Marcelo Pacheco: Pioneirismo no sangue

Engenheiro eletrônico de formação, o executivo tem sede de conhecimento e comprova que a tecnologia veio para transformar

Franco Rodrigues / Glow Press

Marcelo Pacheco | Crédito: Franco Rodrigues
Por Gabriela Boesel
Aquele sonho de carreira que ele planejou na juventude, de ser um gerente sênior aos 30 anos, caiu por terra quando, aos 29, conquistou o cargo de diretor, função que imaginava exercer somente aos 40. Hoje, com 47, Marcelo Pacheco é vice-presidente de Mercado do Grupo RBS e os planos de ser "alguém importante" dentro de uma grande empresa quando atingisse a faixa dos 50 também foram adiantados. "As coisas foram acontecendo de forma acelerada", explica.
Entretanto, ele é consciente de que a rápida ascensão na profissão não foi acompanhada pelo seu emocional. "Não estava preparado para tanta pressão", justifica, ao lembrar o episódio em que um ex-chefe solicitou que preparasse um plano estratégico, e ele não sabia o fazer. "Fui à ESPM-SP, montei um super plano baseado nos livros. Quando apresentei, ele disse que estava impecável, porém muito acadêmico. E assim fui aprendendo."
Engenheiro de formação, inovador por paixão
Graduado em Engenharia Eletrônica na década de 90 pelo Instituto Mauá de Tecnologia, de São Paulo, o executivo, natural da metrópole, não imaginou que o rumo da sua vida seria outro. Telecomunicação, internet e inovação pautaram uma trajetória recheada de experiências pioneiras em diversas áreas. Porém confessa e se alegra ao contar que já foi "engenheiro de verdade". "Eu ia à Santa Efigênia, comprava componentes e montava placas. Não tinha a sofisticação de um produto industrializado, mas eu fazia as minhas coisas", relembra ao se referir à rua no centro da capital paulista conhecida pela grande quantidade de lojas de artigos eletrônicos.
Por outro lado, a veia comercial pulsava quase com a mesma intensidade, e a escolha pendeu para a segunda opção quando Pacheco deixou o mundo técnico pelo comercial, com uma perspectiva totalmente diferente. O primeiro trabalho foi quando a telefonia celular começou a ser introduzida no Brasil. Lembra que, não se identificava com a estrutura da organização na qual atuava. "Era uma empresa japonesa, super estratificada e hierarquizada. Achei aquilo um horror", pontua com seu forte sotaque paulista. Dois anos foram suficientes para decidir mudar de empego.
Das demais experiências, destaca somente lembranças boas. Como trainee no Unibanco, participou da primeira equipe que montou o sistema internet banking no País. Quatro anos e meio depois, um colega temporário que teve na instituição financeira o levou para a editora Abril, onde implantou o Abril.com, que caracteriza como a primeira área de internet em uma empresa de mídia. Foi nessa fase que começou a se apaixonar pela produção de conteúdo.
Além do conhecimento profissional, o grupo de comunicação lhe proporcionou um casamento, afinal, a coach Valeska Scartezini atuava no setor de Marketing de lá. Com um olhar que traduz carinho pela companheira, com quem convive há 13 anos, relembra a história de como se aproximaram: "Eu a achava bonita para caramba, mas ela tinha um namorado. Quando soube que tinham se separado, tivemos uma reunião juntos. Não tem jeito, tudo no mundo tem uma sincronia. A convidei para sair e o que era para ser um happy hour virou jantar e, hoje, estamos casados."
Busca e transformação
Ele já sabia tudo o que precisava de internet e de papel. A bola da vez era a televisão. Na experiência de oito anos na ESPN, ajudou a criar um canal de autodefinição, trouxe a primeira plataforma de vídeo on demand, criou uma operação de rádio com o jornal o Estado de S.Paulo e montou a revista ESPN Magazine. Ações postas em prática, já era tempo de buscar outros desafios. Dessa vez, era hora de aprender sobre plataformas e algoritmos, objetivo que alcançou nos dois anos em que trabalhou no Facebook.
O portfólio extenso e, ao mesmo tempo, intenso, foi suficiente para atrair a atenção do Grupo RBS que, por meio de uma empresa de head hunter, o chamou para trabalhar a organização midiática no Sul do País. "A recrutadora usou a palavra certa para me conquistar. Pois comecei a pensar que tudo o que eu havia aprendido poderia usar em uma empresa dita tradicional, a fim de transformá-la." Os cursos de negociação e de estratégia que fez na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, também contribuíram para a decisão. "Eu pirei quando estive lá, porque foi quando a coisa começou a me incomodar", afirma e acrescenta: "Vi que tinha um mundo lá fora com uma velocidade maior e eu precisava saber e entender o que estava acontecendo".
O conjunto de conhecimento, acredita, é fruto de dedicação, curiosidade e foco. "Tudo na vida é sorte e trabalho. Aliás, quanto mais eu trabalho, mais sorte eu tenho." Soma a isso, o esoterismo, doutrina herdada da mãe, Rosa Helena Pacheco Monzo, hoje com 76 anos, 30 deles dedicados à Astrologia. "Não assino nenhum contrato, não moro em nenhum lugar e não ponho nenhuma placa no meu carro se os números e demais informações não forem favoráveis a mim. Acredito nisso e deu certo até hoje", enfatiza.
A fórmula ideal
Esporte + terapia + meditação = equilíbrio. Passaram-se 20 anos até que Pacheco identificasse que esta era sua fórmula ideal para ter uma vida saudável. Com energia de sobra, somada à ansiedade quase exagerada, Hoje, o executivo tem plena consciência de que precisa manter estes três pilares no mesmo nível. "Se viajo uma semana e não vou à academia, já começo a sentir a diferença no corpo. O mesmo serve para a cabeça e para o emocional", pontua. E o equilíbrio reflete diretamente no trabalho. "Se a empresa me quer com todo esse gás, ela tem que me dar a liberdade para eu me cuidar", defende e adianta que, depois de um certo horário, em casa, não verifica as notificações no celular. "Não importa, eu não olho."
O esporte está na vida do executivo desde cedo, quando, ainda na escola, praticava vôlei, futebol e artes marciais. Mais tarde, aderiu á natação, à bicicleta, passou a correr e, neste ano, retornou às quadras de tênis. O palmeirense que, ao chegar no Rio Grande do Sul, adotou o Internacional como time, sinaliza que gosta mesmo é de praticar, e nem tanto de assistir.
Para dar mais equilíbrio, aponta algumas técnicas que o ajudam na concentração. Costuma trabalhar ao som das playlists Deep Foccus e Intense Studying do aplicativo Spotify. Criou, ainda, uma seleção com 21 músicas que diminuem ansiedade e que, segundo conta, aumentaram sua produtividade. "É a tecnologia nos ajudando a sermos mais produtivo". Aponta, entretanto, que, ao se tratar de preferências, adora rock, com destaque para bandas como Rolling Stones, U2, Frank Sinatra e Queen, em relação ao qual: "Freddy Mercury não deveria ter morrido".
Se o tema for literatura aprecia todos os gêneros e costuma ler livros em paralelo. No momento, está relendo uma obra sobre organizações exponenciais, iniciou a leitura do que retrata a história de Roberto Civita - presidente do Conselho de Administração e diretor editorial do Grupo Abril -, e lê "Queda de Gigantes", de Ken Follett.
Descobriu-se celíaco há 7 anos e, em razão da restrição, cuida bastante da alimentação. O problema é que, por ser descendente de italiano, não consegue viver sem comer pão, massa e pizza. "No começo foi difícil. Quando descobri, a primeira pergunta que fiz ao médico foi: "Doutor, em quanto tempo eu morro?"" Adaptado, atualmente seu prato preferido é risoto. Não se aventura na cozinha, mas declara que prepara uma lasanha de peito de peru com abobrinha, sem glúten e sem igual.
Sentindo-se em casa
Embora esta tenha sido a primeira vez que deixou São Paulo - sem contar o período de estudos no exterior - Pacheco garante que se sente em casa. Isso porque dos dois aos 13 anos de idade passou todos os finais de ano em Novo Hamburgo. O pai, Milton Monzo, falecido há oito anos, nasceu em São Paulo e morou na cidade do Vale do Rio dos Sinos até os 18 anos. O tio, por sua vez, adotou o município como casa. "Minha tia e meus primos seguem aqui, inclusive na mesma casa, então está tudo super familiar", conta.
Da infância, lembra bem como eram as férias de verão: de carro, desciam até o Sul, com direito a uma parada no Paraná ou em Santa Catarina. Dormiam uma noite e seguiam até Novo Hamburgo, onde passavam o Natal. Aproveitavam a época para visitar cidades como Bento Gonçalves, Caxias do Sul e Gramado. Na volta, o pit stop era no estado catarinense, onde ficavam uns dias para, então, retornarem para casa.
Ele e Valeska não têm filhos. Não por falta de vontade ou de tentativas. Como naturalmente o casal não obteve resultado, tentou, mais de uma vez, inseminação artificial, o que também sem sucesso. "Até que um dia, nós pensamos que tinha alguma coisa divina nos avisando que não poderíamos ter filhos, então paramos de tentar." Por conta disso, a dupla decidiu ter um estilo de vida diferenciado e, para o futuro, planeja viajar pelo mundo. "Podemos nos dar ao luxo de morar seis meses na França, depois outros seis meses na Espanha, por exemplo", divaga.
Num futuro não muito distante
Aproximar-se das universidades é um dos seus sonhos e adianta que vislumbra desenvolver um centro de excelência em alguma universidade. "Eu vi isso nos Estados Unidos e quero trazer para cá." A proposta, conforme explica, é doar seu tempo e não mais trabalhar.
Até o momento, sente-se realizado, pois crê que ajudou muita gente e fez muitas coisas e, hoje, realiza-se em ver a formação das pessoas. "Não tenho mais o que comprovar na minha carreira. Atualmente, vejo prazer em ajudar no desenvolvimento dos outros", analisa e projeta: "Quero ser um cara que as pessoas tenham vontade de abraçar".
Inquieto, animado e apaixonado pelo que faz, Pacheco garante que se dedica de corpo e alma. Seja em casa, no trabalho e no esporte, reconhece suas habilidades e as declara de forma convincente, sem parecer arrogante: "Sou verdadeiro. Se não gosto, fico na minha, se gosto eu acredito. E muito".

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