoje ela acredita que há uma Gabriela antes e depois da maternidade, visto que, atualmente, tem um olhar mais diferenciado. Catarina, de cinco anos, é quem ocupa a agenda da jornalista quando não está no trabalho. "Minha filha é meu hobby. É um vício", salienta ela, que pontua: "Dedicação específica é para ela". Por isso, volta e meia leva a pequena em praças, floriculturas e também em viagens na Serra gaúcha. 

Além disso, Gabi costuma desenhar com Catarina, assim como ajudá-la na hora de fazer os temas da escola e, é claro, brincando. "Apesar de ser um grande desafio conciliar a maternidade com o Jornalismo, consegui até agora." Dessa forma, o grande plano da comunicadora é continuar o mais perto possível da filha. Afinal, por ser a sua prioridade número um, deseja que Catarina sempre esteja confortável, além da própria Gabi ter muita saúde para cuidar da pequena e passar para ela os valores nos quais acredita. 

Distrações e folgas

Quando não está no SBT-RS, tampouco cuidando da filha, ela pode ser encontrada em um lugar: academia. Por três vezes na semana, frequenta o local para fazer exercício físico, raro momento que dedica apenas para si. Antigamente, gostava muito de sair e dançar; contudo, para ela, quando há uma criança, a vida dá uma grande mudada. "Se me convidar para assistir a qualquer filme, eu durmo no meio", brinca ela, que tem como produção cinematográfica favorita o clássico 'E.T. O Extraterrestre', que a faz chorar e lhe traz lembranças da infância.

Dessa fase, também carrega o gosto pela música brasileira, já que cresceu escutando muitos artistas nacionais, a exemplo de Tom Jobim, pois ele lhe "traz paz". Além disso, adora Rock gaúcho, como a banda Ultramen. No âmbito internacional, Coldplay é a banda favorita, depois de Foo Fighters e também Counting Crows.

Com apreço também pela leitura, confessa que é difícil escolher apenas um título como o favorito. Todavia, recentemente, por causa do Jornalismo, voltou a ler algumas obras da Patrícia Melo, as quais considera muito atuais. Gremista, gosta de acompanhar os jogos do tricolor gaúcho. Nos últimos anos, porém, com a filha e o marido colorados fanáticos, acaba sabendo mais sobre o rival.

Bom humor, sempre

Natural de Porto Alegre, Gabi é a irmã mais nova de Diego que, atualmente, mora em Barcelona, na Espanha. Fruto de uma infância tranquila, recorda que sempre esteve cercada por muitas crianças, apesar de ter apenas um irmão. Isso porque os pais tiveram amigos com filhos na mesma idade, o que não é coincidência. "Todos meio que combinaram de ficarem grávidos na mesma época", revela ela, ao contar que, inclusive, as amigas de hoje são as mesmas. Daquela época, ainda carrega as lembranças de passar os verões na praia de Nova Tramandaí, quando brincava de fazer comida com a areia. 

Passados alguns anos, quando adolescente, confessa que adorava sair de noite para frequentar festas. Ainda recorda que havia nove pares de sapato no porta-malas do carro que tinha na época, além de um estojo de maquiagem. Afinal, saía da aula e ia direto para a "balada".

Hoje, encara a vida com bom humor e busca sempre se divertir. Com o objetivo de ser uma pessoa legal e tratar bem as pessoas, tenta ter leveza por mais tempo possível. Ela, que adora trocar boas energias com as pessoas e não se vê trabalhando em home office, também entende que algo ruim pode acontecer, mas sabe trabalhar com isso. "Tudo tem uma explicação, então, tento não ser rancorosa." Gabi sabe que é uma mulher "multi", que faz de tudo e se encaixa em todas as funções do Jornalismo. Outra característica que percebe estar vinculada à profissão é ser ansiosa, com dificuldade de esperar por algo. 

Para o futuro, pretende seguir trabalhando com televisão e apresentando, o que mais gosta de fazer, para entrar na casa das pessoas e contar histórias. Entretanto, não gosta muito de planejar o "futuro distante" e prefere se concentrar no "futuro mais presente". "Não dá para ficar fazendo muitos planos. Temos que cuidar e viver o agora, e vamos nos ajeitando com o que vem", pondera. Apesar disso, decreta: "Se tu não sonhares, não tem por que estar aqui".

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