Germano Bedin: A Propaganda o adotou

Longe dos planos profissionais, o mercado publicitário chegou de repente, mas o que era para ser temporário veio para ficar

Germano Fedrizzi Bedin - Crédito: Coletiva.net

Quando adolescente, deu trabalho nos estudos. Ir para a escola era sinônimo de recreio, ou melhor, jogar futebol - e quando não liberavam uma bola, Germano Fedrizzi Bedin levava a sua própria, mesmo sabendo que corria um risco grande de ser confiscada. Chegar na faculdade não foi difícil, já que o "problema" do ainda menino era comportamental. "Eu era vagabundo mesmo", conta, com bom humor que lhe é característico.

Quando cursava Administração na PUC, passou por diversos estágios, em diferentes áreas, mas nenhuma delas fez o coração bater. Formado na turma de 2008 e ainda procurando um rumo, foi provocado pela irmã mais velha, a sócia-diretora da Inventa Evento, Doda Bedin, a ir conversar com Celso Chitolina, então presidente da Associação Riograndense de Propaganda (ARP). Uma coisa era certa, ele se formara para trabalhar basicamente com números e cifras, portanto, viver o mundo publicitário era algo inimaginável. "Eu buscava aquele padrão de carteira assinada, horário comercial, intervalo de almoço, bater ponto, enfim, bem quadradinho", recorda.

Sem nem saber o que era ou o que fazia a ARP, aceitou a conversa e foi bem franco: "Topo, estou desempregado mesmo, mas que fique claro que é por tempo determinado". O trabalho pontual chegou ao fim, mas, poucos meses depois, Dona Ieda, que atuava na associação havia mais de 20 anos, deixava o cargo de secretária e o então presidente resgatou o administrador de empresas. "Tentei argumentar que não era publicitário, mas ele explicou que precisava de um perfil como o meu e não de alguém que atuasse com Propaganda", conta.

Onze anos; cinco chefes

O que era para ser temporário, dura mais de uma década. Nestes 11 anos, além de aprender a gostar, Germano ressalta que trabalhar em associação tem uma característica bem peculiar, que é mudar seu chefe a cada dois ou quatro anos. Desde que começou, passou pela gestão de Chitolina, Daniel Skowronsky, as duas de Fábio Bernardi, Zeca Honorato e está na segunda de Liana Bazanela. A cada nova gestão, há a adrenalina de que tudo pode mudar e novos aprendizados devem surgir. No início, confessa, não gostava dessa mudança, até porque tinha medo de que o próximo presidente poderia mudar tudo, inclusive o executivo. "Esse é o grande lance de servir a uma associação: toda diretoria traz um olhar novo, são desafios novos também. É enlouquecedor, mas enriquecedor", avalia.

Ele fica um pouco constrangido de falar sobre gestões pontuais, pois garante que todas lhe trouxeram muitas experiências fundamentais para se tornar quem é hoje, mas admite que os três primeiros dirigentes foram essenciais para que ele se apaixonasse de uma vez por todas pela ARP. O primeiro, claro, foi quem apostou em Germano, ensinando-lhe toda administração financeira, além disso, diz que deve muito a Chitolina, admira o primeiro chefe e enaltece a característica de ter sempre cumprido com tudo que prometera.

Daniel, por sua vez, apresentou ao executivo o mundo da Propaganda. "Passei a entender como funcionava uma agência, participava de reuniões dentro da Global, com Atendimento, Criação, etc. Antes disso, não sabia nem o que faziam", admite, detalhando que gostava do fato de Daniel o envolver em todos os processos, dando-lhe autonomia. "Ele fazia questão de ouvir minha opinião e me explicar tudo que podia sobre Comunicação", elogia.

Quando fala de Fábio, surge uma risada que parece mais um deboche, mas ele explica: foi um grande amigo que a ARP lhe apresentou. Brigaram inúmeras vezes, mas conta que era engraçado, pois acabavam entendendo que ambos queriam o melhor à entidade e às pessoas. "O Chito me ensinou a ser contábil; o Dani abriu pra mim o mundo da Propaganda e me fez começar a realmente gostar disso; e com o Fabio aprendi demais sobre política - no bom sentido", resgata.

Ranço de holofotes

Como em qualquer trabalho, ele pondera que nem tudo foi maravilhoso e teve, sim, momentos difíceis, quando se questionou, pensou em desistir e etc, mas foi nessas horas que entrou a força da ARP na sua trajetória. Afinal, quando situações assim chegavam, buscava pensar no quanto gostava de estar na entidade. Além disso, houve uma ocasião pesada para ele: a perda da colega e amiga Elizete Ilha, de forma abrupta. "Foi forte, pois a considerava da minha família. Nos despedimos na sexta-feira e ela se foi no sábado. Lembro de aumentar a frequência na terapia e muitas vezes chorar sozinho na sede", afirma.

Diferentemente da área na qual atua, é totalmente low profile, detestando holofotes. Quando mais novo, não gostava nem de tirar fotos e era daqueles que fugia da hora do parabéns na festa de aniversário. Por outro lado, é louco pelos amigos e faz o papel de agregador, ficando sob sua responsabilidade a iniciativa de organizar o churrasco, o amigo secreto, o happy hour, a criação de grupos no WhatsApp. Aliás, admite que trabalhar com tantos publicitários o fez relaxar um pouco nesse lado também.

Para exemplificar o quanto evita a linha de frente, lembra, inclusive, que demorou muitos anos para conceder entrevistas ao Coletiva.net. Apesar de todo esse "ranço" do brilho publicitário - e do ego que acompanha muitos destes profissionais -, teve um dia que precisou falar no microfone na frente de centenas de pessoas. Germano foi agraciado com a estrela Reconhecimento ARP, no Salão da Propaganda de 2015. "Quase tive um troço. Lembro de ter falado até palavrão no microfone, mas é claro que fiquei muito feliz", admite, ao completar que o troféu está na sua casa e é uma das coisas que mais lhe dá orgulho na trajetória.

Um divisor de águas

E se ele foge do glamour da Propaganda, tem alguém na sua vida mais avessa ainda aos holofotes, a esposa. Natália Goulart, com quem está há seis anos, é publicitária - aliás, o casal se conheceu, vejam só, durante um julgamento de peças do Salão ARP, quando ela atuava em agência. "Nosso relacionamento é discreto, mas cheio de parceria, afinidades e muito respeito", resume, confidenciando que Nati, como a chama, sequer ia gostar de ser citada nesta matéria. O filho do contador e administrador Carlos Alberto e da professora Nelci - ambos aposentados -, além de ser o caçula, tem uma diferença de sete e oito anos das irmãs mais velhas, as administradoras Francine, que mora em São Paulo, e Doda, respectivamente.

Ainda que seja o mais novo da prole, garante que não foi mimado. Ao menos não pela mãe, que sempre fez a linha mais dura. Já seu Carlos Alberto, que tanto sonhou com um filho homem e homenageou o próprio pai, dando a Germano o mesmo nome, era quem o tirava do castigo, levava para passear, presenteava em horas impróprias. Aliás, a descoberta de um câncer do pai foi um dos motivos que fez o executivo da ARP voltar para o Brasil, após uma temporada de 10 meses na Califórnia.

A experiência é considerada um divisor de águas na vida dele, que demorou para se formar por dois motivos: essa experiência e grana, que não o permitia cursar todas as disciplinas. Perdido na graduação e enfrentando um processo depressivo, decidiu ceder à insistência de um amigo que morava em San Diego. Por lá, aprendeu a se virar sozinho, conheceu pessoas, lugares e uma cultura diferente. Financeiramente falando, então, foi bem melhor do que imaginava. "Trabalhei entregando pizza. Consegui pagar quem me emprestou o dinheiro da passagem, me sustentei lá, quitei o carro que tinha aqui, foi incrível", resume, para em seguida detalhar que chegou sem falar inglês, fazia curso de manhã e trabalhava em dois locais diferentes. "Foram seis meses ralando muito, mas consegui e me tornei um novo homem", completa.

De volta ao Brasil, virou dono de casa da mais alta qualidade, conforme diz. Hoje, faz tudo com gosto: mantém o lar arrumado e limpo, cozinha, conserta o que for preciso. Até para os estudos voltou com gana. "Minha mãe dizia que tinha girado uma chave em mim. Acho que, se ela soubesse que esse seria o resultado, tinha me mandado morar fora do País com 12 anos", brinca.

Algumas paixões

A enfermidade de seu Carlos Alberto mexeu com a família. Francine já morava na capital paulista e Doda vivia freneticamente o mundo dos eventos. Foi quando se reuniram e decidiram que fariam uma viagem anual em família. De lá para cá, Germano tomou gosto e hoje diz que trabalha para viajar. Inclusive, confessa ser mão de vaca, mas, se tem uma situação que o faz abrir a carteira sem medo é estar de férias em outra localidade. E é daqueles que faz roteiro antes, pesquisa, registra tudo em planilhas, ou seja, absolutamente organizado, inclusive financeiramente, claro.

Outra paixão na vida de Germano é aquilo que carrega desde os tempos escolares: o amor pelo futebol. Praticante do esporte até hoje, ele conta que isso é herança de família, já que é filho de ex-jogador profissional de futsal. Inclusive, acumula uma série de lesões - algumas bem graves -, mas nem isso o fez parar. Chegou até a receber proposta de seguir carreira, com oportunidade de atuar na Bélgica, mas o medo de ter essa experiência ainda muito jovem (tão logo completasse 18 anos) e sozinho, o fez ficar por aqui.

Como não haveria de ser diferente, a paixão pela modalidade o faz consumir futebol também como torcedor. E fanático. "Grêmio é doença na minha vida", admite, ao contar que chega a brigar com amigos e familiares por conta do time do coração. Poupa apenas as pessoas do trabalho, pois sabe que o sentimento é exagerado. Não bastasse a torcida frenética pelo tricolor gaúcho, é daqueles que odeia o rival, assistindo aos jogos do coirmão somente pelo prazer de secar. "Onde quer que eu esteja, paro tudo para ver a dupla Grenal. Sofro, passo mal. É visceral demais", avalia.

Viver para amigos

Tem alguma coisa, além do Grêmio, que o faz vibrar? Claro que tem. A gastronomia. Cozinheiro de mão cheia, Germano procura receitas novas, tem prazer em comandar o fogão e mais ainda a churrasqueira. E não apenas o fato de comer carne - alimento, aliás, que o faz entrar em açougues só para admirar as peças, mesmo quando não precisa comprá-las. O que o encanta é todo o ritual de reunir amigos para dividir o cardápio mais tradicional dos gaúchos. Outro detalhe importante quando se trata de churrasco é que ele prefere usar as próprias facas, objeto que o faz investir valores significativos.

Em uma vasta lista de pratos que sabe fazer como ninguém, hambúrguer artesanal está no topo da lista. Junto de um amigo, gostam de fazer tudo para montar o lanche: a maionese, a cebola caramelizada, o molho barbecue, e tudo com muito carinho. "A gente só não faz (ainda) o pão", brinca. Por outro lado, não é daqueles que desdenha a comida alheia. Ao contrário, respeita e aprecia quem dedica tempo para cozinhar. O executivo também é apreciador de cervejas artesanais, e produz a bebida em casa. Na companhia de alguns amigos, eles têm todos os equipamentos e, de tempos em tempos, reúnem-se para essa logística de produção própria. Ou seja, comer e beber são realmente uma experiência, tanto que tem em casa uma horta onde planta tudo que é tempero - sálvia, alecrim, manjericão, orégano, cebolinha e etc.

Seja o time, a cozinha, a família ou a esposa, o que há de comum entre eles é que Germano vive para essas pessoas e esses momentos. Amizade é algo fundamental na sua vida e, por isso, há empenho em ser querido com quem sabe que gosta dele. Fiel a estes grupos, é também um cara determinado, que vai atrás do que quer, mesmo quando sabe das dificuldades. Aliás, ser comprometido é uma das suas características mais exaltadas por quem o conhece.

Tem certeza que é possível fazer amigos no mercado, mesmo sendo "Joãozinho do passo certo". E a brincadeira é usada quando ele se diz um cara correto e de confiança, mesmo em um ambiente tão concorrido e, por vezes, hostil. Brincalhão e debochado, são essas características que permitem deixar tudo mais leve para Germano, que também diz que sabe guardar segredo como ninguém. Feliz e realizado profissionalmente, ele acorda empolgado para trabalhar e salienta que os dias passam voando. "Não sou publicitário, mas a Publicidade me adotou", conclui.

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