Itamar Aguiar: Marcas da imagem

Na presidência da Arfoc, Itamar Aguiar se mostra fascinado pela fotografia e fala sobre suas conquistas e expectativas

Dedicação pode ser considerada uma palavra-chave na vida de Itamar Aguiar. Isso porque ele não consegue ser um "profissional mediano". Acredita que o comprometimento não pode vir em 70% ou 80%, que precisa se entregar completamente. Costumava ouvir do avô Francisco que, para tornar-se alguém, sua geração teria que dar não só o sangue, mas um pedaço da veia. Adotou a frase como regra. "Sempre entrei de cabeça nos projetos, nunca tive medo de tentar coisas novas, me posicionar, nunca fiquei em cima do muro", enfatiza. É com esse pensamento que, há quatro anos, exerce a presidência da Associação Brasileira de Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Rio Grande do Sul (Arfoc-RS).
Fascinado pela fotografia desde os tempos de criança, fez dela uma profissão bastante cedo. Hoje, aos 47 anos, soma pouco mais de três décadas de trabalho na área, sendo 13 anos dedicados ao fotojornalismo e os demais à fotografia social e corporativa. Tem passagens pelos jornais O Sul e Correio do Povo e atuação como repórter fotográfico na Comunicação Social do Palácio Piratini, nos governos de Germano Rigotto (2003-2006) e Yeda Crusius (2007-2011). Atualmente, trabalha como freelancer e desenvolve um projeto do livro fotográfico "A arte expressa na fé" - em fase de captação de recursos -, que irá reunir fotografias panorâmicas de catedrais, em cada uma das cidades-sede da Copa do Mundo de 2014.
A aproximação com a Arfoc aconteceu como associado, há pelo menos 13 anos, logo que começou a atuar no Grupo Sinos. Acreditando que podia contribuir com a causa da categoria, concorreu como tesoureiro em uma chapa e, num segundo mandato, passou a vice-presidente. Em 2008, assumiu a presidência pela primeira vez da entidade e se reelegeu no ano passado. Viveu a associação de diferentes lados e também viu momentos difíceis, "tempos em que se tirava dinheiro do bolso para pagar as contas, enquanto ficava esperando patrocínio", conta.
Todo o envolvimento com as demandas da entidade é visto por Itamar como algo natural. "Sempre tive grande carinho pela instituição e muito respeito pelos colegas. São pessoas que saem para trabalhar com 20 quilos de equipamento, deixam a família no sábado e no domingo; tudo por uma questão financeira que, às vezes não compensa", relata, ao reafirmar a crença na mudança.
Encanto que vem da infância
Natural de Porto Alegre, passou a infância e a juventude no bairro Belém Novo, na Zona Sul. Quando menino, tinha o costume de ir ao hipódromo na companhia do pai, José Vilarci Vieira de Aguiar (falecido), que era jóquei, e o passatempo preferido era observar o trabalho dos fotógrafos. É numa homenagem a ele, aliás, que José Itamar Rocha de Aguiar assina como Itamar Aguiar. "Meu pai era um grande repentista nas décadas de 1960 e 1970 e meu nome é basicamente uma rima", explica.
Já na adolescência, o jornalismo lhe chamava a atenção. Ajudava no armazém dos tios quando criou uma tática para ler o jornal primeiro que todos. Como no bairro onde morava a edição do dia chegava de ônibus, sempre em um horário aproximado, criou a estratégia de varrer a frente do estabelecimento na primeira hora da manhã para ter acesso ao disputado exemplar o mais breve possível. "Calculava o tempo que levava para varrer e quando o ônibus chegava estava ali, pronto para pegar o jornal", recorda.
"Lia que um time jogou no Rio (de Janeiro) e ficava pensando como aquela foto havia chegado ali", lembra. O gosto pela área foi alimentado ao longo dos anos e, ainda na época do ginásio (antigo Ensino Fundamental), comprou a primeira câmera, uma Praktica MTL 3, e aos 16 anos já fazia trabalhos profissionais, no segmento social. Hoje, compreende a fotografia como algo fantástico, capaz de levar o observador a muitos lugares e fatos inusitados, e considera que todo o repórter fotográfico deveria passar por uma redação, fazer de tudo um pouco, inclusive polícia. "Muito importante seria também que fizesse uma assessoria política, para ver o outro lado do balcão, conhecer todas as faces da imagem", completa.
Lembrar para sempre
Enquanto estudante de Jornalismo na Unisinos, resistiu às possibilidades de estágio devido à baixa remuneração, até que no último semestre de faculdade cedeu a um convite para integrar a equipe do Grupo Sinos. O primeiro dia de trabalho rendeu três pautas e duas fotos na capa da edição do dia seguinte. Nascia o fotojornalista.
Das pautas que cobriu, muitas foram as que deixaram marcas. Em uma delas, era véspera de Dia das Mães quando foi designado para registrar um acidente em uma vila. Uma criança de cerca de dois anos havia sido atropelada por um caminhão de lixo, que entrava de ré em uma rua estreita. O percurso foi difícil, o acesso ao local era crítico e a cena, quando relembrada, ainda o choca. "Todo o Dia das Mães, me lembro desse caso e penso no que passou aquela mãe, no que ela está pensando."
Em outra situação, ajudou a encontrar um grupo de pessoas que estavam perdidas em um incêndio em mata fechada. As vítimas protegeram-se em um clarão aberto em meio às árvores e foram localizadas pela lente do repórter fotográfico durante um voo no helicóptero da Brigada Militar. "Foi muito legal ver o alívio das famílias", recorda.
A chuva comprometeu a participação da então governadora Yeda Crusius em uma edição da Expointer, mas não impediu que a exposição rendesse belas fotos a Itamar. Enquanto os demais funcionários do Estado retornaram a Porto Alegre, decidiu permanecer para fazer alguns registros para a agência do governo. No dia seguinte, o churrasco de domingo foi interrompido por uma ligação de agradecimento da governadora, que afirmava que as fotos compensavam o tempo ruim e a sua ausência naquele período. O reconhecimento é lembrado com carinho por ele.
A origem de tudo
Da infância simples, "no interior de Belém Novo", como brinca, guarda na recordação as reuniões de família embaixo de uma figueira na casa dos avós, onde cerca de 30 familiares costumavam confraternizar sempre aos domingos. A serenidade do ambiente é marcante ainda hoje. "O máximo que se fazia era roubar uma melancia e convidar o vizinho para comer", compara.
Filho de José e da dona de casa Marlene Teresinha Rocha da Silva, emociona-se ao falar dos pais a quem se refere como pessoas muitos íntegras, e atribui à educação austera características pessoais como a coragem. "Se hoje não tenho medo de encarar a associação, certamente é pela criação que tive. Tenho certeza que eu não seria o homem que eu sou se não fosse a orientação deles", avalia. Caçula da família, orgulha-se da irmã, Marilene, a quem tem como exemplo de índole e comprometimento. Foi dela que partiu o incentivo para que cursasse a faculdade, retornando aos estudos aos 24 anos.
"Eu não me casei, ganhei na Mega Sena", exclama ao falar da esposa, a educadora Flávia Bernardon de Aguiar. Do relacionamento que dura há 16 anos, nasceu Antônia, de um ano e dois meses. "Ela veio para me fazer enxergar a importância de algo que eu já não tinha muito forte, que é estar com a família."
Pelas pessoas
Nos últimos tempos, o comportamento caseiro tem predominado no cotidiano do casal. A chegada de Antônia, após uma gestação difícil, uniu a família e aproximou amigos. Curtir a filha e a esposa está entre os principais momentos de lazer de Itamar. Como um bom gaúcho, adora fazer um churrasco, "quieto, com bastante tempo", ressalta. Madrugador nato, como se diz, começa cedo o dia. Não é difícil vê-lo de pé às 5h, revisando algum conteúdo do curso de inglês ou tocando alguma outra atividade. E quando isso não acontece é como se a rotina não começasse bem.
Gosta de músicas e artistas da MPB e dos anos 1980, como Titãs. A leitura fica concentrada basicamente em jornais e conteúdos referentes à fotografia. Da culinária gaúcha à comida japonesa, Itamar revela não ter grandes restrições quando o assunto é gastronomia. Quase exceção são as bebidas alcoólicas, que não lhe caem muito bem. Até gostaria de ter o hábito de apreciar o ritual de beber um bom vinho. Pegou dicas com os amigos, mas não teve jeito, acabou passando adiante as garrafas adquiridas com o objetivo.
A vontade de ajudar sempre fez parte de sua personalidade e, não por acaso, após o mandato na Arfoc, quer se dedicar a um trabalho voluntário. "Esse tempo que disponho para a associação, quero no futuro pôr num voluntariado. É algo que toda a pessoa deveria fazer um dia e tem muita gente boa precisando", explica. Confessa que algumas questões da categoria muitas vezes o entristecem, mas não deixa de vislumbrar as mudanças. "A arena não me assusta", afirma, como um bom lutador.
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