Maria Augusta: Timidez e ousadia de mãos dadas

Publicitária, ela foi de estagiária à sócia de uma das principais agências do Estado, a extinta Nova Forma

Maria Augusta de Medeiros

Ela se descreve como uma pessoa curiosa, observadora e tímida. Maria Augusta de Medeiros, publicitária, quando questionada sobre quem é, responde: "Uma pessoa que fez terapia por mais de 20 anos para tentar descobrir quem era, e ganhou alta". Segundo conta, os amigos viviam perguntando: "Para que tanto tempo de terapia?". E ela, serenamente, argumentava: "Melhoria contínua, autoconhecimento e conhecimento". Sábias palavras de uma mulher que sempre fez da vida uma grande escola.

Curiosa, foi uma estudante entusiasmada. No colégio, seu foco era adquirir todo o conhecimento necessário para passar na Ufrgs. Apaixonada por Francês e aprendiz de Inglês e Italiano, sempre quis ser alfabetizada em várias línguas para conversar com todo mundo, literalmente. Na área da Comunicação, buscou ler sobre comportamento humano, analisar o mercado, os profissionais, as campanhas e as ações das agências para, desse modo, ter bagagem para formar seu próprio repertório. Além disso, é uma leitora voraz, desde livros direcionados à profissão, até aqueles mais leves, como a leitura da vez, 'A História Bizarra da Matemática'. Quanto à TV, não é uma telespectadora assídua, mas quando resolve assistir algo, prefere programas que saciem sua curiosidade, como 'O mundo visto de cima', que a cada episódio fala de um lugar diferente.

Observadora, enxergou as oportunidades que a vida lhe apresentou e agarrou-as com as duas mãos, como quando começou como estagiária, passou para Atendimento e depois sócia de uma das maiores agências de Publicidade do Estado, a extinta Nova Forma. Ou ainda, ao ser gerente de Marketing de grandes marcas, como Gang e Bettanin, e consultora da Band. Foi a observação também que a fez olhar para situações da vida, analisando e formando seu ponto de vista, valores e princípios. E a timidez, bom, essa não a impediu de nada, ao menos, profissionalmente. Ouvindo sua história, apesar do jeito quieto e discreto, é fácil concluir que Maria Augusta sempre foi ousada o suficiente para conquistar seus objetivos.

Ousadia para empreender

O objetivo mais recente - e por que não dizer o mais intrépido? - foi o de empreender. Em sua carreira, Maria Augusta já havia sido mídia, atendimento, sócia, consultora e gerente. Experiência não lhe faltava. Era chegado o momento de ser dona do seu próprio negócio. E foi assim que nasceu a Próximo Passo. "Para isso, fiz umas férias esquisitas, ausentando-me do trabalho todas as terças-feiras", conta. Enquanto todo mundo achava uma maluquice, certa de sua decisão, aproveitou para prototipar o escritório, pensando em como seria a relação com os fornecedores, o que ia entregar e o que não ia. "Empreender dá muito trabalho, as pessoas não têm noção. Tu tens que fazer absolutamente tudo", salienta.

Mas por que se chama Próximo Passo? "Aqui, de onde eu estou dando esta entrevista, tinha uns cartões-postais Keep Walking, do Whisky Johnnie Walker, com umas frases interessantes, e aquilo me remetia a um próximo passo." Maria Augusta, normalmente, entrava na vida das pessoas quando elas queriam dar um próximo passo, e isso foi desde sempre: "Quando eu era adolescente e as minhas amigas queriam tomar uma decisão, vinham falar comigo, eu era a amiga centrada". Por essas e outras, decidiu que a missão da sua empresa seria entrar na vida das pessoas quando elas quisessem fazer alguma transformação, pois disso ela entendia.

Onde tudo começou

Mas antes de darmos o próximo passo, vamos voltar no tempo. Como já mencionado, ainda no colégio, estava determinada a passar na federal e, por isso, saiu de São Francisco de Paula para estudar em Taquara, no 3º ano no Ensino Médio. Entretanto, um ano antes, começou a estudar por livros de cursinho de irmãs de amigas, todas as tardes. Naquela época, década de 1970, o segundo grau era profissionalizante. Ali, ela já dava sinais de que queria abraçar o mundo com sua curiosidade: "Decidi fazer dois cursos: Técnico em Contabilidade e Técnico em Nutrição e Dietética". Apesar de não seguir nenhum dos dois caminhos, a menina com sede de conhecimento nunca se arrependeu de nenhuma escolha, pois tudo era aprendizado.

A mais velha de cinco irmãos - são quatro mulheres e um homem - é muito apegada à família e adora se reunir com os demais herdeiros e os sobrinhos. Assim como a irmã mais nova, não tem filhos. Os pais, João Augusto de Medeiros, pecuarista, e Maria Gema Nunes de Medeiros, dona de casa, já são falecidos. Da infância, lembra que costumava ir à missa com a avó paterna: "Depois que ela faleceu, quando eu tinha 15, parei, só continuo dizendo que sou católica não praticante, mas tenho uma confiança numa energia superior".

A menina tímida do interior, aos 18 anos, pronta para encarar os desafios que fossem precisos para alcançar seu sonho, deixou a cidade e embarcou rumo a Porto Alegre, onde começou a rica trajetória no mundo da Comunicação.

Todos os caminhos levaram à Publicidade

Até decidir de uma vez por todas qual caminho profissional seguir, Maria Augusta teve um amor platônico por Arquitetura, paquerou as Relações Públicas, namorou Letras, ficou com o Jornalismo e casou mesmo foi com a Publicidade. A ideia de fazer a primeira opção foi abandonada assim que se deu conta de que viraria noites fazendo trabalhos de faculdade. RP surgiu porque sempre se considerou organizada, uma ótima habilidade para esta profissão. Mas quando prestou vestibular, passou mesmo foi em Letras, e pensou: "É bacana, vou fazer também e, no final do ano, faço vestibular para Comunicação". Não chegou a concluir o curso, assim como fez com o Jornalismo um tempo depois, mas não abandonou a faculdade. Estava perto de achar o caminho profissional que amaria.

Resumo da ópera: foi na Publicidade que se encontrou, curso no qual entrou em 1976. "Bom, aí fiz uma faculdade que eu não precisei virar noites e noites fazendo trabalhos, mas, em compensação, na agência, fiz exatamente isso planejando campanhas. Meu negócio era virar noites e noites e eu nem sabia", conta, achando graça. Essa passagem por vários cursos talvez pudesse ser nomeada de indecisão. Porém, no caso de Maria Augusta, era consequência do seu perfil curioso e da vontade de fazer e aprender sobre tudo. Vontade essa que fez ela se achar em uma carreira onde saber um pouco de tudo, de cada cliente, era o diferencial.

Da timidez ao Atendimento

Enquanto as colegas de faculdade estavam batendo de porta em porta buscando estágio, a timidez de Maria Augusta não a deixava fazer o mesmo. Um dia, uma colega brincou: "Tu achas que alguém vai bater na tua porta e dizer: 'Escuta, aqui tem uma guria que faz Publicidade, que quer fazer estágio, mas é meio tímida?'". E foi quase isso que aconteceu. Devido a um trabalho de faculdade, no qual era preciso criar um produto e sua campanha, a jovem precisou pedir ajuda a um amigo que sabia desenhar. Dessa forma, chegou até o cartunista Juska, que pediu que a colega fosse até a agência onde ele trabalhava para ajudá-la. Esta era a extinta Nova Forma, onde a então estudante começaria sua carreira, aprenderia quase tudo que sabe, tornaria-se sócia, casaria e teria uma trajetória de mais de 15 anos.

Quando lá começou, em 1984, não podia imaginar que viraria sócia. Mais uma oportunidade que não deixou escapar. O que aconteceu foi o seguinte: diante de proposta de sociedade de Tom Carvalho e Julio Ritter, Roberto Pintáude impôs uma condição: "Então, a Augusta vai ser sócia também. Ou é isso, ou não vai ter a sociedade. Ela vai ser a minha segurança psicológica". Esse foi o início de uma parceria que durou 10 anos.

Nesse meio-tempo, Pintaúde e Maria Augusta casaram e foi com a separação que a sociedade terminou também. A amizade continuou, mas havia chegado o momento de alçar novos voos. Aliás, vale destacar que o carinho e o respeito entre eles foram tão verdadeiros que, hoje em dia, ela é comunicadora da rádioweb e/ou, dirigida por Pintaúde, onde comanda o programa Plus de Soixante. Quando saiu da agência, foi pra Gang, depois virou consultora da Band e então gerente de Marketing da Bettanin, onde ficou de 1995 até 2007. "Comecei a ter aquela inquietação, sentir falta da diversidade de assuntos", relembra ao justificar que sentia falta do trabalho de agência com uma cartela variada de clientes e temáticas.

Após o breve período na Gang, mas antes da Band ou Bettanin, decidiu que era o momento para tirar um tempo só pra si e colocar as ideias no lugar: "Foram seis meses sabáticos", como ela intitula. Maria Augusta fez as malas e foi para a praia do Rosa, em Santa Catarina: "Tinha construído a minha casa lá. Saí no dia 27 de dezembro e fiquei todo o verão". Com a estação indo embora, em março, decidiu embarcar para a Inglaterra, a fim de desenferrujar seu inglês. Questionada se era fluente nas três línguas, incluindo sua paixão, o Francês, ela responde: "Não, eu me viro. O Francês é o que eu realmente tenho melhor domínio, mas compreendo muito bem e consigo me virar nas outras". Ao ser chamada de poliglota, corrige: "Poliglota, não. Meioglota".

Os momentos mais marcantes

Apaixonada pela profissão que escolheu, Maria Augusta tem muitas lembranças boas. A primeira vem da campanha que fez ainda na faculdade, e que lhe rendeu o primeiro emprego na Nova Forma. Seu grupo criou um um anticoncepcional para homens. Para isso, foram a campo fazer pesquisa pra ver se os meninos tomariam a pílula, e a embalagem era toda sofisticada. "Foi uma coisa muito divertida", relembra.

Em relação à trajetória, destaca que aprendeu tudo fazendo pela primeira vez, olhando o que acontecia fora, sendo observadora do que as pessoas e empresas fazem, o que dá certo e o que não dá. Sobre o período na Nova Forma, garante que foi uma história muito legal, porque trabalhou com gente muito boa, ganhou vários prêmios, os clientes tiveram muito resultado. "Os dois grandes cases foram a Gang e a loja Homem. Duas contas de varejo muito interessantes."

Da segunda, escolhe dois trabalhos nos quais teve papel fundamental. O primeiro foi a campanha 'O Homem de Vida Fácil' e o segundo, a ação de 15 anos da loja, que era 'A primeira noite de um homem'. "E essa é mais marcante porque eu era o atendimento. O Roberto (Pintaúde) estava viajando e, quando chegou, fomos apresentar a campanha, mas eu tinha a odiado, não achava digna da data. No caminho, avisei que tinha uma ideia, mas não dava tempo de mudar", detalha. Aconteceu que o cliente odiou a primeira proposta e eles "tiraram da cartola" a campanha pensada por ela. No fim, segundo conta, foi algo belíssimo, com direção do Jorge Furtado. "Achei linda porque foi um trabalho que reafirmou um julgamento meu", orgulha-se.

A publicitária fala com saudades do tempo em que sabia um pouco de tudo, devido à variedade de ramos dos clientes da agência: alimentos, imóveis, construção civil, joias, associações e etc. "Eu era muito jovem e sabia um pouco de tudo porque entrava na vida dos clientes e queria aprender como funcionava, e isso me dava um repertório para além da propaganda", frisa. Além do mais, sempre soube que não queria ser da Criação. "Tinha gente que fazia melhor do que eu isso. Mas, por outro lado, sempre quis preservar um pensamento criativo, inquieto. Acho que aquele ambiente que a Nova Forma tinha só fomentou isso". Maria Augusta tem razão. Sua experiência aflorou ainda mais habilidades que ela sempre teve, desde pequena: observação e curiosidade. E, sem ela perceber, ajudou-a a vencer sua timidez.

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