Lúcia Mattos: Razão para tudo

Com mais duas décadas de profissão, Lúcia Mattos se mostra feliz por unir jornalismo e cultura

Lúcia Mattos | Crédito: Antares Martins
Para toda ação, há sempre uma reação. A frase pode até remeter a uma lei da Física, mas se alinha perfeitamente ao lema que norteia os passos da jornalista Lúcia Mattos. Com 44 anos, a apresentadora e editora na BandNews FM e na Band TV recusa a ideia de acaso e defende que cada decisão tomada traz suas consequências. Consciente da capacidade de fazer o próprio caminho, traçou uma trajetória de mais de duas décadas no Jornalismo, em grande parte voltada à área cultural.
Antes de escolher pela profissão, pensou em fazer Medicina, mas a atração pelo cinema a fez optar pelo Jornalismo, curso mais próximo da área na época. Durante a graduação na Famecos, teve aulas com os cineastas Carlos Gerbase e Aníbal Damasceno, trabalhou com assessoria de imprensa e descobriu a paixão pelo rádio. A primeira oportunidade profissional em veículo, no entanto, aconteceu após a formatura, em um estágio como repórter na RTP Açores, televisão pública nos Açores, em Portugal, onde, acompanhando a família, viveu por seis meses. "Foi uma experiência incrível e aprendi muito. Apesar de ser uma TV pequena, ela era ligada à maior TV de Portugal, que era uma emissora pública e me deu uma visão bem diferente."
Na volta ao País, passou pelo Correio do Povo, antes de voltar à TV pela RBS, que estava implementando a previsão do tempo com mapas. Na emissora, a intenção era começar na produção e depois ir para a edição, mas a mudança de posto veio junto com a ida para a Bandeirantes, cujo departamento de Jornalismo ainda estava sendo estruturado por Bira Valdez. Lá, foi realizar o desejo de ser editora e também se descobrir apresentadora. A poucos dias da estreia, Bira Valdez propôs que Lúcia apresentasse o telejornal ao seu lado, surpreendendo a jornalista, que, até então, não havia comandado programas ao vivo.
Dois anos depois, em 1995, entrou para o rádio também, como apresentadora na antiga Bandeirantes FM, comandando programa voltado a cultura e entretenimento, segmento que hoje define como sua paixão. Um convite de Geraldo Canali, que assumiu a direção da TVE, a levou para a emissora pública. Nos anos que se seguiram, além de comandar programas na TV, passou a apresentar o Estação Cultura, na FM Cultura, e o desempenho alcançado no rádio logo colocou a atração também na telinha. "Ali, o mundo se abriu para mim nessa perspectiva de trabalhar com jornalismo cultural", avalia.
O retorno ao Grupo Bandeirantes aconteceu há cerca de uma década, quando do lançamento da BandNews FM Porto Alegre. Lúcia foi uma das vozes que integrou a equipe pioneira da emissora e, por um tempo, dividiu-se entre o trabalho na rádio e na TVE, até voltar à edição do telejornal da Band. Em 2008, assumiu também a apresentação do Band Cidade, que hoje conduz ao lado de Sergio Stock. Hoje, ainda comanda o BandNews 2ª Edição, o BandNews Edição de Sábado, ImóvelClass TV e participa no rádio como colunista de Cultura.
Muito mais que Jornalismo
Da trajetória, a vivência em televisão nos Açores é citada como uma experiência marcante, assim como a estreia na Band, ao lado de Bira Valdez, lembrada com carinho por ter acontecido junto daquele que considera um ídolo. "O Bira me ensinou muita coisa. Viu em mim uma apresentadora muito antes de eu saber que tinha essa capacidade para isso", enfatiza, ao contar que fazer TV inicialmente não constituiu era uma meta profissional. No mesmo lugar, acabou por conhecer o marido, o jornalista Leonardo Meneghetti. "A gente trabalhava junto - eu era editora e ele, repórter - e pegava muito no pé um do outro. Acabou em casamento", recorda.
Compartilhar a mesma profissão, acredita Lúcia, deu ao casal maior compreensão sobre uma rotina bastante exigente, já que no jornalismo é comum o trabalho aos fins de semana e feriados. Também houve períodos em que pouco se encontravam devido ao trabalho até à noite dela e as coberturas esportivas dele. "É bom ter em casa alguém com que tu tem afinidade profissional. Passamos um domingo acompanhando a cobertura da manifestação em Paris (pós-atentado ao jornal Charlie Hebdo). Se não fosse jornalista, ninguém aguenta", relata, relação de companheirismo.
Hoje, diz que vive uma rotina mais tranquila, pois conseguiu concentrar as tarefas de trabalho nos turnos da tarde e início da noite, o quer permite ter as manhãs disponíveis para cuidar de si e aproveitar o tempo junto ao lado dos filhos Antônio e Valentim, de 12 e seis anos, respectivamente. Ficar em família, a propósito, é um de seus programas favoritos para curtir o tempo livre. Pode ser em casa, na praia, em Gramado, ainda em um jantar fora ou cinema.
Origens culturais
Com dois escritores na família, a mãe, Valesca de Assis, e o padrasto, Luiz Antonio de Assis Brasil - a quem chama de pai -, Lúcia teve a vida permeada pelas diversas formas de cultura desde o berço. Da infância, guarda memórias do bairro Petrópolis onde cresceu, da turma de amigas, das viagens à praia e também à Serra, em Canela, onde morava o avô. Como secretário municipal, Assis Brasil ajudou a implantar o Centro de Cultura Lupicínio Rodrigues, localizado na Avenida Erico Verissimo. Era para lá que, quando menina, seguia depois das aulas ou aos fins de semana e acompanhar os ensaios de peças teatrais. Outra boa lembrança remete às sessões de cinema nas antigas salas Bristol e Vogue, onde, na companhia do pai, assistia a filmes de arte.
Procura manter a mente aberta aos diferentes gêneros das artes. Por conta disso, o gosto musical é abrangente. "Acho que sempre tem que ver, ouvir, antes de falar. Quanto mais se conhecer, mais capacidade vai ter de julgar o que ouvir", afirma. Na Literatura, as obras mais lidas são de autores gaúchos, especialmente em razão do trabalho, pois, antes de entrevistar, procura conhecer mais sobre o trabalho de cada escritor. Reconhece que lê menos do que gostaria e conta que tem preferência por obras que tenham relação com a história, como romances históricos.
Há cerca de quatro anos, começou a fazer algumas experiências na cozinha, o que acredita ter se tornado mais um momento de prazer e relaxamento. Conta que vem tentando incluir os filhos nessa atividade e, recentemente, fizeram crepes de chocolate juntos. "Acho uma coisa legal, que une a família. Vejo como uma maneira de dar amor para as pessoas", explica.
Com equilíbrio
Assim como Bira Valdez, Claudio Tomas e Marta Campos, professores de rádio na faculdade, são lembrados como pessoas que lhe transmitiram grandes ensinamentos. A primeira lição remete ao valor do rádio, veículo sobre o qual se diz uma apaixonada. Já a segunda refere-se à importância do trabalho sério, do "fazer bem feito". De Assis Brasil, absorveu outro aprendizado que leva para o dia a dia da profissão: a necessidade da pesquisa aprofundada antes de qualquer entrevista. "Não quero fazer a pergunta: ?quantos livros tu lançou?? Eu é que tenho que informar. Tenho que ir muito além disso."
Como entrevistadores, revela admiração ao trabalho dos jornalistas Tânia Carvalho e Ruy Carlos Ostermann. "Apenas de ouvi-los entrevistar, eles me ensinaram muita coisa", argumenta, sem esquecer de citar o marido. "A Band ganhou um grande gestor, mas perdeu um baita repórter de campo." A dedicação também se traduz em elogios, muitas vezes vindos dos próprios entrevistados, como, em casos recentes, do maestro João Carlos Martins e do fotógrafo Sebastião Salgado. "Alguns entrevistados, de tão acostumados a dar muita entrevista, já vão cansados, porque se torna algo repetitivo. É muito bom quando a gente consegue surpreender", diz.
Organizada, a ponto de tornar-se perfeccionista e até exigir muito daqueles que a cercam, Lúcia considera que tem como virtude a capacidade de ouvir as pessoas, com atenção no que expressam. Define-se como uma pessoa que já foi muito mais ligada ao trabalho, mas cuja família mudou essa percepção. "Desde que meus filhos nasceram, minha família é minha prioridade." Hoje, ambos se complementam em um rotina mais equilibrada. "Sou muito feliz de poder conviver com eles e, ao mesmo tempo, manter a profissão que me dá tanto prazer. Venho trabalhar com alegria, acho que assim as coisas ficam bem mais leves."

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