José Luiz Monteiro Fuscaldo: Um otimista incorrigível

Executivo fala de sua paixão por coordenar campanhas políticas e revela-se um colecionador

José Luiz Monteiro Fuscaldo - Reprodução

Por Vanessa Bueno

Ele coleciona copinhos de vidro, miniaturas de fuscas, fotos 3×4 dos familiares, quadros, carros antigos, receitas, bons amigos, boas histórias?. José Luiz Monteiro Fuscaldo, sócio-diretor da Coletiva Editora, ColetivaEAC e da Pública Comunicação, é um sujeito simples, como se define antes mesmo de começar a entrevista. Depois de duas horas de conversa, o que fica é a imagem de um homem brincalhão e extremamente determinado.

Formado em Publicidade e Jornalismo pela Famecos, desde cedo teve indícios de que era em Comunicação que deveria atuar. Filho do jornalista Carlos Attila Fuscaldo, aos 12 anos produziu sua primeira reportagem. "Meu pai marcou uma entrevista para eu fazer com um cara do Sindicato da Construção Civil. Cheguei lá e descobri que ele colecionava orquídeas. Fiz a matéria toda em cima disso", conta. Mas nem tudo saiu como planejado. A sorte principiante não ajudou Fuscaldo e nem o gravador e nem a máquina fotográfica funcionaram. "Fiquei apavorado, com medo de não conseguir anotar tudo, mas o entrevistado teve paciência comigo." Como bom colecionador que é, Fuscaldo guarda a matéria até hoje.

A rotina do Jornalismo era muito presente na sua vida e dos três irmãos, que costumavam acompanhar o pai aos sábados na redação do Jornal do Comércio. "Eu adorava ver a linotipo trabalhando", lembra. Mesmo assim, ele optou pela Publicidade na hora de decidir o que cursar. Contrariando sua decisão, porém, a primeira oportunidade profissional foi na área de Assessoria de Imprensa. Fuscaldo estagiou na Geipot, Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes, em 1982. Encarregado de fazer a clipagem, gostou e dedicou-se tanto à tarefa que ganhou um espaço próprio na biblioteca do local para catalogar seus arquivos.

No final de 1984, foi convidado pelo jornalista Noé Cardoso para desenvolver um planejamento de Comunicação para o Trensurb, que estava por inaugurar a linha de trem em Porto Alegre e na Região Metropolitana. Com o projeto aprovado, foi trabalhar na entidade, sob a coordenação do jornalista Adão Oliveira, que, mais tarde, se tornaria seu grande amigo. No ano seguinte, com a ida de Adão para Brasília, Fuscaldo assumiu a coordenação de Comunicação do Trensurb.

Lá, teria o que chamou de sua primeira grande experiência profissional, em dois períodos: o primeiro na década de 1980 e o segundo nos anos 1990. Antes de atuar no Governo do Estado, sua segunda grande experiência, teria ainda passagem pela Radiobrás em Brasília e pela Secretaria Especial de Ação Comunitária (Seac). Nessa época, já estava formado em Publicidade e Jornalismo e em dúvida se deveria trabalhar em Redação, como seu pai. "Com o tempo, descobri que a assessoria de imprensa é uma atividade completa e que te possibilita desenvolver diversas atividades do Jornalismo." Os conhecimentos em Publicidade seriam colocados em prática anos à frente, quando assumiu o cargo de Diretor de Publicidade e Relações Públicas do Governo do Estado, em 1995.

Boas histórias

De boa memória, Fuscaldo relembra os tempos de colégio e como optou pelo Técnico em Publicidade, do colégio Dom João Becker, e depois pela graduação na área. "Achava que ganharia mais dinheiro fazendo propaganda", confessa. Como a família vivia em condições modestas - o pai era jornalista e a mãe, Tirzá Bernardette, era professora -, os filhos estudaram em colégios públicos e dividiam as mesmas roupas. O fato, porém, não incomodava Fuscaldo, que nem se dava conta da situação. "Minha mãe nunca transpareceu as dificuldades para nós. Eu adorava comer farofa com ovo, achava que era o dia da comida especial em casa", diz, recordando os momentos de poucos recursos de sua infância.

E histórias para contar é o que não faltam. Com muito bom humor, ele vai citando as situações de saia-justa pelas quais passou. Como a vez em que viajou para um congresso de estudantes onde passaria cinco dias e perdeu a mala de roupas, deixando o armário dos irmãos desfalcado. A questão das roupas, segundo ele, nunca interferiu na relação com os irmãos. "Nem o fato de termos só uma bicicleta", acrescenta. Parceiros, tinham na sua casa o ponto de encontro da turma. "Nossos pais nos criaram muito livres", diz. Participativo, o pai de Fuscaldo costumava acompanhar os meninos no futebol. "Eu jogava no gol e meu pai sempre ficava atrás da goleira me enchendo o saco. Brincadeira! Ele me dava força."

Bons amigos

Hoje, dedica-se a criar os filhos Gabriel, 21, e Fernanda,19, com a mesma liberdade. "O Fuscaldo pai junto com a Denise mãe sempre tiveram uma postura de muito respeito com os filhos", comenta. Casado com a farmacêutica Denise Milão, ele a conheceu através do irmão dela, o César, seu melhor amigo desde os tempos de colégio. A atração pela eleita começou numa festa em que os dois dançaram juntos a noite toda. Quando decidiram namorar, Fuscaldo consultou o amigo, que avisou que estava de acordo. "Para mim, foi difícil elaborar essa questão. Não queria abalar a minha amizade com ele", diz, ressaltando o valor e o respeito que tem por suas relações.

Aliás, respeito é uma palavra citada muitas vezes durante a entrevista, quando o assunto é a sociedade com José Antonio Vieira da Cunha e André Arnt, por exemplo. "Minha parceria com o Vieira sempre foi muito tranquila, e também era assim com o LF (Luiz Fernando Moraes, que iniciou a Coletiva ao lado de Vieira e Fuscaldo)". Conforme conta, o início dos negócios não foi nada fácil. "Deixar de ser apenas comunicador para ser também empresário é muito complexo", reconhece. Mas o orgulho transparece quando o assunto é a trajetória bem-sucedida do portal Coletiva.net, assim como as ações da Pública Comunicação, de cuja história ele se diz muito feliz de fazer parte.

A Pública nasceu há cerca de oito anos, quando os sócios decidiram ampliar os negócios para a área de publicidade também. "Buscamos atuar com gestão de marca institucional. Ainda temos muito para crescer, mas penso que estamos no caminho certo", diz. Estrategista, admite que o que mais lhe dá prazer é pensar soluções para os clientes. "Eu sento com o cara e, conforme ele vai falando, eu traço o cenário e as possibilidades para divulgação e promoção da marca dele."

Foi mais ou menos assim que ele teve a ideia de fundar, em parceria com André Arnt, a ColetivaEAC. "Um dia, sentamos para conversar e percebi que tínhamos uma oportunidade na mão. Eu e o Vieira entramos com a marca Coletiva e o André com o seu conhecimento como professor e consultor de marketing e comunicação." Com André, assegura Fuscaldo, também há uma relação "muito harmônica".

No Governo

Outra atividade a que Fuscaldo se dedica muito e sempre com entusiasmo são as campanhas políticas. Só neste ano coordenou a de 12 candidatos ao Parlamento e de um ao governo do Estado. Ao longo de sua trajetória, acumula cerca de 60. "Fazer campanha é um aprendizado constante", diz, estabelecendo uma analogia entre uma campanha eleitoral e uma novela: "É preciso perceber o que pegou e seguir pelo que está dando certo, além de abandonar personagens que não decolaram", compara. A primeira campanha foi em 1990, quando ajudou a eleger Nelson Proença deputado federal. Mais tarde, participou da campanha do candidato a governador Antonio Britto, sendo convidado, em 1995, para atuar como assessor de imprensa da Casa Civil.

Foi nessa época que, após fazer um balanço sobre sua carreira, decidiu focar no relacionamento com o meio. O esforço e o empenho lhe renderam os convites para ser diretor de Publicidade e Relações Públicas do governo Britto e, posteriormente, assumir como presidente do Comitê de Comunicação Social. Foi nessa época que estreitou relações com Vieira, então presidente da TVE, e Luiz Fernando Moraes, então chefe de imprensa do Governo. Ao fim do mandato, os três partiram para a parceria que deu origem à Coletiva Comunicação. "Criamos o Guia da Imprensa e Comunicação, que depois virou o Coletiva.net", explica.

Tomatinho sem noção

Apesar de muito agradecido pelas oportunidades que teve no Governo do Estado, Fuscaldo destaca que foi nesse período que percebeu que precisava encarar a vida com menos seriedade. Foi assim que, mesmo com a rotina intensa e puxada, decidiu dedicar-se às coleções, seja de miniaturas, seja de carros de verdade. Comprou um Fusca 1966 e, mais recentemente, um Karmann Ghia, modelo 1968. Intensificou suas idas ao estádio Olímpico, para torcer, ao lado do filho, pelo time do coração, o Grêmio. Também matriculou-se, há dois anos, no curso de Gastronomia com o Chef Felipe Remondeau. Perguntado sobre sua especialidade, ele diz que faz de tudo. Uma receita que prefere é o 'Espaguette com tomatinho sem noção', preparado pela primeira vez em Roma. Passava férias na Europa com a família e decidiu experimentar uma nova receita com tomates-cereja da região. Ao provar o prato, a filha Fernanda disparou: "Esse tomatinho é sem noção". Estava batizada a criação.

As viagens com o clã para o exterior são anuais, uma meta estabelecida por ele para manter outra de suas paixões. "Quando a grana tá curta, eu vou mais pertinho, mas não deixo de ir. Volto sempre revigorado", afirma. Entre as idas e vindas, destaca a viagem feita pelo interior da Itália como uma das mais especiais. A família viajou de Fuscaldo a Milão para conhecer as cidades que dão origem a seus sobrenomes. O próximo roteiro deve ser a Patagônia, entre o Chile e a Argentina.

Curtir a família e ver os filhos se desenvolvendo profissionalmente integram os planos de Fuscaldo para os próximos anos. Gabriel e Fernanda, seguindo o caminho do pai, cursam Publicidade e Propaganda. Os dois também trabalham na Pública, o que, segundo ele, aumenta sua responsabilidade enquanto gestor. "Preciso dar bons exemplos", diz, ressaltando que os dois influenciam muito em suas escolhas, como a decisão de parar de fumar. "Como eu respeito muito a opinião dos meus filhos, fiz isso por eles."

A relação com Denise também é de muito respeito e parceria. "Descobri uma superesposa, mãe e profissional. Estamos juntos há 25 anos e eu só saio de casa se ela me empurrar para fora", brinca. Otimista, Fuscaldo sempre procura ver o lado bom das coisas. Está sempre planejando um jeito de melhorar o que não está bom. Com dificuldades para se adaptar a rotinas, se esforça para ser assíduo na academia e passar fio dental todos os dias.

Na vida profissional, não é diferente. "Depois que eu coloco um projeto em prática, já começo a pensar em outro", conta. Admite já ter tido medo de morrer, pois, quando os filhos nasceram, pensava: "Como vai ser se eu deixar esses caras?". Hoje, garante que isso é coisa do passado: "Sou um cara que gosta muito de viver. Essa é a verdade".

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