Gil Kurtz: dedicação e crença

Ele queria ser jornalista. Entrou na Faculdade para Relações Públicas. Mas foi como publicitário que acabou ficando conhecido e domando leões, em Cannes. Nos …

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Ele queria ser jornalista. Entrou na Faculdade para Relações Públicas. Mas foi como publicitário que acabou ficando conhecido e domando leões, em Cannes. Nos seus 39 anos, o santa-mariense Gil Kurtz Gonçalves sempre esteve envolvido no setor de comunicação. Tradição que veio de berço, já que o pai, João Batista, e o tio, Abel Gonçalves, foram jornalistas do Diário de Notícias até o seu final melancólico.
A paixão pelo rádio incentivou a sua atuação como profissional da área. "Lá em 1983, aceitei um convite do Cado Bottega, que estava abrindo a Artefacto, e entrei, definitivamente, no ramo da publicidade", afirma o diretor da Upper Comunicação. Foi em seu escritório, na nova sede da Domingos Crescêncio, sorvendo um chimarrão, que ele recebeu a Coletiva.Net para entrevista na seção Perfil.

Do mundo do rádio - teve programas na Imigrantes, Universal FM e Bandeirantes FM -, Gil trouxe uma bagagem privilegiada para sua experiência publicitária. A visão crítica imposta pela vontade jornalística, foi dando um contorno ao profissional de propaganda. "Eu estava me acostumando a saber como encontrar o melhor feedback junto aos consumidores, o que já havia experimentado com os meus ouvintes", argumentou. Para isso, não titubeia em dizer que também foram importantes os cursos de teatro, locução e desinibição. A entrada para valer no segmento de publicidade, na Artefacto, é tida como interessante. "A empresa nasceu como um jornal de bairro, que fomos, junto com o Luiz Henrique, transformando em uma agência, na qual trabalhava como autônomo", afirmou. Em 1990, nascia a Upper e começava uma outra fase da história.

Casado pela segunda vez, Gil Kurtz procura tempo para seus dois filhos, Luciana, de 8 anos (do primeiro casamento), e João, de 5 anos. "Minhas grandes paixões, junto com a gastronomia, pois adoro comer e beber bem", assinala. É na culinária que gosta de desperdiçar o tempo sempre precioso para um empresário, ou pequeno empreendedor como se denomina. "Adoro as brasseries francesas, em que podemos encontrar não a alta-gastronomia, mas pratos bem trabalhados e saborosos", ressalta.

A paixão pelos peixes também o desloca, seguidamente, para a cozinha japonesa. Nesse ponto, salienta o casamento perfeito do universo da percepção e da estética dos pratos. "Poderia muito bem morar no Japão por esse aspecto, mas não suportaria ter de enfrentar o metrô superlotado de Tóquio", descontrai. Para quem gosta tanto de gastronomia, a experimentação culinária também está presente, indo do tradicional churrasco até receitas mais criativas.

SELETIVIDADE E EMPREENDEDORISMO

Outra particularidade que Gil Kurtz traz do rádio é o gosto pela música, essencial para tudo o que faz. Para o diretor da Upper, um combustível vital para o trabalho e lazer. "Não sou preconceituoso, mas extremamente seletivo, o que não permite que ouça música sertaneja e pagode; minhas preferências musicais são a MPB, jazz e blue num mesmo grau e o bom e velho rock´n roll", sentencia.
No entanto, diz que ainda não conseguiu encontrar outra paixão maior do que o som dos anos 70. "A disco, que está cada vez mais em alta, é um som diferente e irrecusável", acrescenta. Na área da literatura, os livros de não-ficção ganham espaço nas prateleiras, muitos deles com cases de sucesso do ambiente publicitário. "Mas, sempre que posso, me rendo a bons textos na área de filosofia, história e política, complementares para todos os aspectos", observando que suas leituras vão de Gramsci a Olavo de Carvalho. Em relação ao cinema, "acabo sendo um bom cliente das locadoras", brinca. Entretanto, observa que sente pela falta de tempo para acompanhar os lançamentos, já que considera o cinema uma fonte inesgotável de inspiração e atualização para quem trabalha em propaganda.

Mesmo sem qualquer pretensão política, o executivo se diz um debatedor inspirado. "Estudei no Julinho, em que aproveitei a efervescência dos anos 80 e o convívio com o imaginário socialista", diz. Hoje, porém, tem uma vivência sem vínculos partidários e sem bandeiras, entendendo que é preciso que não haja imposições para que o ser político tenha sua identidade própria. "Defendo a liberdade de mercado, a livre iniciativa e o respeito ao Estado de Direito, com a sociedade se desenvolvendo sem uma figura onipotente ou onipresente", sustenta. Nesse caso, esquece a seletividade. "Gosto de ter contato com pensamentos diferentes", reforça. Economicamente, entende que existem muitos desacertos estruturais. "Dois pontos importantes precisam ser modernizados: a reforma tributária e a questão previdenciária", avalia. Gil Kurtz também entende que a elite brasileira é pequena e muitos empresários são covardes para questionar e pressionar por mudanças substanciais.

ÍCONES E SEGREDOS

Como bom publicitário, o diretor da Upper tem em mente muitos cases e pesonalidades de sucesso no seu segmento de atuação. No entanto, procura preservar, sempre, o trabalho feito pela sua empresa quando perguntado sobre campanhas de sucesso. Mas ressalta: "Não podemos esquecer os cases como o da Brahma Número 1, Brastemp, Staroup e Parmalat", relembra. Ao mesmo tempo, considera Antônio Mafuz um ícone da propaganda, junto com outras estrelas como Enio Mainardi, Nizan Guanaes, Washington Olivetto, Júlio Ribeiro e Zé Francisco Eustáquio. Rafael Sampaio e Nelson Sirotsky são lembrados quanto o mercado de comunicação está envolvido.

Esses personagens podem ser alguns dos inspiradores do projeto pessoal e profissional. "Quero poder mudar essa coisa do eixo no mundo publicitário nacional e explorar para os clientes suas potencialidades para todos os mercados". Dentro da sua filosofia de vida, Gil Kurtz considera imprescindível a presença de duas coisas: dedicação e crença, como palavras e sentimentos. Perguntado sobre o segredo do sucesso, o diretor da Upper entende que nunca é bom achar que se está fazendo sucesso, pois o que existem são bons momentos, num circuito interminável. "No livro Gerenciando como a Máfia há uma frase muito interessante que reflete bem esse tipo de coisa: o topo é um lugar onde poucos chegam e onde não se pode nunca sentar".

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