Marcos Piccoli: Constante busca de algo a mais

Ele é um homem simples, de bom coração e apaixonado pela esposa, pelos filhos gêmeos e pela Gastronomia

Marcos Piccoli, diretor do Grupo RSCom

Logo no começo da entrevista, o diretor do Grupo RSCom de Bento Gonçalves, Marcos Piccoli, diz que é um cidadão comum. Uma pessoa do bem, normal e pacato. Mas, conforme a conversa avança, descobre-se que ele não tem nada de pacato e que seus gostos são cheios de peculiaridades.

Ou será que, para você, é comum o hábito de praticar charcutaria natural - a arte de preparar a carne produzindo alimentos defumados, curados, inclusive, embutidos? E o hobby de catar cogumelos? Para Marcos, é uma diversão, já que gosta de tudo que é voltado à comida. "Somos loucos. Eu e meus amigos saímos às 4h da manhã, às vezes, para catar cogumelo. Eu adoro! Além disso, curto bastante fazer coppa e salame", compartilha.

Filho do meio da professora Maria da Graça Dytz Piccoli e do engenheiro civil e presidente do Grupo RSCom, Carlos Domingos Piccoli, é formado em Turismo pela PUCRS, em 2001. Tem especialização em Marketing pela FGV e diversos cursos voltados para Gestão de Rádio. Porém, apesar de ser apaixonado pela Gastronomia e de empreender em diferentes segmentos, atualmente está se especializando em Neuroestratégia e o Pensamento Transversal, na ESIC Business & Marketing School. Não é à toa que suas leituras são todas voltadas a essas áreas, consumindo informações direcionadas para Comunicação, Culinária, Inovação e Administração.

Amor pelos gêmeos

Nascido em Bento Gonçalves, em 14 de fevereiro de 1983, o marido da terapeuta ocupacional Miriam Tec conta que teve uma infância feliz, com muita pescaria, jogos de futebol na rua e brincadeiras com os amigos e os dois irmãos, Carlos Henrique e Marcelo. "Nós brincávamos bastante. Fazíamos guerra de bexiguinha, pedágios com os vizinhos, para ganharmos um dinheirinho. Estas coisas de criança. Era bem legal", alegra-se. 

Simpatizando com a filosofia espírita e considerando-se um cristão não praticante, revela que foi no Colégio Marista Aparecida, onde estudou quando criança e adolescente, que conheceu a esposa. "Fomos melhores amigos e confidentes por um tempo, até que a coisa desandou para eu gostar mais dela do que ela de mim. Até que um dia, ela tomou a iniciativa de dizer que não dava mais para sermos só amigos. Ficamos em uma festa e, desde então, nunca mais nos separamos."

Da relação de mais de 20 anos, nasceram os gêmeos Rafael e Vicente, de 6 anos. "Esta dupla está nos enlouquecendo com as aulas on-line", confidencia. A família se completa com a Mila, uma cadelinha da raça Shih-tzu, que foi resgatada de um canil, onde era matriz e foi bastante maltratada.

Nos finais de semana, a alegria da trupe é ir a Salgado, distrito industrial da cidade, onde grande parte da família de Miriam reside. "Lá, é quase nossa segunda casa. As crianças ficam mais livres para brincar com os priminhos, e tem criação de ovelha e açude", conta. As idas ao sítio no Rio das Antas são mais um dos programas favoritos da família, assim como o clube no Verão.

Como gosta de culinária, é ele quem pilota o fogão quando está em casa. Apesar de atuar em todas as frentes, a especialidade e prato favorito é o churrasco. A pescaria também é algo que não dispensa. Antes da pandemia, ia uma vez por ano à Argentina pescar. Atualmente, sempre que pode, vai a Santo Antônio da Patrulha fisgar um Dourado ou Trairão.

Onde costuma ir também, eventualmente, é a academia, mas confessa que frequenta por necessidade. Gosta mesmo de dar uma corrida pelo bairro e quer voltar a praticar natação, algo que está entre seus esportes favoritos. Se quando criança era comum jogar futebol, hoje, o gremista prefere mesmo é assistir aos jogos no conforto de casa, bebendo cerveja ou vinho. Contudo, assim que possível, quer levar os filhos para assistirem a um jogo na Arena, uma vez que um dos meninos "desgarrou" para o Inter, e o pai quer "recuperá-lo".

De lavador de pratos a diretor-executivo

No último ano de colégio, decidiu que iria para Califórnia melhorar o inglês. Então, embarcou com mais dois amigos, o Diego e o Frederico, rumo aos Estados Unidos, onde fizeram intercâmbio por um mês. Retornando ao Brasil, concluiu o Ensino Médio e decidiu que cursaria Turismo, já que queria algo que tivesse ligação com Gastronomia e Comunicação. Nesta época, morou em Porto Alegre com o irmão mais velho e estudou na PUCRS por dois anos, até decidir trancar o curso para fazer outro intercâmbio, desta vez de trabalho, novamente nos Estados Unidos. Na capital gaúcha, estagiou no Quality Tour Agência de Viagens e Turismo, e no Hotel Elevado.

Chegando em Vermont, em Burlington, nos Estados Unidos, trabalhou no Hotel Wyndham como lavador de pratos. "Eu era um pinto no lixo, pois estava na cozinha. O trabalho era duro e árduo, mas eu me dedicava porque gostava de estar ali naquele ambiente e, por muitas vezes, acabei ajudando no preparo de alimentos. O que me deu uma tremenda satisfação", recorda.

Foi uma experiência superbacana, em que dividia o quarto com quatro brasileiros e tinha contato com mais 20 pessoas de outras nacionalidades, as quais também estavam exercendo funções no Hotel como arrumadeira, camareira, mensageiro, garçom, lavador de pratos, entre outras. "Passados quatro meses, o gerente do hotel me ofereceu para fazer meu Green Card e ficar por lá, porém, como eu já havia comprado passagem para ir a Londres, declinei. Um dos meus maiores arrependimentos", lamenta.

Chegou na Terra da Rainha com cidadania italiana e inglês fluente, mas sem dinheiro e sem emprego. Passou um mês fazendo pequenos bicos até conseguir uma vaga como atendente de chapelaria no Hotel Savoy, onde encontrou muitos artistas, entre eles o músico Ozzy Osbourne. O que para Marcos foi um tremendo feito, já que, apesar de não ter preconceito com nenhum tipo de música, sempre gostou de ouvir Metal, como Iron Maiden, Pantera, Sepultura, etc. "Ganhei horrores de dinheiro lá. Uma média de 300 ou 400 libras por dia", lembra. Até receber um ultimato da esposa: "Ela me disse que ou eu voltava logo, ou poderia ficar para sempre lá. Voltei e não me arrependo", garante.

Mil e uma utilidades

Após terminar a faculdade, decidiu retornar para a terra natal. Trabalhando na empresa familiar, começou a fazer eventos para a Rádio SP3 até ser barrado pela gerente da emissora. Em uma reunião com o pai e o outro sócio do grupo, Fernando, ficou decidido que Marcos assumiria a gestão da rádio, na mesma época em que atuou como Diretor da Festa Nacional da Fenavinho, onde ficou por três gestões, de 2007 a 2009.

Com o falecimento de Fernando, assumiu a direção de todas as rádios do grupo. "Eu era operacional e respondia ao meu pai e ao outro sócio dele, o Antônio, que faleceu no início deste ano. Então, tive que assumir a gerência geral das rádios e ainda as áreas de Telefonia, TI e Engenharia", explica, revelando que foi um superaprendizado, rendendo a bagagem para poder tocar a empresa.

Hoje, diretor-executivo com foco em gestão, recorda que sua história na empresa familiar começou aos 10 anos, quando acompanhava o pai na organização e arrumava a mesa e os discos para os comunicadores da Rádio. Também era o "abridor oficial de cartas" para os locutores. Na adolescência, virou o responsável pelos serviços de banco.

Em sua trajetória, a veia empreendedora sempre esteve presente, tanto é que já teve negócios de papinha de criança, molho de pimenta e Clínica de Vacinação. Atualmente, também está à frente do Trinker Brew Pub, em Garibaldi, e está montando uma linha de pizzas gourmet para vender congeladas em supermercados. 

Sem firula nem frescura

Honesto, trabalhador, dedicado, sem firula e nem frescura, que gosta de estar entre a família e os amigos, assim se define. Entre as qualidades, destaca que é muito coração e que acredita nas pessoas. Já a ansiedade é apontada como defeito. Inquieto, está sempre em busca de algo a mais, seja um novo negócio ou uma nova operação na empresa. "Não digo nem ansiedade, mas uma megalomania, um histerismo de querer estar sempre fazendo algo novo. Acho isso um defeito, pois me tira tempo da família. Enfim, não consigo controlar", confessa.

Entre os planos, está o de profissionalizar a gestão do grupo e montar mais um negócio voltado ao setor de alimentação: churrascaria e parrilla, quem sabe? "Estou sempre pensando na empresa, em sair desta gestão paternalista para uma profissionalização. Então, penso muito nas pessoas, em valorizá-las pelo seu trabalho. Meritocracia. Sou muito justo."

Já entre os desejos pessoais, está investir nos filhos. "Meu projeto de vida pessoal é que eles sejam boas pessoas, educados, inteligentes e que consigam ter sucesso. Tudo o que eu puder fazer para isso, farei". Além disso, uma viagem ao Chile, com a esposa, e à Disney, com as crianças, também estão na agenda. "Agora, meu sonho mesmo é cozinhar um cordeiro na Patagônia, mas ainda estou longe de realizar", confessa.

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