João Bosco Vaz: Homem público em dose dupla

Jornalismo, política e esporte, não necessariamente nesta ordem, estão no sangue de João Bosco Vaz, um inquieto profissional que se orgulha de exercer seu "espírito empreendedor".


Jornalista e político. Necessariamente nesta mesma ordem. Assim se define João Bosco Vaz, bageense de 50 anos, apresentador do Encontro com o Esporte, da TV Guaíba, vereador pelo PDT e atual Secretário Municipal de Esportes de Porto Alegre. Cheio de energia e disposição, o ritmo de vida de Bosco vai ao encontro de sua paixão pelo esporte. Concilia duas profissões e a vida pessoal com sucesso. A credibilidade e a boa oratória, conquistadas através da prática do jornalismo, são qualidades das quais ele se orgulha e faz uso na vida política. Mas avisa, enfático: "Sou jornalista, antes de qualquer coisa."


Formado em Jornalismo pela Universidade Católica de Pelotas no ano de 1979, começou sua carreira ainda estudante como correspondente esportivo da Central do Interior, pertencente à Caldas Júnior, em Pelotas. Após concluir a graduação, em 1979, veio para Porto Alegre e logo assumiu o comando da editoria de esportes, onde permaneceu de 1980 a 1982. Inquieto e sempre em busca de desafios, Bosco, em outubro de 1982, foi para RBS TV como repórter especial de esportes. Lá permaneceu oito anos e, em 1990, demitiu-se. "Ninguém entendeu, nem o Ranzolin, nem o Ruy Carlos Ostermann? Ninguém!", fala Bosco, tentando transmitir a preocupação dos colegas com sua decisão. Ele queria mudar, crescer, testar-se. Embora ainda não soubesse o que fazer, não lhe faltava determinação. Acabou comprando um espaço na TV Guaíba - no qual apresenta seu programa há 15 anos. "Saí da RBS TV em março de 1990 e em julho do mesmo ano eu já estava no ar, na Guaíba. Consegui patrocinadores, já era uma pessoa conhecida no meio. Por isso, tudo que eu sou devo à RBS", ressalta.


O esporte sempre acompanhou João Bosco Vaz em sua vida profissional. "Gosto muito do esporte amador, que hoje em dia é amador entre aspas porque só se pensa em dinheiro." O jornalista tem legitimidade para fazer tal afirmação. Ajudou grandes nomes desse meio, como Daiane dos Santos. "O primeiro patrocínio dela fui eu quem conseguiu. Ela foi no meu programa e precisava ir para um Panamericano no Canadá. Conseguimos o patrocínio da Cia das Pizzas e ela conquistou sua primeira medalha de ouro. Vi nascer o Assis, o Ronaldinho Gaúcho, grandes nomes?", orgulha-se.


Exceção à regra


A carreira política surgiu por acaso, de certa forma, impulsionada pelo jornalismo e pelo esporte. "Eu vim para Porto Alegre e conheci um cara chamado Ruy Carlos Osterman. Ele era meu ídolo. Era deputado e eu comecei a ajudá-lo na política. Ali fiquei entusiasmado e acabei concorrendo a vereador", explica. Em atividade desde 1988 pelo PDT, em 2002 concorreu a senador. "O PDT queria um candidato com o perfil do Zambiasi (PTB). Apesar de eu não ter chance, fiz uma boa votação na época. As pessoas votavam no jornalista João Bosco Vaz e não no político", relembra ele, que não pretende se candidatar ao cargo novamente. Neste ano, foi convidado pelo prefeito José Fogaça a assumir a Secretaria Municipal de Esportes, Recreação e Lazer, revelando-se um político pouco convencional: "Não me aprofundo muito na causa política, luto pelo segmento esportivo, pelas relações com os clubes, com as federações, com os atletas". O jornalista está à frente de uma Secretaria com 200 funcionários, que atende mais de 80 espaços na cidade como praças, parques, ginásios esportivos e piscinas públicas. "Quero fazer um trabalho voltado para a inclusão social", garante.


Como Secretário, Bosco acredita que ocupar o tempo dos jovens é a melhor forma de mantê-los longe da marginalidade. "Mas essa ocupação tem que ser bem planejada, a rua tem atrativos que a escola não tem", lamenta a realidade, porém sem perder o ânimo. Os projetos de sua Secretaria são muitos, entre os quais se destaca o "Bonde da cidadania", um ônibus cedido pela Carris que leva crianças para espaços esportivos, onde há professores, higiene e alimentação. Trata-se de uma parceria com a Fundação de Assistência Social e Comunitária ( FASC) e as Secretarias de Saúde, Educação, Cultura e de Juventude e Direitos Humanos. Uma grande novidade está reservada para o ano de 2006, quando a Secretaria de Esportes abrirá o carnaval de Porto Alegre estreando sua escola, a "Sociedade Esportiva Recreativa e de Lazer Esporte dá Samba". O tema do desfile será a própria Secretaria e seus projetos.


"Devia ter complicado menos, trabalhado menos, ter visto o sol se pôr"


O lado pessoal tinha tudo para ser tranqüilo, mas não é. "Gosto de ficar em casa, mas tenho muitos compromissos profissionais. Tenho até um pouco de sentimento de culpa por não ter participado tanto da infância e do crescimento dos meus filhos. Eu viajei muito a trabalho." Casado há 22 anos com Valdecí Vaz, analista de sistemas, é pai de dois filhos: Genaro, 21 anos, e Gabrielle, 18. "Ela estuda Jornalismo. Eu baixei um decreto lá em casa, disse que ninguém cursaria Jornalismo, mas ela quis. Isso está no sangue." Bosco jura ser Guarani de Bagé de coração ao revelar seu time de futebol preferido. Não assume ser nem gremista nem colorado. Mas deixa uma dica no ar: "Vocês viram que as cores do meu time, o Bagé, são vermelho e branco, as da minha escola de samba, a Imperadores, são vermelho e branco", diz, com ironia.


Quando sobra tempo livre, Bosco confessa que o que mais gosta de fazer é assistir à TV. "Sou maníaco pelo controle remoto. Mas tenho olhos de jornalista, critico tudo", completa ele com uma boa risada. Considera-se fiel aos amigos, a ponto de incorporar suas preocupações e anseios. Ele avalia ser essa a sua principal qualidade. "Eu chego a não dormir direito quando fico sabendo que algum amigo não está bem. Fico tentando achar uma maneira de ajudá-lo e isso me angustia". Inclusive, Bosco revela que concluiu, em meio a pensamentos do dia-a-dia, que a música Epitáfio, gravada pelos Titãs, resume a vida de todos na atualidade. Cantarolando partes da música, o jornalista admite que "ela traduz perfeitamente as nossas vidas neste mundo enlouquecido".


O futuro certamente ainda guarda realizações para Bosco, que sempre tem em mente projetos a serem concretizados, a longo ou curto prazo. Ele associa isso exclusivamente a seu "espírito empreendedor". Agora, por exemplo, seus esforços estão concentrados na criação de um Museu do Esporte, onde pretende expor raridades, como uma camisa do Pelé autografada, luvas de boxe de Popó e Éder Jofre, bolas usadas em jogos da seleção brasileira de futebol, entre outras cobiçadas peças de seu arquivo pessoal. O espaço para o memorial já existe. Foi cedido pelo Shopping Total, uma área de 300 metros quadrados. Lá, enquanto as peças não estão disponíveis para visitação, pode-se conhecer o "Passeio dos Campeões", paredes com mais de 80 pés de estrelas do esporte nacional em cimento. Falta ainda um patrocinador para o empreendimento. Mas, se depender da boa vontade e do entusiasmo de Bosco, logo este problema será solucionado.

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