Ilton Teitelbaum: Mangas arregaçadas

Prestes a completar 50 anos, o publicitário está sempre disposto a trabalhar mais e melhor

O híbrido publicitário Ilton Teitelbaum - Divulgação

Ilton Teitelbaum é de tudo um pouco, ou melhor, híbrido, como ele mesmo diz. Consultor, coordenador de um núcleo de pesquisa da PUC, empresário, gestor, mestre, professor e publicitário. Todas estas personas são resultado de quatro pessoas, que, de longe ou de perto, moldaram o caráter, a personalidade e os valores de quem foi escolhido para reformular o curso de Publicidade e Propaganda da Famecos. Enquanto o pai, Mario, e a mãe, Bela, o educaram, os músicos John Lennon e Renato Russo transformaram a vida e o pensamento de alguém que sempre carregou a música como parte importante da vida.

Ele, que confessa ser um legionário - expressão utilizada para quem é fã da Legião Urbana -, revela que o falecido vocalista da banda brasiliense, além de ser inspiração, é o filósofo da vida dele. Fora embalar a adolescência, Renato Russo escreveu um verso que o fez repensar as atitudes da época. Ao declamar "Você julga seus pais por tudo, isso é um absurdo. São crianças como você. O que você vai ser quando você crescer?", confessa que, quando o pai infartou, em 1989, percebeu que não o conhecia e só pensava na música 'Pais e Filhos'.

Com a sobrevivência de Mário, passou a se aproximar e redescobrir o então fiscal da Receita Federal, até o último dia de vida dele, em 2006. Além deste momento marcante, guarda na memória o último show da banda em Porto Alegre, realizado em 1994, além de possuir até hoje o ingresso.

Roqueiro em essência, adora o que foi criado nos anos 60 e 70, como, por exemplo, Eric Clapton, Rolling Stones e The Beatles. Da produção dos anos 80, gosta de Dire Straits, The Police e U2. No cenário brasileiro, além de Legião Urbana, também cita as bandas Capital Inicial, Titãs e Ultraje a Rigor. Apesar de não ter aptidão para os instrumentos musicais, brinca que é um exímio tocador de 'tape deck', nome dado para os antigos gravadores de fita-cassete. Além das trilhas sonoras que compõem a vida de Ilton, viagens e a descoberta de outras culturas são o que o move.  

Há tempos

Adora ir para o Uruguai e para a Argentina, pois lá pode caminhar pelas ruas sem se preocupar com a segurança pública. "Isto, para mim, é o símbolo da felicidade extrema", comenta. Nas cidades vizinhas, entra nas lojas e minimercados com o intuito de conversar com as pessoas que lá estão, principalmente, com quem está trabalhando atrás dos balcões. Ainda, defende as predileções porque fala espanhol.

Enquanto acredita que Buenos Aires é a segunda casa, pois tem família lá, maravilha-se em ir ao Uruguai porque, de acordo com ele, "o tempo lá parece que passa mais devagar".

O maior motivo, porém, que o faz sempre querer voltar lá tem nome e sobrenome: Cristiane Finger. Ele, que é casado há 11 anos com a jornalista, confessa que as terras castelhanas marcaram muito a relação dos dois. "Vamos muito para lá. Aliás, comecei a ir justamente porque ela me levava". Os comunicadores se conhecem de longa data, quando a esposa, então repórter da antiga TV Manchete, entrevistou o antigo calouro de Publicidade e Propaganda, que era membro de uma campanha contra o trote no campus da PUC.

Os caminhos se cruzaram mais uma vez quando foram contratados como professores da Famecos no mesmo dia, em 1° de agosto de 1995. Mas anos depois, em 2008, quando tiveram sido convocados para participar de uma sindicância na faculdade foi que os olhares se cruzaram de fato. Após aguardar o processo de separação do consultor, o casal começou a namorar. "Quando se tem 40 anos, tu meio que casa junto quando começa uma relação", brinca.

Perfeição

Caseiro nas folgas, costuma assistir futebol, mais precisamente, torcer pelo Internacional, também de escutar música, mexer na internet e correr, pelo menos, duas vezes por semana, além de fazer churrasco, comida favorita, aos domingos. Nas quintas-feiras, quando a esposa está dando aula, costuma passar 1h30 em silêncio para "descomprimir". Desde olhar bobagem na internet, como fofoca de celebridades, até alguma notícia boba de esportes, além de jogar buraco no celular e escutar rádio. Ou seja: esvaziar a cabeça.

Ouvinte assíduo de rádio, mais precisamente de programas esportivos, se tivesse mais tempo escutaria estações de outros lugares. Em relação aos esportes, assiste um pouco de tudo, como vôlei, futebol americano e futsal, modalidade que já praticou. A telinha também o prende quando está transmitindo alguma série com personagens fortes ou que o intriguem, além das que apresentam temáticas atuais.

Simpatizante do conceito "retro" revela: ainda acompanha 'Friends' - mesmo depois de ter acabado há 14 anos. 'CSI' maníaco, ainda gosta de 'Havaí 5:0', 'Castle' e 'La Casa de Papel'. Atualmente, quem o conquistou foi 'Merlin', devido ao fato do roteiro abordar as salas de aula. "Digo para os meus alunos que precisam assistir para entender o lado dos professores". Sobre a sétima arte, é enfático, ao defender tanto o filme que ama quanto o que odeia e estes são italianos. 'Cinema Paradiso', de Giuseppe Tornatore, o emocionou muito, contudo, "A Vida é Bela" o irrita profundamente, isto porque acredita que não se brinca com campo de concentração e mexe com sua tradição. Judeu, apesar de não ser praticante, identifica-se muito com a história e cultura do povo judaico.

Vento no litoral

Desde 1983, coleciona caixas de fósforo, quando ganhou a coleção do tio Pedro. Desde então, tem aumentado a herança. Da família, ainda carrega lembranças e aprendizagem. Porto-alegrente, nascido em 18 de setembro de 1968, às 00:45 de uma quarta-feira, o caçula tem dois irmãos, Marlize e Oscar Luiz.

Com uma infância marcada pelas idas ao estádio Beira-Rio, casa do Internacional, com o pai e o irmão, desde 1974, ainda destaca os verões em Capão da Canoa da juventude. Hoje, almoça todas as quintas-feiras com a mãe, que é exemplo na sala de aula, pois cita a frase emblemática da matriarca: "Já vivi duas semanas a mais do que tu, então, me escuta". A "musa" de Ilton, como a define, está sempre presente na vida do filho lhe dando conselhos e, quando não os ouve, algum tempo depois, percebe que "dona Bela tinha razão".

Quase sem querer

Após cursar dois anos de Engenharia Elétrica, o jovem Ilton percebeu que não era isso com o que desejava trabalhar. De uma graduação da área de exatas foi logo para uma de humanas, Publicidade e Propaganda. Em paralelo, cursava Administração, o que acabou abandonando ao longo da graduação na Famecos. Nesta época, estagiou na Martins & Andrade como redator, e em uma visita na rádio Gaúcha, por questões de trabalho da faculdade, conheceu e se aproximou do então gerente de Esportes do veículo, Flávio Dutra. Considerado pelo consultor como padrinho de mercado, o jornalista o ajudou a conquistar dois empregos: o primeiro na agência Upper; e o segundo, na Sogipa - feitos que fazem ser eternamente grato pelo auxílio.

Após perceber que não gostaria mais de ser redator, começou a fazer mestrado em Marketing na Ufrgs. Foi então que a pesquisa de mercado entrou na vida de quem acredita ter vocação para escrever, mas que encontrou em outra área uma oportunidade de trabalho. A decisão foi consolidada quando observou certo dia que as peças dos conjuntos de louças, as quais estavam à venda nas lojas, haviam diminuído. Após ir atrás de mais informações, soube que os integrantes das famílias brasileiras haviam diminuído.

Da época, lembra do momento mais marcante da carreira: a primeira vez que vendeu um projeto feito por ele. Ilton começou a chorar, pois pensou que o caminho estava começando a ser traçado. Posteriormente, soube de uma vaga para lecionar na PUC e decidiu que gostaria de dar aulas, apesar de ser extremamente tímido. Na época, algumas dificuldades apareceram, como lidar com o nervosismo -  ao passar todo o período de aula encostado no quadro negro, Ilton deixou uma marca de suor nele, apesar da temperatura naquele dia ter sido 3°C -, além de precisar aprender a falar mais alto e colocar a voz. Em 2012, quando foi paraninfo pela primeira vez de turma, recebeu o convite por meio de uma carta com anotações de expressões dele. Coincidentemente, quando era garoto, realizava o mesmo nos tempos do colégio e, inclusive, escrevia as frases dos outros para um jornal que montou e possui até hoje. Atualmente, além de lecionar na instituição de ensino, é coordenador do Laboratório de Pesquisa da PUC. Ainda, é proprietário há duas décadas da empresa de consultoria Comtexto.

Multifacetado, com tantas tarefas e obrigações, são raras as horas de sono, entre quatro e seis horas por noite. Contudo, isto não é empecilho para quem alega estar sempre pronto para tudo e se define como "um cara de mangas arregaçadas". Sobre o trabalho, aliás, é enfático: "Sempre gostei de entender como as pessoas estavam vivendo no mundo. Hoje, se fala muito de empatia, mas eu sempre me coloquei no lugar dos outros, além de gostar de observar como se comportam". 

Eu sei

Medroso, admite que jamais pularia de paraquedas ou surfaria ondas gigantes, mas que sonha em conseguir viajar mais e conhecer o Japão e qualquer país da Oceania. Realizado com a vida que possui, acredita que vive bem, está bem casado, trabalha com o que gosta e é bom no que faz, ao seu ver. Nos planos futuros, consta envelhecer bem, além de continuar sendo produtivo e relevante.

Como desafio, deseja aprender a rir mais de si, pois é muito exigente e, como diz, loucamente autocrítico. "Como quero continuar sendo feliz, tento errar o menos possível", comenta. Ele, que avalia como maiores qualidades o raciocínio rápido e a perspicácia - algo aprendido com o pai -, aplica ao longo do caminho o lema: só tenho uma vida e uma cabeça, e tenho que fazer as duas irem na mesma direção.

 

 

 

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