Isara Marques: Intimidade com os bastidores

Jornalista há mais de 35 anos, Isara Marques revela que iniciou na profissão em busca do sonho de viajar o mundo

Isara Marques | Divulgação
Por Márcia Farias
Antes de voltar no tempo e recordar a trajetória profissional, Isara Marques confessa que negou o convite para esta entrevista por muitas vezes por ser reservada e achar que jornalista deve entrevistar - e não o contrário. Mulher de poucas e objetivas palavras, ela pensa bem quando há uma pergunta e mostra-se extremamente articulada nas respostas. A descrição pode levar a uma pessoa séria, mas, ao contrário, Isara tem riso fácil e, serena, não se esquiva de nenhum aspecto da conversa.
A jornalista garante que vive o momento mais tranquilo da carreira. "Depois de carregar tantas pedras, me dei alguns luxos. Hoje, sou uma pessoa muito mais calma", conta, revelando que, nesta fase, criou o hábito de desligar o celular antes de dormir - algo impraticável quando trabalhava para órgãos públicos ou quando era repórter.
Durante toda a faculdade, Isara praticou uma arte da qual leva algumas heranças até hoje. O grupo de teatro montado com cerca de sete colegas universitários confirmou a personalidade reservada e tímida: ela gostava mesmo era de trabalhar nos bastidores. Atuar? Nem pensar. A função da então estudante era a parte técnica e artística das apresentações, que foram realizadas em boa parte do Estado. "Apesar de saber todo o texto de todos os atores, gostava de fazer som, luz e fotografia", conta.
Repórter? Não!
Sandra Passarinho, da Rede Globo, foi a inspiração para que Isara decidisse a profissão a seguir. Encantada com as matérias produzidas pela repórter, que viajava pelo mundo todo, ela uniu a admiração com a grande vontade de conhecer diversos lugares. "Achava que sendo jornalista ia viajar muito. A atividade parecia muito glamurosa", recorda. O desejo foi realizado. Talvez não como imaginou, mas, de fato, conseguiu visitar diversas regiões dentro e fora do Brasil. "Viajei muito a trabalho e, depois, ainda consegui fazer o mesmo a lazer, mas todos os passeios foram feitos por causa do Jornalismo - ou como assessora da imprensa , financeiramente, a profissão me proporcionou esta possibilidade."
Formada em 1975 pela Famecos, Isara entende que entrou no mercado em "uma época muito boa". "As possibilidades eram muitas e ótimas, por mais que nós, jovens, achássemos o contrário. Tinha muita oportunidade disponível." A dela foi no jornal Hoje - publicação vespertina do Grupo RBS que durou apenas nove meses. A redação foi fechada de repente e, desempregada da noite para o dia, a jornalista procurou outros ares. Foi parar no Jornal da Manhã, em Ijuí, uma experiência considerada muito boa por ter proporcionado o desempenho profissional em todas as áreas de um veículo. "No interior, a gente entrevista, escreve, fotografa, edita e diagrama. Isto dá muita experiência", conclui.
O retorno para Porto Alegre ocorreu um ano depois, quando foi direto para Zero Hora. A vontade maior era de atuar com Política, opção deixada de lado porque a editoria exigia dedicação exclusiva, algo que não poderia dar, pois já era mãe de duas filhas, Luzia e Laura, que teve com o ex-marido Ênio Lindenbaum. Os 11 anos no veículo do Grupo RBS foram aplicados na Geral e no Segundo Caderno. A trajetória em jornalismo impresso chegou ao fim por um simples motivo: "Descobri que não gostava de ser repórter. Não era feliz", resume.
Enfim, a Política
Sorte. Foi assim que Isara acredita ter chegado ao que gostava. Sabendo que ela estava disponível no mercado, Carlos Sávio, ex-colega de ZH, que coordenou a Comunicação do Governo Estadual por alguns meses no início da gestão de Pedro Simon (1987 - 1990), confiou à amiga o cargo de coordenadora de Jornalismo. Além da chance de, finalmente, atuar com Política, era a chance que precisava para descobrir outra faceta pessoal: a coordenação e gestão de pessoas.
Depois de Simon, ainda vieram os governos de Antonio Britto (1995 - 1999) e Yeda Crusius (2007 - 2011), além da gestão de José Fogaça na Prefeitura de Porto Alegre (2005 - 2010). Sem contar as diversas campanhas eleitorais e o trabalho com alguns deputados federais. "É uma experiência ampla, pois se lida com todas as editorias. Por mais que economia seja o setor de maior demanda, ainda se tem contato com cultura e polícia, entre outros", analisa. Outro aspecto lembrado pela jornalista é a tensão e sobrecarga que tinha nesta época. Com o tempo, conta que desenvolveu um sistema de acordar alerta. Dormia com um bloco e uma caneta ao lado da cama, pois, a qualquer momento, poderia receber uma ligação. Aliás, estes eram tempos em que o celular não era desligado nunca.
Atua hoje em assessoria de imprensa e consultoria de comunicação, trabalho que considera muito diferente do que já viveu e por isso confessa que está em um momento muito mais tranquilo na carreira. "Atuar assim está me dando a chance de diversificar mais as áreas de atuação e de uma forma mais serena. Por mais demanda que minha atividade peça hoje, não sou mais acordada às 5 da manhã por causa de uma rebelião em algum lugar", brinca, em referência aos tempos de assessora política.
Amadurecimento profissional
Quando Isara se formou, acreditava que obrigatoriamente deveria ser repórter e demorou para mudar de ideia. Depois de reconhecer que não queria mais trabalhar com jornalismo impresso, ingressar em assessoria de imprensa e ter até uma rápida experiência como diretora da TVE, na época do governo Simon, ela entendeu que sua profissão poderia ser mais ampla do que imaginava. "Hoje, posso dizer que o que mais gosto é a parte de planejamento estratégico, gerenciamento de crise e relacionamento", garante.
Alerta para o fato de que o mercado se fecha para algumas áreas enquanto se abre para outras, a jornalista entende isso como um movimento natural e até interessante: "Sempre teremos novidades e todos terão espaço de acordo com seu perfil". Garante que sempre gostou do que faz (exceto quando era repórter?) e isso a ajudou a tornar-se uma profissional realizada. Por outro lado, é enfática: "Não tenho a mínima intenção de parar de trabalhar. Ainda vibro muito com as conquistas e me sinto entusiasmada com o que faço".
Após tanta experiência, Isara permite-se alguns luxos, como o de trabalhar pela manhã em casa. Gosta de levantar tranquila, tomar café e ler os jornais com calma. Ou seja, fazer o que nunca conseguia antes. "Não ter nada para fazer em um dia não me angustia mais. Vou para a piscina, ao cinema, vou ler um livro. Acho que o amadurecimento traz mais tranquilidade", diz, em tom de comemoração.
Nos bastidores da vida
Próxima de completar seis décadas de vida, não gosta, no entanto, de revelar a idade, e limita-se a informar que faz aniversário em 4 de setembro. Filha do comerciante Ervandil e da funcionária pública Alba, Isara considera sua inquietação uma herança do pai, que mantinha negócios em diversos segmentos. Irmã mais velha da psicopedagoga Inara e do músico Sílvio, recorda de uma infância divertida: "Sempre fui muito moleca". Na casa onde morava, no bairro Floresta, lembra de estar sempre em cima de árvores ou até mesmo do telhado. Não sabe no que pensava, mas sabe que passava o dia todo nestes locais.
A filha Luzia, de 33 anos, é jornalista, enquanto Laura, 28, é advogada, e com elas a mãe-coruja tem uma relação muito boa, a ponto de afirmar que está vivendo "um novo momento familiar". A filha mais velha, que casou-se cedo, voltou a morar com Isara, e a convivência das três tem proporcionado momentos de muita diversão. Apesar disso, ela tem uma certeza: "É por pouco tempo, pois sei que em seguida seguirão o caminho delas", diz, para em seguida garantir que lida muito bem com isso, pois até gosta da solidão. O fato de ter uma filha com a mesma profissão é, hoje, motivo de orgulho. "No início, eu não queria que ela seguisse meus passos, pois acho uma responsabilidade enorme. Por outro lado, percebi que deixei algo de bom. Significa que passei coisas boas do Jornalismo e do quanto sempre gostei dele."
Os dias de folga são preenchidos com muita leitura e filmes. Não tem preferência por gênero, mas não gosta de comédias românticas, por exemplo. Além disso, Isara tem outra paixão, passar alguns finais de semana ao lado do "neto", Theo, de cinco anos, que na verdade é sobrinho. Também há o gosto por viagens e a companhia das filhas (juntas ou separadas) é sempre uma excelente opção de passeio, para qualquer lugar, aliás. São Francisco com a presença de Luzia foi tão especial quanto Amsterdan, com Laura. O próximo destino? Cuba, uma vontade das três.
Sobre ela mesma, reconhece ser ansiosa e, por mais que a adrenalina profissional tenha baixado, a característica ainda é considerada um defeito. Já a qualidade, não precisa pensar muito para destacar alguma. É enfática: "Sou leal. Se tenho uma parceria, não há dinheiro que me compre".
 

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