Gerson Luis da Silva: Radiofônico permanente

Mesmo distante da rotina agitada da redação, jornalista não desliga seu lado produtor, sugerindo pautas aos colegas

© Foto: Tânia Meinerz

Gerson Luis da Silva | Crédito: Tânia Meinerz
Por Cinthia Dias
Em 7 de julho de 1994 ninguém imaginava, nem mesmo ele, que o então produtor da rádio Gaúcha, do Grupo RBS, Gerson Luis da Silva precisaria se tornar repórter exatamente no dia em que a maior rebelião do Presídio Central aconteceria em Porto Alegre. A necessidade se deu porque a maior parte da equipe da emissora estava nos Estados Unidos, realizando a cobertura da Copa do Mundo em que o Brasil conquistou o tetracampeonato.
Liderado pelos assaltantes Dionei Melara e Celestino Linn, o acontecimento, que entrou para a história do Rio Grande do Sul, foi acompanhado de perto por ele, Diego Casagrande e Oziris Marins. "Uma experiência fantástica com um celular tijolão, que acabou ficando sem bateria", descreve, visivelmente satisfeito com o trabalho, que resultou na obra "48 horas de terror" do amigo Casagrande. "O livro foi idealizado no Bar do Beto. Tudo isso motivado pelo cantor e compositor Nelson Coelho de Castro."
Dos quase 10 anos que atuou na Gaúcha, além do motim, recorda, com carinho, a experiência que teve ao lado de Paulo Sant"Ana, falecido em julho deste ano, entre 1993 e 1994. Apesar do pouco tempo, lembra das vezes em que o colunista, durante as gravações do programa "Gaúcha Comportamento", deixava o estúdio e os entrevistados para fumar. O que mais lhe intrigava é que voltava ao ambiente, como se nada tivesse acontecido, e retomava a entrevista com maestria. "Achava tudo muito maluco", confessa, sorridente.
O que poucos enxergam
Aos 14 anos, dava os primeiros passos no mercado de trabalho como office-boy em um sindicato vinculado à Construção Civil. Na atribuição, onde aprendeu tudo sobre relação sindical, leis trabalhistas e legislação em geral, ficou por seis anos. Paralelo ao cargo, cursou técnico em Contabilidade no Colégio Irmão Pedro, na Zona Norte da Capital.
Bom em processos seletivos, passou em um que era para ser assistente de RH no extinto Grupo Alfred S/A, uma empresa varejista do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Ao final da carreira na organização, em 1991, estava como supervisor do setor. Outro foi para a função de gerente na mesma área dentro da IAB Assessoria Tributária. Quando deixou a organização, em 2005, ocupava o cargo de diretor de Negócios. "Conto tudo isso porque as pessoas observam e enxergam somente o executivo, sem saber como foi o meu começo."
Jornalismo na balança
Ainda na infância, Gerson reunia a paixão pelos esportes com o sonho, inspirado em uma prima, de ser jornalista nas coberturas esportivas escolares. Além disso, na mesma fase, praticava atividades físicas, desde futebol e handebol até atletismo. Esse envolvimento o direcionou na escolha da formação em Jornalismo, no qual se diplomou pela PUC, em 1993. Das disciplinas e dos professores, destaca o radialista Luciano Klöckner, a quem chama de padrinho e amigo.
O vínculo se fortaleceu com o convite do docente, em setembro de 1992, para que fosse trabalhar como produtor, à noite, na rádio Gaúcha, onde Klöckner coordenava o Jornalismo. "Ele precisava de alguém com experiência de gestão", acrescenta, referindo-se ao serviço que prestava na IAB. Confiante, aceitou o desafio de produzir o programa "Plantão Gaúcha", de Antônio Carlos Macedo, e atuar na empresa de assessoria jurídica. "Fiquei ininterruptamente com dupla jornada até 2001." Com a saída de Flávio Dutra, assumiu a coordenação das jornadas esportivas . Além de toda programação, fazia o meio de campo entre narrador e repórter, colocando os profissionais no ar. Desta passagem , conta que teve como estagiários Fabiano Baldasso, Jader Rocha, Leonardo Acosta e Luciano Périco, a quem deu o apelido de Lucianinho. "Todos trabalharam comigo e afirmo que são excelentes."
O sonho chegou ao fim em 2001, quando colocou na balança a posição gerencial que ocupava na IAB e a paixão pela Comunicação. Do caminho trilhado até então, conquistou três Prêmios ARI de Jornalismo e um de Direitos Humanos. "Tomei a decisão pois não tinha como abrir mão da remuneração e do cargo executivo que conquistei." Saiu, deu seguimento à carreira no RH e ingressou na Ulbra, como estudante de Direito. "Sou bacharel, não advogado", salienta, ressaltando a diferença, pois não possui registro na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Em paralelo à formatura da segunda graduação, frequentou mais de 10 sessões de consultoria e decidiu que retomaria a carreira na área jornalística. Com a ativação da rede de contatos, conseguiu integrar, por dois anos, um projeto de expansão da empresa de cartões de pagamento Embratec Good Card. Em 2008, assumiu a iniciativa da Unimed de reestruturação do posicionamento e da marca da operadora de planos de saúde. Como gerente de Marketing da unidade Porto Alegre, a equipe de 16 colaboradores passou a atuar em quatro grupos focais - Comunicação, Inteligência de Mercado, Publicidade e Relacionamento. "Considero-me uma pessoa extremamente feliz com a construção de uma carreira respeitada, transparente e satisfeito com o que cumpri. Aquele office-boy foi um empreendimento."
Outras faces
Da união com a relações-públicas Isabel Dalmás, nasceu David, hoje com 10 anos. O lazer do trio, que mora no bairro Petrópolis, engloba passeios culturais pela cidade porto-alegrense, idas ao Grêmio Náutico União e aos estádios de Grêmio e Internacional. Ao falar no pequeno, assegura que busca passar para ele todos os valores, como o comportamento ético e a necessidade de criar vínculo com as pessoas, que aprendeu com seus pais, Luis Carlos Paz da Silva e Maria da Silva. Além de Gerson, o casal, que reside em Cachoeirinha, teve ainda Márcia, Gilson e Edson.
Entre uma partida e outra no videogame do filho, depois do expediente e aos finais de semana, é comum encontrá-lo pelas ruas. Corredor há seis anos, já realizou cinco meias maratonas e mais de dois mil quilômetros de corridas entre provas de 2 km e 5 km. Quem o acompanha nas redes sociais sabe exatamente a quilometragem de cada treino, que faz questão de compartilhar. "Faço isso não para me exibir, mas para mobilizar outras pessoas. Minha mãe é diabética crônica e pego o exemplo dela para cuidar da minha saúde", explica. Preguiçoso confesso quando o assunto é cozinha, afirma que só se anima para preparar sopa de legumes e carreteiro. Em contrapartida, não deixa a esposa tocar em suas camisas, faz questão de passá-las e costurar os eventuais botões que se despregam. "Adoro fazer isso, me dá prazer. É um hábito desde o tempo em que residia com meus pais."
Radiofônico permanente, Gerson está sempre produzindo. Mesmo distante da redação e exercendo uma série de atividades como executivo de Comunicação e Marketing, o lado produtor insiste em aparecer e sugerir pautas aos colegas que seguem em veículos de comunicação. Perceptível, a disponibilidade com os outros é sua característica principal. Motivado por isso, é voluntário na Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), seccional gaúcha, como vice-presidente. "Faço por acreditar na causa e porque ela ajudou muito na minha carreira." Para os próximos anos, deseja levar às salas de aula as experiências de mercado e os conhecimentos obtidos com o MBA e mestrado em Administração pela Ufrgs. Decidido, seu plano é estar na academia e conciliar essa performance com o papel de executivo.

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