Márcia Martins: Jornalista, poeta e coruja

Independentemente da atividade, ela procura dar sempre o melhor de si

11/04/2008 00:00
Márcia Martins: Jornalista, poeta e coruja /Reprodução/Arquivo pessoal

Alegria, disposição, otimismo e emoção são pré-requisitos básicos ao dia-a-dia da jornalista Márcia Martins. A profissional tem passagens pelas redações do Jornal do Comércio, Zero Hora e Correio do Povo, e pela assessoria de comunicação da Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Atualmente, afastada do Correio do Povo por motivos de saúde, ela faz alguns trabalhos freelas e é colunista de Coletiva.net. Nas horas vagas, a porto-alegrense ainda é mãe e poeta, além de dedicar parte de seu tempo à categoria, junto ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul, entidade da qual é diretora.

Graças à licença médica, a jornalista fica bastante em casa, acessando a Internet. "Estou sempre no computador escrevendo, lendo, poetando? Rendo mais à noite, por isso, muitas vezes, fico até as 4h no computador, produzindo", conta Márcia. Sua rotina é completamente dividida com a filha Gabriela, de 13 anos. "Sou carinhosa e ligada demais à família. A vida da gente muda 100% com a maternidade. O nascimento da minha filha foi o momento mais importante e inesquecível de minha vida", exclama. Por isso, aos 47 anos, sua atividade principal é, além do jornalismo, ser mãe. E mãe-coruja, daquelas que têm orgulho da "cria" e faz de tudo por ela. Tanto que sua vida é dividida em duas épocas: A.G. e D.G., antes e depois de Gabriela. "Porque quando se é mãe, a gente sabe que precisa se empenhar em construir algo", explica Márcia.

Preferências

A jornalista define-se como um ser totalmente urbano. Nascida em 9 de junho de 1960 na capital gaúcha, Márcia Fernanda Peçanha Martins sempre morou no Bom Fim. Ela é formada em 1982 pela Faculdade de Comunicação Social (Famecos) da PUC. Márcia privilegia escutar música, ir ao shopping, ao cinema e à livraria. Em matéria de música, gosta de MPB, Elis Regina, Chico Buarque, Caetano Veloso, Maria Rita, Cazuza, Barão Vermelho, Jota Quest, Legião Urbana, Cássia Eller, Raul Seixas e Ana Carolina, entre outros. Para não deixar de acompanhar a filha, também escuta Armandinho e NXZero. Aprecia livros de autores como Caco Barcellos, Caio Fernando Abreu, Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade e Josué Guimarães, entre muitos outros. Também gosta de ler biografias, principalmente quando é Ruy Castro e tudo sobre Che Guevara. No momento, está lendo o livro "História Sexual da MPB", de Rodrigo Faour. Não perde um episódio do ER (Plantão Médico), na TV a cabo. Também faz coleção de LPs e adora porta-retratos.

Ela diz que não consegue ficar muito tempo parada, sem fazer nada, e ainda dedica o seu tempo livre para escrever artigos e poesias. No Orkut, site de relacionamentos na Internet, Márcia participa de uma comunidade chamada "Poemas à flor da pele". O grupo existe há dois anos no plano virtual e já está lançando o segundo e-book ? livro virtual ?, com poemas de autoria dos participantes. A jornalista também participa de encontros semanais do grupo "Saudosa maloca", formado por colegas de formatura que, após 20 anos, resolveram reunir-se periodicamente. Juntos, além de discutir sobre pautas pertinentes, eles fazem muitas brincadeiras, como jogos e mímicas. Outro lazer é ir a barzinhos assistir aos jogos do Grêmio e participar de rodas de poesia.

Supersticiosa, acredita em duendes e anjos, além de colecionar incensos e bruxinhas esotéricas. Márcia se considera superinstável e imprevisível. Segundo ela, isto é típico de uma geminiana, com ascendente em gêmeos, lua, planeta e tudo o mais em gêmeos. Para manter tanto alto-astral, é sempre ela mesma e dá o melhor de si em tudo que faz, seja nas tarefas de jornalista, seja como poeta ou mãe. "Faço mil coisas ao mesmo, tudo junto", conta. Caráter, respeito e compromisso com a verdade são valores dos quais a profissional não abre mão e procura passar para Gabriela. "Sou feliz e de bem com a vida, pois curto ao máximo todos os momentos", afirma a jornalista. O projeto para o futuro é lançar um livro que reúna suas crônicas ou poesias. Ao mesmo tempo, alimenta o sonho de viver bastante para poder ver a filha crescer, se formar e conquistar estabilidade na vida.

Maternidade X amizade

Não só como mãe e filha, Márcia e Gabriela são amigas e companheiras inseparáveis. Até o ano passado, elas moravam com a mãe da jornalista. De lá para cá, resolveram dar mais espaço à avó de Gabriela que, segundo Márcia, está "adolescendo". Na nova casa, habita também o Dalai, um cãozinho da raça shi-tsu, ainda filhote.

Segundo Márcia, Gabriela vem mostrando todas as características necessárias para ser uma futura profissional da área. Filha de jornalistas - seu pai é Humberto Trezzi, de Zero Hora -, desde pequena a leitura sempre foi incentivada.  Por conta disto, a pré-adolescente gosta muito de ler e tem facilidade para escrever. "Embora ainda seja bastante cedo, ela tem todo o perfil", acredita a mãe.

Muito apegada à filha, Márcia, de certa forma, reflete apreensivamente sobre a inevitável independência de seu bem mais precioso. "Um dia ela vai começar a namorar e querer sair? Mas isto é uma preocupação normal de mãe, de pensar que quando ela disse a primeira palavra, eu não estava junto, então a gente fica tentando acompanhar cada momento. E eu sou uma mãe muito chata no sentido de estar sempre em cima e exigir muito dela", reconhece.

"Eu tenho mil defeitos, mas uma coisa muito legal que temos, e eu espero que continue, é uma superamizade e muita confiança", conta a jornalista. Só de falar em Gabriela, Márcia volta e meia se emociona. A supermãe conta que a sintonia com a filhota é tão evidente que elas se conhecem pelo olhar. A estratégia para resolver os eventuais conflitos é sentar e conversar. A mãe-coruja garante aprender muitas coisas com a filha.

Repórter de veículo impresso

Enquanto estudava, não trabalhou na área, mas como já tinha facilidade para escrever, fazia trabalhos universitários para os colegas. Em 1983, logo depois de formada, ingressou no Jornal do Comércio como repórter. Atuou no veículo durante três anos, até que em 1986 surgiu uma vaga em Zero Hora apenas para cobrir a licença-maternidade de uma jornalista. Mesmo assim, Márcia resolveu apostar na oportunidade. Começou como repórter de Economia, cobrindo as áreas de comércio e exportações.

Nesta época, uma reportagem de Márcia venceu o Prêmio Badesul de Jornalismo. Sobre a passagem por Zero Hora, a profissional também registra a viagem que fez, em 1991, a Taiwan, onde representou o veiculo em uma missão de jornalistas brasileiros para conhecer instituições econômicas do país. "Foi uma experiência muito legal e importante para a minha trajetória", destaca Márcia.

Em 1994, nasceu Gabriela. "Quando eu engravidei, sabia que seria complicado conciliar as funções de mãe e jornalista, pois ambas exigem muita disponibilidade", reconhece Márcia. Muito em função dos cuidados e atenção exigidos pela pequena, a experiência em Zero Hora estendeu-se até 1997, Então a profissional começou a fazer trabalhos de free-lancer. "Eu tinha um pique legal, recebia muitas pautas, então dava pra ir levando", lembra Márcia.

Profissão: jornalista e mãe

Assim, pôde ficar mais por casa, curtindo a filha. "Pois eu pensei que se a gente planeja ter um filho, o mínimo que eu vou querer é estar ao lado e acompanhar todos os passos", justifica a mãe-coruja. Em 1999, foi convidada a trabalhar na Assessoria de Comunicação da Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Lá Márcia passou por várias Secretarias, desvinculando-se da área que até então tinha seu trabalho focado em função das oportunidades anteriores. "Para trabalhar em assessoria, o jornalista tem que ter trabalhado em veículo, para conhecer bem o pique das redações e entender a necessidade do assessor", considera a profissional, que avalia o período de experiência como muito rico.

"Eu gostava de fazer assessoria de imprensa e acho que eu me enquadrei, pois tinha um bom relacionamento com todos e acreditava muito no trabalho que estava fazendo. Então, isto foi muito gratificante", pensa Márcia, reconhecendo as possibilidades oferecidas pelo desafio, como desfrutar de feriados e finais de semana para o lazer. Em 2005, com a troca de governo, a profissional foi desligada do cargo.

Logo em seguida, foi trabalhar na editoria de Geral do Correio do Povo a convite de Eugênio Bortolon, editor de Economia. "Eu fui pega de surpresa, pois estava longe da redação há muito tempo e pensava que já não tinha mais "aquele pique"? Isso foi muito importante pra mim, saber que tu podes passar um tempo longe, mas se fores um profissional competente, sempre vai poder voltar", acredita Márcia. Entre os fatos marcantes que presenciou, está a cobertura de um motim do Presídio Central de Porto Alegre.

A escolha da profissão foi, certamente, influenciada pelo pai. "Quando eu tinha uns 12 anos, ele fazia muitos encontros lá em casa e levava os jornalistas pra lá. Eles ficavam contando casos, e eu ficava muito encantada com aquilo, achava uma coisa fabulosa. Então aquilo foi me envolvendo", conta a jornalista, que sempre que podia ficava acompanhando as conversas. Um reconhecimento foi recebido na escola, com um trabalho sobre menor abandonado feito através de entrevistas na Febem, atual Fase, que levou prêmio de primeiro lugar no Estado, e reforçou a convicção de deveria optar pelo jornalismo.

Atividade sindical

Desde que ingressou na faculdade, em 1979, período em que se iniciavam os primeiros movimentos que levariam ao fim da ditadura militar, Márcia sempre participou de ações de protestos como as passeatas pelas diretas. "Ao entrar para a profissão, procurava, nas entrelinhas, fazer algum tipo de mobilização para conscientizar os colegas da importância do sindicato", lembra a jornalista, que nunca deixou de se fazer presente em congressos que reúnem os profissionais da categoria.

Em 2007, passou a integrar a diretoria do Sindicato de Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul. Segundo Márcia, o convite partiu de seu grande amigo, companheiro e camarada, o jornalista Jorge Correa. "É uma forma de colocar sangue novo, não exatamente de idade, na diretoria, porque sinto que a categoria precisa constantemente ser cutucada, chamada e convidada a comparecer? temos muitas lutas a serem travadas. A principal, no momento, é o reconhecimento do diploma, e o sindicato está muito atuante neste sentido", acredita.